Reabertura de restaurantes em São Paulo. (Germano Lüders/Exame)
Carolina Ingizza
Publicado em 6 de julho de 2020 às 14h46.
Última atualização em 6 de julho de 2020 às 14h55.
A cidade de São Paulo permitiu nesta segunda-feira, 6, a reabertura de bares e restaurantes. A prefeitura justificou o movimento por afirmar que a capital está com estabilização no crescimento de casos da covid-19, com a doença se interiorizando, e lotação de UTIs abaixo de 70%. A reabertura vem com investimentos para conter o avanço do vírus e também com o temor dos estabelecimentos quanto a prejuízos pela falta de clientes
O município estabeleceu que os bares e restaurantes só podem operar seis horas por dias, das 11h às 17h, e com 40% da capacidade, obedecendo a regra de distanciamento de pelo menos dois metros entre cada mesa. Outra exigência será de “ambiente arejado” e uso obrigatório de máscaras por clientes e funcionários.
Nessa primeira fase, os estabelecimentos não poderão manter as mesas na calçada, conforme determinou o prefeito Bruno Covas no último sábado, 4. A medida, que surpreendeu o comércio local, veio após a cidade do Rio de Janeiro reabrir os bares e restaurantes na quinta-feira, 2, e registrar casos de aglomeração de pessoas em algumas ruas de bares e restaurantes do Leblon, na zona Sul.
Diante dessas regras, mais de 50% dos bares e restaurantes não devem abrir nesta primeira semana, segundo informa Percival Maricato, presidente da Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP).
Ele acredita que, aos poucos, a depender do sucesso da reabertura esta semana, os outros empresários do setor se sintam seguros para voltar. “Metade deles está observando para ver o que vai acontecer. Há fragilidade econômica de empresários e de clientes”, diz Maricato.
Bruno Bocchese, dono dos bares Cama de Gato e Fel, no Centro de São Paulo, é um dos empresários que decidiu não reabrir de imediato. O horário limitado dificulta sua operação, que é predominantemente noturna. O empresário teme também que o público ainda não esteja se sentindo confortável para retornar, o que poderia resultar em mais prejuízo. “Se meus custos fixos fechado são altos, aberto são maiores ainda", diz. Enquanto isso, ele faz os ajustes físicos necessários para reabertura e aguarda.
Maria Tereza Pereira Dias, proprietária do restaurante Espaço Hibisco, na Vila Olímpia, também faz os ajustes no ambiente enquanto aguarda um sinal de retorno da clientela. O estabelecimento opera no horário de almoço em um modelo de self-service, então a dona já providenciou barreiras salivares para o buffet e placas de acrílico para dividir as mesas. Mesmo com os ajustes prontos, ela ainda depende do fluxo de pessoas nos escritórios corporativos para poder funcionar. “Sei que um escritório grande deve retomar no começo de agosto. Com eles voltando, posso abrir também”, diz a empresária.
Para os bares e restaurantes que decidiram reabrir já, a expectativa é de prejuízo nos primeiros dias. As adequações de segurança têm custo alto e o faturamento tende a ser menor, por causa das restrições de público dentro do salão. “Vale a pena o investimento para treinar os funcionários, recuperar os clientes e refazer o estoque”, diz o presidente da Abrasel.
Nikolaos Loukopoulos, dos restaurantes Athenas, na rua Augusta, aposta nisso. A partir de hoje, ele reabre as operações à la carte e to go, para ver como será o movimento dos clientes. Nos últimos meses, as casas ficaram fechadas, com os 200 funcionários em casa. Na última semana, de olho na reabertura, uma operação de delivery foi iniciada, para funcionar de modo complementar ao cardápio reformulado do restaurante. “Acho que teremos prejuízo sim, a questão é de quanto. Vamos monitorar no dia a dia”, diz o proprietário.
Na rede de hamburguerias Bullguer, a expectativa é a mesma. Todas as 15 unidades de São Paulo reabrem nesta segunda-feira, seguindo os protocolos de distanciamento da prefeitura. “A gente acredita que a retomada deva ser gradual, os salões não devem ficar lotados imediatamente”, diz Alberto Abbondanza, sócio-fundador da rede. Enquanto o fluxo dos salões não for normalizado, a operação de delivery, que cresceu mais de duas vezes em faturamento nos últimos quatro meses, irá compensar os custos da reabertura.
Já o bar O Pasquim, na Vila Madalena, aposta em uma conceito inusitado para atrair os consumidores de volta. Com só 80 dos 240 lugares do salão disponíveis, o proprietário Humberto Munhoz decidiu criar o Bar Office. A partir de quarta-feira, seguindo os protocolos de reabertura, o bar irá oferecer wi-fi, café, cerveja e água à vontade para os clientes por um preço fixo de 49,90 reais. Os custos de seis horas de cerveja são maiores que esse, mas a iniciativa é simbólica para atrair pessoas para o bar.
“Vamos criar alternativas que diminuam o prejuízo. Esse começo da retomada é doloroso, vamos perder dinheiro agora, mas se não dermos esse passo, não chegaremos do outro lado”, diz Munhoz.