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As ideias e o dono das ideias

É fundamental para um empreendedor exercitar a capacidade de tolerância em relação a um sócio ou funcionário cuja opinião é radicalmente oposta

Ilustração de boxeadores lutando (Divulgação / EXAME PME)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de novembro de 2014 às 14h42.

São Paulo - Ter opinião é um direito de todos. Mas expor seu ponto de vista do jeito agressivo como aconteceu na última eleição é passar um pouco do limite. Vi toda sorte de inverdades recheadas de ofensas pessoais. Em vários casos fiquei surpresa, pois a intolerância vinha até mesmo de quem eu não esperava.

Fiquei pensando em como é fundamental para um empreendedor exercitar a capacidade de tolerância em relação a um sócio ou funcionário cuja opinião é radicalmente oposta. Nas eleições, acho que a paixão fez aflorar ideias que já estavam lá, mas era feio contar.

O anonimato na internet deu coragem para que muitos revelassem seus pensamentos mais profundos. Um falava algo rude aqui, outro ali — e, de repente, passou a ser normal xingar e diminuir o outro, com base em preconceitos que eu imaginava enterrados.

Agir assim nos negócios pode ser catastrófico. Quem abre uma empresa deve se preparar para o conflito de ideias. O cliente quer satisfazer suas necessidades. Os funcionários querem ser remunerados como acham que valem. O investidor quer o dinheiro de volta, pelo menos com juros. E o sócio, em tese, quer chegar ao mesmo lugar que você — mas não necessariamente pelo mesmo caminho.

Uma vez entrei no dormitório da faculdade, e dois amigos (que também eram sócios) estavam aos berros. Enquanto um levantava um problema, o outro ficava lembrando-o de outros que ele havia causado no passado. Está aí algo que não recomendo. Lidar com um problema já é complicado — com vários, ainda mais.

O erro é que eles se atacavam mutuamente — e não os problemas. É comum confundir ideias com o dono das ideias. É preciso um esforço para focar o conflito no que está em questão, com argumentos lógicos e boa educação. Vendo que aquilo ia de mal a pior, decidi intervir.

Disse que, daquele jeito, eles destruiriam a sociedade e a amizade. Afinal, qual era o centro do problema? Não precisavam falar a mim, mas tinham de se concentrar em resolvê-lo em vez de disputar quem tinha razão. Eles respiraram fundo e passaram a falar um de cada vez. Algumas horas depois, encontraram uma solução.

Entendo uma pessoa que se apega à sua opinião. Temos de viver por nossos valores. Mas temos de entender que todos os outros também têm esse mesmo direito. Perder a cabeça, desrespeitar ou fazer de tudo para mudar a opinião do outro a qualquer custo não torna nossa opinião mais valiosa — pelo contrário.

A real influência que se pode fazer na vida do outro só acontece quando você o respeita, tenta genuinamente entendê-lo e promove um debate proveitoso para que ele queira entendê-lo também.

Bel responde

Você tem alguma dica para compartilhar? Escreva paracantinhodabel@abril.com.br

Uma vez você recomendou enviar uma mensagem diária durante uma semana para alguém com quem se quisesse estreitar
a relação. Não é exagero?

Julio Cesar de Paula, da Rental Tech — Campinas, SP

Quando escrevi isso, na verdade estava me referindo a uma dinâmica em que o interlocutor também participa, e não a sete mensagens seguidas sem receber nenhuma resposta. Uma semana de “spams” de fato pode espantar a pessoa — justamente o contrário do que se queria.

Tudo depende do jeito e do contexto. A primeira mensagem é determinante. Não pode ser a esmo e sem assunto, ou parecerá ter vindo do além. O teor depende do grau de relacionamento. Se estamos falando de seu melhor amigo de faculdade, e a correria os fez não se falar por meses ou anos, pode ser algo simples, como perguntar da família.

Será diferente se for alguém com quem mal houve uma troca de cartões num evento. A mensagem precisará ser mais formal e você deverá dizer quem é, mencionar o encontro e explicar a razão do contato. A partir dessa primeira mensagem, saiba perceber se houve abertura para as próximas. O legal de uma mensagem todo dia é que há mais chance de você mostrar que se importa com aquela pessoa.

