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Como o câmbio pode afetar as pequenas e médias em 2011

Medidas do governo em relação ao câmbio não devem ameaçar a prosperidade das importadoras, mas tampouco remediarão falta de competitividade das exportadoras

Notas de dólar (Patrick Lin/AFP)
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Da Redação

Publicado em 13 de janeiro de 2011 às 15h35.

São Paulo - O ano de 2011 começou com um compromisso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo tomará providências para frear a queda do dólar em relação ao real, medida ansiada pelas pequenas e médias exportadoras que há mais de meia década sofrem com a perda de competitividade no mercado internacional.

Mas se por um lado o dólar fraco castiga os empresários que tentam alavancar suas exportações, medidas que desvalorizem o real frente à moeda americana podem prejudicar os importadores, que vêm surfando na onda do câmbio favorável nos últimos anos.

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De acordo com dados compilados pela Associação  de  Comércio  Exterior  do  Brasil  (AEB), o número de empresas brasileiras exportadoras caiu de 28,8 mil em 2007 para 19 mil em 2010. Em contrapartida, o total de empresas importadoras subiu de 28,9 mil para 39 mil no mesmo período.

Embora os especialistas não vislumbrem grandes alterações no cenário em curto prazo, a questão exige atenção dos empresários que dependem do comércio exterior, tanto na importação quanto na exportação de produtos e serviços.

“A tendência é que o dólar continue se desvalorizando, mas o governo está muito atento a esse questão”, ressalta o professor de comércio exterior da FGV-EAESP, Evaldo Alves.

Importação

Para as pequenas e médias importadoras, o prognóstico é animador, já que elas foram as que mais se beneficiaram com a desvalorização do dólar ao longo dos últimos anos.

A trading EMIT Brasil é um exemplo claro deste fenômeno. Criada por dois egressos da FGV-EAESP em 2004, a companhia entrou no mercado com o intuito de exportar. “Decidimos abrir a empresa vislumbrando que o Brasil seria um grande exportador mundial, como hoje é a China”, conta Luiz Guilherme Bueno, um dos sócios da empresa.

Mas logo Bueno e seu sócio perceberam que os ventos sopravam em outra direção. “Quando toda vez que você faz uma venda, o preço que paga para trazer o produto é menor do que o previsto inicialmente, e as margens sempre são maiores do que as esperadas, é inevitável voltar todos os esforços para a importação”, justifica.

No seu primeiro ano de vida, 80% da receita da companhia se concentrava em exportações. Hoje, 90% do faturamento, que chegou a 7 milhões de reais em 2010, é proveniente de importações. A principal atividade da trading é fornecer equipamentos trazidos da China para atender o setor de construção civil. “Entendemos que, para crescer, o Brasil ainda terá que importar muito”, opina Bueno.

Embora o ciclo de prosperidade não esteja ameaçado de imediato, os especialistas recomendam cautela. “É importante ficar atento, pois a queda do dólar não vai ocorrer de forma tão acentuada como no passado”, alerta Alves, da FGV-EAESP.

Exportação

Já do lado das exportadoras, as perspectivas de um câmbio um pouco menos desfavorável são bem-vindas, mas passam longe de solucionar o problema. “Esperamos um leve desvalorização do real, mas não será o suficiente para ter efeito nas exportações  Uma pequena medida, como estancar o sangramento, não resolve o problema”, afirma Waldemar Masselli, vice-presidente da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos).

Como todos os exportadores do setor manufatureiro, a indústria calçadista  perdeu terreno no mercado internacional para os asiáticos, que oferecem preços bem mais competitivos. A alternativa foi apelar para diferenciais como design e tecnologia. “O que vem para cá hoje são pedidos menores, que os asiáticos não pegariam porque é muito pequeno ou muito detalhado”, relata Masselli. A previsão de crescimento das exportações do setor para  este ano é de apenas 1%.


Para os especialistas, as medidas de controle do câmbio sinalizadas pelo governo não passarão de um paliativo. “Ajuda, mas definitivamente não resolve. O que precisamos é de mudanças estruturais - reformas tributarias, redução de custo e melhoria de infra-estrutura, reformulação da legislação trabalhista”, avalia José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB.

De acordo com o executivo, o peso do “custo Brasil” recai principalmente sobre as pequenas e médias empresas exportadoras. “A burocracia é muito grande. Se até a grande empresa reclama, imagine a pequena. Elas pagam mais caro na matéria prima porque compram menos, têm menos atrativos para reter a mão de obra qualificada e são menos estruturados do ponto de vista comercial e administrativo. É muito difícil ser competitivo em relação aos grandes, que dirá aos asiáticos”, destaca Castro.

O resultado é que embora numericamente sejam a maioria, representando 90% do universo de 19 mil empresas exportadoras em 2010, as pequenas e médias não chegam a responder por 10% do total das exportações brasileiras, que superaram 200 bilhões de dólares no ano passado.

“É fundamental que a pequena empresa brasileira volte a ser competitiva no exterior, até porque o mercado brasileiro não é só das brasileiras. Os emergentes estão na crista da onda e os estrangeiros inevitavelmente virão aqui competir”, observa Olavo Henrique Furtado, coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios.

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