Preços das máscaras subiram mais de 20 vezes (Natalia Fedosenko/Getty Images)
Juliana Estigarribia
Publicado em 25 de maio de 2020 às 10h23.
Última atualização em 25 de maio de 2020 às 16h26.
Os dentistas estão no topo da classificação de risco de contaminação pela covid-19, uma vez que o vírus se propaga principalmente através de gotículas de saliva. Para proteger funcionários e pacientes, as clínicas odontológicas estão elevando as compras de equipamentos de proteção individual (EPIs), mas os preços de alguns itens básicos, como máscaras e luvas, registraram alta de mais de 2.000% durante a pandemia.
Os aumentos verificados pelas redes de clínicas de odontologia ocorrem justamente em um momento de queda da receita, uma vez que os procedimentos eletivos - que não são urgentes - estão sendo cancelados.
“Deixamos de realizar procedimentos eletivos como implantes e aparelhos ortodônticos na pandemia. Com isso, os atendimentos caíram até 90% para alguns franqueados”, afirma Lucas Romi, sócio da Odontoclinic. Com cerca de 200 unidades no país, a rede registrou uma queda de 30% do faturamento no primeiro trimestre.
Além dos itens que os dentistas usam normalmente, a rede passou a comprar a máscara N-95, avental específico e máscaras de proteção de acrílico - chamadas face shield - para o atendimento.
Romi relata que, na pandemia, a máscara cirúrgica simples, que antes custava 40 centavos de real, passou a custar 3,50 reais cada. “É um aumento de custo enorme para o franqueado, mas não dá para não usar, é uma questão de saúde e proteção.”
A rede de clínicas Sorridents, com 360 unidades no país, chegou a pagar seis vezes mais pelas caixas de máscaras cirúrgicas e cinco vezes mais pelo avental de proteção depois do início da pandemia do novo coronavírus.
“O cuidado com a biossegurança é uma lição que os dentistas aprendem desde as primeiras aulas na faculdade. Ele atende pacientes muito mais paramentado do que outros profissionais de saúde, mas mesmo assim elevamos o consumo de EPIs nessa pandemia”, afirma Cléber Soares, vice-presidente da Sorridents.
Com a explosão da demanda por itens de proteção hospitalar no mundo todo, ficou difícil até importar itens como máscaras e luvas no Brasil, uma vez que os estoques sumiram do mercado. O aumento exponencial do dólar também elevou os custos das clínicas.
“Optamos por não repassar o aumento de custos ao consumidor final. Em 25 anos de história da rede, nunca passamos por uma situação assim. Essa é a crise das portas fechadas, nem em períodos de guerra o setor produtivo para”, diz Soares.
A rede Odontocompany, com 700 unidades no país, registrou alta de até 500% no custo de EPIS. O kit de 50 pares de luvas, que antes custava 17 reais, agora não sai por menos de 50 reais.
O aumento da demanda por itens de segurança, como álcool em gel e sapatilhas de proteção para locais dos procedimentos, acontece num momento em que os atendimentos da rede caíram pela metade.
“Seguimos com o nosso planejamento estratégico para o ano, mas agora prevendo uma diminuição de 20% no faturamento”, diz Paulo Zahr, presidente da Odontocompany.
A rede de clínicas odontológicas Ortocia, com 10 unidades, verificou um aumento de mais de 20 vezes no preço da caixa de máscaras cirúrgicas e 250% de reajuste na máscara face shield, além de altas significativas nos mais variados tipos de álcool.
“O aumento de custos depende basicamente do volume de atendimento de cada unidade, mas no geral os reajustes em EPIs foram brutais na pandemia”, afirma Alexandre Koga, sócio da rede.
O empresário alerta para a importância da pesquisa de preços, uma vez que a diferença no mercado está muito grande. “Alguns fornecedores estão cobrando o dobro de outros. Pesquisar preços também se tornou um trabalho imprescindível nessa pandemia.”
Uma importante parcela dos franqueados de clínicas odontológicas é formada por empreendedores de primeira viagem. Neste sentido, o apoio das redes tem sido fundamental para evitar problemas jurídicos e o colapso do caixa das unidades.
Na quarentena, a Sorridents lançou o serviço de teleodontologia para evitar idas desnecessárias ao consultório ou a hospitais. A rede também renegociou taxas do cartão corporativo da marca e colocou o departamento jurídico à disposição dos franqueados. A companhia está orientando para a renegociação com fornecedores e de aluguéis dos imóveis.
O VP da rede reforça que os franqueados continuam com demanda mesmo nesta crise, por se tratar de um serviço essencial. “Esta pandemia evidenciou a resiliência dos negócios de saúde e o investimento na área se mostra acertado."
A Odontoclinic colocou a equipe de expansão para orientar franqueados na renegociação de aluguéis, além de prover orientações detalhadas sobre as medidas do governo para jornada de trabalho e folha de pagamento.
“Precisamos estar bem próximos do pequeno empreendedor, fazemos lives com os franqueados todos os dias. Desde a primeira fase da pandemia, este engajamento tem sido muito importante”, afirma Romi.
A Ortocia resolveu reduzir em 50% os royalties para os franqueados durante os próximos três meses, com parcelamento até o final do ano. Além disso, a rede está promovendo palestras online sobre renegociação de dívidas, prorrogação de débitos junto à União e treinamentos diversos, como fidelização de pacientes na crise.
“Neste momento, o mais importante é a saúde dos nossos funcionários e pacientes, mas orientar o empreendedor nessa crise também é uma grande prioridade, pois daqui para frente ele vai precisar do apoio da rede mais do que nunca”, afirma Koga.
A Odontocompany também lançou nas últimas semanas o serviço de teleodontologia, uma espécie de triagem prévia e remota, via telefone, whatsapp ou videochamada, em que o dentista orienta sobre a necessidade de consulta presencial ou não.
Além disso, a rede aumentou o serviço de consultoria para que o franqueado não precise recorrer a empréstimos financeiros. Intensificou treinamentos online e negociou com fornecedores homologados um prazo de 90 dias para pagamento de qualquer débito pendente.
“As medidas têm como foco assegurar a rentabilidade do negócio, prevendo uma diminuição do número de atendimentos, embora a área seja considerada essencial”, afirma Zahr.