Vamos supor que você reencontre um amigo de infância e ele lhe conte que é executivo de uma empresa do setor de aviação. Mande-lhe um artigo sobre esse mercado que você havia visto e diga que imaginou que poderia ser útil em seu trabalho. Se despertar interesse, é provável que ele dê alguma resposta que permita continuar a conversa.

Como, ao identificar um nicho de mercado com que temos afinidade, ter certeza de que é uma oportunidade de negócios promissora?
Fabio Taniguchi — Ipatinga, MG

De maneira esquemática, um empreendedor dá três passos ao montar o negócio. Primeiro, observa o mundo para encontrar uma necessidade que ainda não tenha sido suprida. Depois, busca saber de todas as soluções que já foram criadas para tentar suprir essa necessidade e procura entender as razões pelas quais elas foram ou não eficazes.

Com essas informações, ele cria uma nova solução, monta um protótipo e o melhora continuamente até que realmente possa ser aceito pelo mercado. Ao dar esses passos, pode acontecer de o empreendedor vislumbrar uma oportunidade de especialização para sua proposta — e de o desenho final ser dirigido para suprir a necessidade de um grupo mais específico de consumidores.

Você pergunta como ter certeza de que a oportunidade é promissora. Não há como. Seguir esse roteiro permite que o empreendedor tenha condição de reduzir o risco de tomar uma má decisão, mas não o elimina.

É normal ter medo de empreender ao começar um negócio? Como lidar com isso e criar coragem?
Marcos Oliveira — São Paulo, SP

Como disse na resposta anterior, empreender inclui aceitar riscos — sempre. Para criar um negócio realmente novo e vencedor é preciso se aventurar em terrenos desconhecidos e tomar decisões importantes com informações que nunca estão completas. Pense bem: se as respostas estivessem na cara, alguém já teria feito, não? Assim, é natural que dê frio na barriga.

Não deixe de ser audacioso e dê asas a seus sonhos, pois sem isso não se chega a lugar nenhum. Mas, ao mesmo tempo, considere a possibilidade de as coisas darem errado e tenha um plano para enfrentar essas situações. Corra só riscos calculados. Dê um passo atrás do outro e aprenda. Pouco a pouco, você perceberá que pode dar passos cada vez maiores.

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São Paulo - Ter opinião é um direito de todos. Mas expor seu ponto de vista do jeito agressivo como aconteceu na última eleição é passar um pouco do limite. Vi toda sorte de inverdades recheadas de ofensas pessoais. Em vários casos fiquei surpresa, pois a intolerância vinha até mesmo de quem eu não esperava.

Fiquei pensando em como é fundamental para um empreendedor exercitar a capacidade de tolerância em relação a um sócio ou funcionário cuja opinião é radicalmente oposta. Nas eleições, acho que a paixão fez aflorar ideias que já estavam lá, mas era feio contar.

O anonimato na internet deu coragem para que muitos revelassem seus pensamentos mais profundos. Um falava algo rude aqui, outro ali — e, de repente, passou a ser normal xingar e diminuir o outro, com base em preconceitos que eu imaginava enterrados.

Agir assim nos negócios pode ser catastrófico. Quem abre uma empresa deve se preparar para o conflito de ideias. O cliente quer satisfazer suas necessidades. Os funcionários querem ser remunerados como acham que valem. O investidor quer o dinheiro de volta, pelo menos com juros. E o sócio, em tese, quer chegar ao mesmo lugar que você — mas não necessariamente pelo mesmo caminho.

Uma vez entrei no dormitório da faculdade, e dois amigos (que também eram sócios) estavam aos berros. Enquanto um levantava um problema, o outro ficava lembrando-o de outros que ele havia causado no passado. Está aí algo que não recomendo. Lidar com um problema já é complicado — com vários, ainda mais.

O erro é que eles se atacavam mutuamente — e não os problemas. É comum confundir ideias com o dono das ideias. É preciso um esforço para focar o conflito no que está em questão, com argumentos lógicos e boa educação. Vendo que aquilo ia de mal a pior, decidi intervir.

