Miguel Pierre, da Escola Concretta (Cristiano Mariz / EXAME PME)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2014 às 14h16.
São Paulo - O administrador Miguel Pierre, de 33 anos, é um aprendiz de faz-tudo — pelo menos na teoria. Ele faz questão de revisar pessoalmente todas as apostilas utilizadas na Escola Concretta, rede de ensino profissionalizante que fundou com o engenheiro Sidney Bezerra, de 47 anos, em 2012.
Com sede em Brasília, a Escola Concretta possui 21 unidades em 14 estados e no Distrito Federal. São mais de 10.000 alunos, contando os já formados e os atualmente inscritos. As mensalidades dos cursos para aprender os fundamentos de profissões como pintor, pedreiro e mestre de obras giram em torno de 150 reais.
“Boa parte das turmas é formada por pessoas que querem conquistar seu primeiro emprego”, diz Pierre. “Os cursos duram cerca de dez meses e cabem no bolso de quem ainda não está bem estabelecido.”
Em 2013, a Escola Concretta faturou 18 milhões de reais, mais do que o triplo do ano anterior. Neste ano, a expectativa de Pierre é que as receitas cheguem a 35 milhões de reais. O otimismo se deve à falta de profissionais na área da construção civil.
No fim do ano passado, 74% das companhias do setor apontavam ter dificuldades na contratação e na retenção de mão de obra, segundo uma sondagem feita pela Confederação Nacional da Indústria em parceria com a Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil. “O apagão de pessoas é um problema crônico que tentamos ajudar a resolver por meio da capacitação de novos profissionais”, diz Pierre.
Algo em torno de 10% das receitas da Escola Concretta vêm de treinamentos oferecidos a funcionários de empresas como Queiroz Galvão, Odebrecht e MRV. “São cursos de até três meses, cujo objetivo é aumentar a produtividade da mão de obra”, diz Pierre.
Recentemente, Pierre e seu sócio começaram a pensar em ampliar a atuação criando novos cursos para os alunos que já conhecem a rede. A ideia surgiu depois que uma pesquisa interna da escola revelou um aparente paradoxo. Embora quase metade dos alunos tenha computador em casa, 70% deles afirmaram que não têm conhecimentos básicos de informática.
“Muitos compram computadores para os filhos e acham complicado demais usá-los”, diz Pierre. Na mesma pesquisa, 80% dos alunos disseram estar dispostos a pagar por um curso de informática.
No futuro, Pierre e Bezerra acreditam que a Escola Concretta poderá oferecer também alguns cursos profissionalizantes na modalidade de ensino a distância, como aulas online para formação básica de atendente de telemarketing, por exemplo. A vantagem é ampliar o público-alvo da empresa — já que os novos cursos podem interessar a quem não pensa em trabalhar com construção civil.
Por outro lado, a dupla receia que as novidades descaracterizem o foco da rede. “A forte concorrência entre os cursos de informática no mercado é algo que nos preocupa bastante”, afirma Pierre.
Para ajudar os donos da Escola Concretta a definir um foco de expansão, Exame PME ouviu Altino Cristofoletti, fundador da Casa do Construtor, rede de aluguel de equipamentos para construção civil, e Batista Gigliotti, da FranSystems, consultoria especializada em expansão por franquias.
Também opinou Helena Ribeiro, do Grupo Empreza, que presta serviços de recursos humanos, como recrutamento e seleção, gerenciamento de programas de trainees e terceirização de mão de obra. Veja o que eles recomendaram.
Criar aulas online
Batista Gigliotti, da Fransystems — São Paulo, SP. Consultoria especializada em franquias.
Perspectivas: As matrículas em cursos de educação a distância cresceram mais de 50% em 2012 em relação ao ano anterior, de acordo com a associação que reúne empresas do setor. Trata-se de uma área que tem tudo para crescer, na medida em que mais pessoas compram computadores e o acesso à internet melhora no país. Muitas pessoas que não conseguiriam pagar as mensalidades de um curso tradicional podem se interessar em aprender pela internet.
Oportunidades: Pierre e Bezerra já conseguiram se aproximar de grandes empresas do setor de construção civil ao oferecer treinamento para melhorar o desempenho dos funcionários dos canteiros de obras. Eles podem aproveitar esse bom relacionamento para oferecer novos cursos, ministrados a distância. Imagino que as construtoras estariam dispostas a pagar para que seus funcionários aprendessem noções básicas de segurança do trabalho e de finanças pessoais pela internet, por exemplo.
O que fazer: Desenvolver um modelo híbrido de cursos, que contemple tanto o ensino presencial quanto os módulos pela internet. Isso pode ajudar a vencer a resistência de quem ainda não está acostumado a usar o computador com tanta frequência.
Expandir no interior
Altino Cristofoletti, da Casa do Construtor — Rio Claro, SP. Aluguel de equipamentos para construção civil.
Perspectivas: Um levantamento da consultoria Urban Systems apontou que cinco das dez melhores cidades para fazer negócios ficam no interior do Brasil. São municípios que funcionam como polos regionais de desenvolvimento.
Muitas delas terão sua economia movimentada pela expansão de setores como mineração e petróleo e gás — e, consequentemente, as obras que aquecem o cenário local da construção civil deverão proliferar.
Oportunidades: Em muitas cidades do interior as obras são feitas por construtoras locais que, a exemplo das grandes empresas, também sofrem com a escassez de mão de obra. A Escola Concretta poderá expandir bastante se criar modelos de cursos de curta duração que caibam no orçamento de construtoras com necessidade de capacitar mão de obra.
O que fazer: Concentrar esforços na expansão da rede de franquias, pelo menos por enquanto. A iniciativa dos cursos online pode ficar para segundo plano. Neste momento, o mais importante é levar a Escola Concretta para lugares do Brasil onde a concorrência com outras redes de ensino profissionalizante seja baixa.
Pierre e seu sócio devem mapear as cidades do interior onde a construção civil deverá crescer nos próximos anos e criar um plano para chegar lá.
Recrutar gente para o mercado
Helena Ribeiro, do Grupo Empreza — Goiânia, GO. Serviços de recursos humanos.
Perspectivas: O setor de construção civil é um dos que apresentam maior rotatividade de funcionários no Brasil. A taxa é de 115%, o que quer dizer que as empresas trocam todos os funcionários no período de um ano.
Oportunidades: Pierre e seu sócio já desenvolveram um método para ensinar os profissionais a trabalhar no canteiro de obras. Eles também têm boas parcerias com construtoras. Agora a Escola Concretta precisa facilitar a entrada de seus ex-alunos no mercado de trabalho. É o momento de colocar as pessoas que querem trabalhar em contato com as empresas que precisam contratar.
O que fazer: A Escola Concretta precisa criar uma área interna para recrutar e selecionar profissionais para as grandes empresas. É mais uma maneira de gerar receitas com as construtoras. Dessa maneira, a empresa poderá se posicionar não apenas como a escola que ensina a trabalhar mas também como a que encaminha o aluno ao mercado de trabalho.