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"Nunca seremos eficientes sem aumentar a produtividade"

O presidente do Movimento Brasil Competitivo diz que a baixa eficiência do país deve ser combatida com um planejamento que considere as vocações produtivas de cada setor ou região

Elcio Anibal de Lucca, presidente do Movimento Brasil Competitivo (Raul Junior / EXAME)

Elcio Anibal de Lucca, presidente do Movimento Brasil Competitivo (Raul Junior / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 18h01.

São Paulo - No currículo do administrador Elcio Anibal de Lucca constam algumas conquistas superlativas. De 1991 a 2007, Lucca comandou a Serasa, um birô de crédito que hoje faz parte do grupo irlandês Experian. No período, a receita líquida da Serasa aumentou 4.331%. O lucro líquido, 34.233%. 

É até difícil apreender o significado desses percentuais. Atualmente, aos 66 anos, Lucca dedica boa parte de seu tempo à presidência do Movimento Brasil Competitivo — associação apoiada por empresas e instituições cujo objetivo é aumentar a competitividade do país.

"Nunca seremos realmente eficientes sem aumentar a produtividade", diz Lucca. As estatísticas mostram que um trabalhador americano produz cinco vezes mais riqueza do que um brasileiro. Por que tanta diferença? "Falta um planejamento que junte os recursos de um lado com as necessidades do outro", diz ele. "Não adianta muito aumentar a produtividade do campo se depois a safra não tem por onde escoar."

A seguir, veja a entrevista que Lucca concedeu a EXAME PME.

EXAME PME - Em média, cada brasileiro empregado produz 20.000 dólares em riqueza. Os americanos, cinco vezes mais. No México e no Chile, a conta fica 80% acima da do Brasil. Somos um país atrasado?

Elcio Anibal de Lucca - Não. Há alguns mercados em que ficamos para trás, mas em outros as empresas são muito produtivas, a qualidade é alta e os custos são competitivos na economia mundial. Mas há entraves que roubam boa parte dessa eficiência, o que inibe investimentos que poderiam ser feitos pelas empresas.

EXAME PME - Dê um exemplo.

Elcio Anibal de Lucca - Mato Grosso tem clima e terreno favoráveis ao agronegócio. Há condições objetivas para elevar a produtividade do campo por ali, e muito. Mas de que adianta atingir uma produção fantástica se o escoamento é difícil? 


EXAME PME - Não é um problema só de Mato Grosso. 

Elcio Anibal de Lucca - Não é. A falta de uma malha viária, ferroviária e aérea condizente com a capacidade de produção está na raiz da baixa produtividade brasileira.  Enquanto o campo e as indústrias lutam por mais eficiência, a estrutura de transporte faz o jogo contrário. Mais sério ainda talvez seja a falta de um planejamento que leve em conta as vocações de cada lugar do país. 

EXAME PME - Que vocações são essas? 

Elcio Anibal de Lucca - Mato Grosso, como disse, tem vocação para o agronegócio. O litoral nordestino, para o turismo. As grandes cidades são ótimas para negócios de serviços. 

A infraestrutura a ser desenvolvida para servir esses polos tem de ser especializada no que é mais importante para cada lugar. Não há escoamento de colheitas sem estradas e ferrovias. Não há polos de turismo sem bons hotéis. E grandes cidades requerem soluções de transporte público.

EXAME PME - O que está errado?

Elcio Anibal de Lucca - Imagine que o Pelé, por alguma razão, não tivesse encontrado um time onde jogar. Ou o time não o incentivasse. Sua vocação não teria evoluído, não teria produzido o atleta fora de série que conhecemos. A pergunta "qual é a vocação desse lugar?" não está sendo considerada como deveria na hora de desenhar as políticas públicas. 

Muitos Pelés devem estar deixando de se desenvolver neste momento em diversos lugares e setores, o que é um desastre para a competitividade global do país. As peças devem se encaixar, e isso não está acontecendo.

EXAME PME - Onde se perdem as oportunidades?

Elcio Anibal de Lucca - O café servido na Itália é ótimo. É feito com uma mistura que leva grãos brasileiros. E depois importamos café de lá. Só agora há regiões voltadas para a produção de café de alta qualidade. Mas ainda há muito o que fazer para ter uma cadeia produtiva de altíssimo nível de efciência e tirar proveito disso. 


EXAME PME - De quem é a culpa em outros casos semelhantes a esse?

Elcio Anibal de Lucca - Da falta de cooperação entre pequenos e médios concorrentes e de grandes companhias que não respeitam seus fornecedores. Esse negócio de espremer o fornecedor corrói a produtividade. O pequeno ou médio fornecedor é um parceiro.

A grande empresa deveria ajudá-lo com treinamento para ele melhorar seus processos e aumentar a produtividade.  Felizmente, começam a aparecer bons exemplos.

EXAME PME - A lista do que atrapalha parece muito grande. Cite um fator bem brasileiro. 

Elcio Anibal de Lucca - A burocracia. Há regulamentações para assuntos que não precisavam ser regulamentados. O poder público não tem de definir como se faz para trazer uma xícara do meio para o canto da mesa. Basta determinar que as xícaras devem ficar num lugar adequado sem incomodar ninguém.

Há tantas guias e regras diferentes para recolher impostos que algumas empresas mantêm funcionários só para isso. Não admira que baixe a produtividade geral. 

EXAME PME - O que cada empreendedor pode fazer para sua empresa ser mais produtiva?

Elcio Anibal de Lucca - Fico abismado ao ver como empresas de todos os tamanhos não fazem nada para melhorar seus processos. Uma tarefa desempenhada de um jeito melhor aumenta a produtividade. Isso inclui jogar fora o que não se usa. Na Serasa havia um dia em que parávamos para jogar papéis no lixo e deletar arquivos dos computadores.

Os equipamentos recuperavam memória e não se perdia mais tempo procurando coisas importantes no meio da papelada. Na arrumação, surgiam anotações de boas ideias que haviam se perdido. Nesse caso, não é culpa do governo, da burocracia, das cadeias produtivas. Em sua revista vocês fazem mutirão para arrumar as mesas?

EXAME PME - Não. Mas depois desta entrevista vamos começar a fazer.

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