Com entrada nos EUA e foco em segurança, Inloco muda a marca para Incognia
Depois de vender seu braço de publicidade para o Magazine Luiza, a startup de Recife foca em segurança digital para expandir internacionalmente
Carolina Ingizza
Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 15h30.
Menos de um ano depois de vender seu braço de publicidade para o Magazine Luiza, a empresa de tecnologia Inloco , de Recife, anuncia a mudança de sua marca para Incognia. O novo nome consolida o processo de mudança de modelo de negócio da companhia, que passou a focar em produtos de identidade e segurança digital desde o começo da pandemia .
Incognia era o nome que a Inloco dava à sua frente de segurança digital, que usa os padrões de geolocalização dos usuários como chave de identificação. Ao decidir concentrar seus esforços somente nesse produto, a empresa percebeu que seria mais fácil deixar para trás a antiga marca.
Nova aposta
A tecnologia de segurança e identidade digital da Incognia começou a ser construída com o aporte de 20 milhões de dólares que a empresa recebeu em junho de 2019, liderado pelo fundo americano Valor Capital e pelo brasileiro Unbox Capital, da família Trajano, do Magazine Luiza.
A identidade digital da empresa foi pensada para substituir a necessidade de login e senha para autenticar pessoas. Ela mapeia o comportamento do usuário no smartphone de forma anônima e cria uma identidade com base no seu padrão de deslocamento.
Hoje, o produto é utilizado em três frentes por bancos, apps de delivery, e-commerce e carteiras digitais. A primeira é para facilitar o processo de abertura de contas. Em vez de o cliente precisar enviar um comprovante de residência, ele só precisa ativar a localização do smartphone para validar o endereço informado. Segundo André Ferraz, fundador e presidente da companhia, a simplificação no processo aumentou o volume de aberturas de cadastros em até 20% nas empresas que adotaram a solução.
O segundo tipo de uso é para facilitar o login durante compras online ou transações financeiras.Segundo a empresa, 30% dos clientes desistem da compra quando são obrigados a comprovar a identidade.Com o histórico de geolocalização do usuário, a Incognia sabe se a pessoa que está efetuando a transação é a mesma cadastrada ou não. “Mais de 90% das transações acontecem de um local seguro para o usuário, como a casa ou trabalho — nessas situações, a empresa não precisa exigir senha ou comprovante de biometria ao cliente”, diz Ferraz.
O serviço também evita fraudes, já que a startup consegue avaliar se o dispositivo de acesso já foi utilizado em outros esquemas e se está em uma região não frequentada pelo usuário cadastrado. “Conseguimos, em média, uma redução de 70% nos roubos de conta”, diz o cofundador.
Hoje, são cerca de 10 grandes empresas usando o serviço no Brasil, Estados Unidos, México e Colômbia — só no Brasil, são mais de 70 milhões de dispositivos monitorados. A cada transação avaliada para as empresas clientes, a Incognia recebe alguns centavos.
Trajetória da empresa
A startup nasceu em 2014 de um projeto de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife. O fundador estava empenhado em criar ferramentas que permitissem a “internet das coisas”, modelo em que os dispositivos pessoais estariam conectados entre si e realizando tarefas de forma autônoma. Para isso, ele começou a desenvolver tecnologias de geolocalização e ferramentas de segurança digital.
Para poder financiar suas pesquisas, a startup precisou abraçar outros mercados, como a publicidade. Ela criou um sistema que manda notificações push quando as pessoas passam perto de estabelecimentos das empresas clientes. A estratégia deu certo. Em 2016, a Inloco Media já era avaliada em 50 milhões de reais e tinha escritórios em Nova York, Berlim e Londres.
Em 2020, com a pandemia forçando uma queda na circulação de pessoas pela cidade, o negócio sofreu. Por isso, quando o Magazine Luiza, que era cliente da ferramenta de mídia há alguns anos, demonstrou interesse em adquirir o produto, a startup decidiu que era hora de vendê-lo e focar na sua solução de segurança digital.
Segundo Ferraz, o valor de mercado de 90 milhões de dólares que a Inloco tinha no começo de 2020 caiu com a pandemia e a venda da divisão para o Magalu, mas hoje já foi recuperado.Para 2021, a meta do fundador é multiplicar por dez a receita mensal da companhia, explorando, principalmente, o mercado americano, que deve passar a corresponder por 35% do faturamento da empresa até o final do ano — hoje representa menos de 10%.