Rafael Bouchabki, Felipe Lourenço e Leonardo Berdu, fundadores da iClinic: startup foi criada em 2012 para oferecer um prontuário eletrônico digital aos médicos (iClinic/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 24 de julho de 2020 às 06h00.
Última atualização em 24 de julho de 2020 às 07h36.
O momento não poderia ser mais promissor para as healthtechs, startups especializadas na área de saúde. Durante a pandemia, soluções que facilitam a vida de médicos e pacientes tiveram espaço para crescer. Com a iClinic, não foi diferente. A startup brasileira, que oferece uma plataforma de gerenciamento de clínicas médicas, acabou de fechar a sua rodada de investimento série B com um cheque assinado pelo fundo para América Latina do conglomerado japonês SoftBank.
“Acreditamos que a iClinic é quem está melhor posicionada para liderar a digitalização do setor de saúde no Brasil, que se encontra em um ponto de inflexão na atual pandemia, afirma o diretor do SoftBank Group International, Felipe Rodrigues Affonso.
O valor aportado não foi divulgado pela empresa, mas este não é o primeiro investimento que a startup recebe. Em janeiro de 2018, a iClinic havia recebido um aporte da família Moll, da rede Rede D'Or São Luiz. Com o capital, nos últimos 24 meses, a startup comprou três empresas, uma delas foi divisão brasileira da indiana Practo, que oferece um software de gestão e agendamento online.
Com o cheque da rodada com o SoftBank, a empresa irá investir na melhoria dos seus produtos. Depois, irá entrar em novas frentes de negócio, como o mercado de serviços de pagamentos, com soluções de crédito e investimento. Outro setor no qual a startup aposta é educação. “Queremos utilizar a plataforma para distribuir conteúdo de negócios para os clientes”, diz Felipe Lourenço, fundador e presidente da iClinic.
Além disso, a healthtech planeja a criação de um marketplace voltado para pacientes e médicos. O objetivo é que o paciente saia da consulta e já consiga marcar seus exames e comprar remédios no ambiente digital. Na outra ponta, os médicos poderiam comprar suprimentos diretamente com os fornecedores do mercado de saúde.
Essa expansão para a além do universo de software como serviço é uma forma de aumentar o potencial de crescimento da startup e ainda gerar valor com o gerenciamento de um número maior de dados sobre o ecossistema de saúde. Hoje, 23.000 médicos, em mais de 750 cidades do país, utilizam a plataforma da iClinic para atender seus pacientes.
Para ampliar a base de usuários, a startup planeja uma nova rodada de aquisições de empresas. Lourenço acredita que o mercado de software para clínicas médicas irá se consolidar nos próximos anos e quer posicionar a iClinic entre as vencedoras do processo. “Fizemos esses três primeiros testes com aquisições e achamos que agora é o momento de escalar”, diz o presidente.
Em maio, a adquirente Stone anunciou a compra da startup Vitta, dona de um software de gestão de clínicas médicas concorrente ao da iClinic.
A iClinic foi criada em 2012 pelos sócios Rafael Bouchabki, Felipe Lourenço e Leonardo Berdu. Lourenço, recém formado pela Universidade de São Paulo em informática biomédica, teve a ideia para a empresa enquanto analisava as pequenas e médias clínicas médicas, que ainda realizavam a gestão empresarial com papel ou softwares antigos.
Junto com seus dois colegas de moradia, decidiu criar a iClinic para ser uma solução completa para a gestão médica. O primeiro serviço oferecido pela empresa foi o de prontuário eletrônico. Com ele, a startup foi selecionada para um programa de aceleração de 10 meses da holandesa RockStar Accelerator.
A partir da aceleração, os sócios foram refinando sua visão de negócio. Aos poucos, o prontuário eletrônico ganhou o serviço de agenda, de sistema de controle financeiro, de faturamento com o plano de saúde e de comunicação com o paciente. A última novidade adicionada foi a telemedicina, liberada pelas autoridades brasileiras durante a pandemia.
Na crise, 40% da base da iClinic passou a utilizar os serviços de telemedicina. Ao todo, 10% de todos os atendimentos feitos pela plataforma hoje são remotos e duram, em média, 30 minutos. Os sócios dizem que a adoção tem sido tão positiva que eles duvidam que as autoridades retirem a autorização desse tipo de atendimento no pós-pandemia. “A telemedicina é um caminho sem volta”, diz Lourenço.
O modelo de assinatura é flexível, então cada médico pode assinar somente a ferramenta que o interessa. A versão mais básica, apenas com o prontuário eletrônico, custa 79 reais por mês por médico. Com todas as outras soluções, a assinatura da plataforma chega a 350 reais mensais. Lourenço afirma que essa diferença nos planos permite que a iClinic cresça de faturamento sem precisar aumentar o número de clientes. “Oferecendo nossos produtos para os médicos clientes, temos potencial de triplicar a empresa”, diz o fundador.
Após três anos dobrando o tamanho da empresa, os sócios da iClinic estão confiantes de que o negócio vai crescer mais de 120% em 2020 em relação a 2019. Só na comparação entre abril, maio e junho, o crescimento foi de 400%. “Nos próximos 2 anos e meio, queremos ter 100.000 clientes. A meta é terminar 2020 com um terço desse número”, diz Lourenço.
Para conseguir chegar a novos médicos, a empresa investe em aquisição de clientes. Nos últimos meses, um time próprio de venda direta começou a operar em quatro cidades do país apresentando a plataforma para potenciais clientes. Com o aporte, o plano é levar essa estratégia de vendas para mais cidades. Só em junho, novas 1.200 clínicas entraram para a base da iClinic.
Atualmente, a empresa tem 110 funcionários divididos entre os escritórios de Ribeirão Preto e São Paulo. Até dezembro, o objetivo é aumentar o time para 200 pessoas e, em 2021, terminar o ano com 350 empregados. Na frente de aquisições, os planos também são agressivos. A startup hoje tem 16 alvos mapeados e pretende fechar negócio com pelo menos três empresas até dezembro deste ano.
Segundo Lourenço, o principal desafio agora é encontrar profissionais competentes para integrar o time de tecnologia da companhia, que terá bastante trabalho pela frente.