Disse que, daquele jeito, eles destruiriam a sociedade e a amizade. Afinal, qual era o centro do problema? Não precisavam falar a mim, mas tinham de se concentrar em resolvê-lo em vez de disputar quem tinha razão. Eles respiraram fundo e passaram a falar um de cada vez. Algumas horas depois, encontraram uma solução.

Entendo uma pessoa que se apega à sua opinião. Temos de viver por nossos valores. Mas temos de entender que todos os outros também têm esse mesmo direito. Perder a cabeça, desrespeitar ou fazer de tudo para mudar a opinião do outro a qualquer custo não torna nossa opinião mais valiosa — pelo contrário.

A real influência que se pode fazer na vida do outro só acontece quando você o respeita, tenta genuinamente entendê-lo e promove um debate proveitoso para que ele queira entendê-lo também.

Bel responde

Você tem alguma dica para compartilhar? Escreva paracantinhodabel@abril.com.br

Uma vez você recomendou enviar uma mensagem diária durante uma semana para alguém com quem se quisesse estreitar
a relação. Não é exagero?

Julio Cesar de Paula, da Rental Tech — Campinas, SP

Quando escrevi isso, na verdade estava me referindo a uma dinâmica em que o interlocutor também participa, e não a sete mensagens seguidas sem receber nenhuma resposta. Uma semana de “spams” de fato pode espantar a pessoa — justamente o contrário do que se queria.

Tudo depende do jeito e do contexto. A primeira mensagem é determinante. Não pode ser a esmo e sem assunto, ou parecerá ter vindo do além. O teor depende do grau de relacionamento. Se estamos falando de seu melhor amigo de faculdade, e a correria os fez não se falar por meses ou anos, pode ser algo simples, como perguntar da família.

Será diferente se for alguém com quem mal houve uma troca de cartões num evento. A mensagem precisará ser mais formal e você deverá dizer quem é, mencionar o encontro e explicar a razão do contato. A partir dessa primeira mensagem, saiba perceber se houve abertura para as próximas. O legal de uma mensagem todo dia é que há mais chance de você mostrar que se importa com aquela pessoa.

Vamos supor que você reencontre um amigo de infância e ele lhe conte que é executivo de uma empresa do setor de aviação. Mande-lhe um artigo sobre esse mercado que você havia visto e diga que imaginou que poderia ser útil em seu trabalho. Se despertar interesse, é provável que ele dê alguma resposta que permita continuar a conversa.

Como, ao identificar um nicho de mercado com que temos afinidade, ter certeza de que é uma oportunidade de negócios promissora?
Fabio Taniguchi — Ipatinga, MG

De maneira esquemática, um empreendedor dá três passos ao montar o negócio. Primeiro, observa o mundo para encontrar uma necessidade que ainda não tenha sido suprida. Depois, busca saber de todas as soluções que já foram criadas para tentar suprir essa necessidade e procura entender as razões pelas quais elas foram ou não eficazes.

Com essas informações, ele cria uma nova solução, monta um protótipo e o melhora continuamente até que realmente possa ser aceito pelo mercado. Ao dar esses passos, pode acontecer de o empreendedor vislumbrar uma oportunidade de especialização para sua proposta — e de o desenho final ser dirigido para suprir a necessidade de um grupo mais específico de consumidores.

Você pergunta como ter certeza de que a oportunidade é promissora. Não há como. Seguir esse roteiro permite que o empreendedor tenha condição de reduzir o risco de tomar uma má decisão, mas não o elimina.

É normal ter medo de empreender ao começar um negócio? Como lidar com isso e criar coragem?
Marcos Oliveira — São Paulo, SP

Como disse na resposta anterior, empreender inclui aceitar riscos — sempre. Para criar um negócio realmente novo e vencedor é preciso se aventurar em terrenos desconhecidos e tomar decisões importantes com informações que nunca estão completas. Pense bem: se as respostas estivessem na cara, alguém já teria feito, não? Assim, é natural que dê frio na barriga.

Não deixe de ser audacioso e dê asas a seus sonhos, pois sem isso não se chega a lugar nenhum. Mas, ao mesmo tempo, considere a possibilidade de as coisas darem errado e tenha um plano para enfrentar essas situações. Corra só riscos calculados. Dê um passo atrás do outro e aprenda. Pouco a pouco, você perceberá que pode dar passos cada vez maiores.

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