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A fórmula da Petrof é vender piano para novos ricos chineses

A centenária fabricante de pianos Petrof, da República Checa, reencontrou o caminho do crescimento ao vender instrumentos de luxo para os novos ricos chineses

Zuzana Petrofová: Fizemos de tudo para salvar o negócio e honrar a tradição de nossa família  (Empresa)

Zuzana Petrofová: Fizemos de tudo para salvar o negócio e honrar a tradição de nossa família (Empresa)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2013 às 12h02.

São Paulo - Fundada em 1864 em Hradec Králové, cidadezinha ao centro da República Checa, a fabricante de pianos Petrof passou por momentos dramáticos em seus mais de 100 anos de história.

Os períodos mais conturbados foram durante a Primeira Guerra Mundial, a invasão dos nazistas na Segunda Guerra e o confisco do governo comunista, que tomou a empresa da família fundadora em 1948. Recentemente, a Petrof passou novamente por apuros e quase foi à falência.

Em 2009, a farmacêutica Zuzana Ceralová Petrofová, tataraneta do fundador, precisou demitir 80% dos funcionários e vender propriedades da Petrof. "Estávamos dispostos a fazer de tudo para salvar o negócio e honrar o nome da família", disse Zuzana, em entrevista à revista BusinessWeek.

A última crise foi consequência de algumas decisões equivocadas tomadas em anos anteriores. Nos anos 2000, a prioridade da Petrof era popularizar a venda de pianos fabricando instrumentos baratos para concorrer com similares chineses, que ganhavam cada vez mais mercado. Um escritório chegou a ser aberto nos Estados Unidos, na tentativa de reduzir os custos de exportação e aumentar a competitividade.

Não deu certo. No auge, a Petrof chegou a ser a maior fabricante de pianos da Europa, vendendo mais de 7.000 instrumentos por ano — a maioria destinada à exportação para cerca de 70 países da Europa, da América do Norte e da Ásia. Em 2009, as vendas haviam caído para menos de 20%. 

Mundialmente, a empresa sempre foi reconhecida por professores e escolas de música, orquestras e salas de concertos como uma marca que preza pela qualidade de seus produtos — a fabricação é artesanal, e o acabamento, sempre muito luxuoso.


Seus instrumentos, por exemplo, ainda podem ser encontrados em lugares como o Vaticano, o Palácio da Unesco, em Paris, as casas de ópera de Sydney e Milão, e os hotéis Hilton. Quando o foco passou para a produção de modelos baratos, parte do encanto se perdeu. 

Só recentemente a Petrof parece ter reencontrado o caminho do crescimento. Ironicamente, graças aos asiáticos. A Petrof desistiu de baratear seus produtos e voltou a investir em instrumentos de alto padrão. Os compradores hoje são principalmente os novos milionários chineses, entusiastas da tradição europeia na fabricação de instrumentos musicais.

"A Ásia representa atualmente 40% de nossas receitas", disse Zuzana. O faturamento tem aumentado 5% ao ano nos últimos três anos. Em 2012, a empresa comercializou cerca de 2.000 pianos. Alguns modelos chegam a custar mais de 100.000 euros e são montados totalmente à mão.  Nos últimos tempos, a Petrof conquistou clientes como o ex-beatle Paul McCartney, o compositor Ennio Morricone e o pianista David Helfgort.

A Petrof tem uma impressionante trajetória de crises e superações. Durante a Primeira Guerra Mundial, quando o mercado de pianos ficou estagnado por ser considerado um produto supérfuo, a empresa passou a fabricar dormentes de madeira para trilhos de trem. Na Segunda Guerra, tropas alemãs obrigaram a família a produzir caixas de madeira para guardar a munição dos soldados nazistas.

"A época mais difícil para nossa família e para a empresa foram os anos seguintes à Segunda Guerra", disse Jan Petrof, pai de Zuzana e seu antecessor na presidência, em entrevista para a revista americana Te Music Trades. Apenas três anos após o fim dos confiitos, o novo governo comunista tomou posse da empresa como parte de uma política de estatizações, sem pagar nenhuma indenização.

"O governo nos definia como burgueses reacionários e indesejáveis", disse Jan Petrof. Só após quase meio século de domínio estatal, Jan conseguiu retomar o negócio. A recuperação foi lenta e dolorosa. Sob a administração comunista, a Petrof foi fundida com outras fabricantes de instrumentos, de trombones a violinos e guitarras.


Quando a família retomou o controle, em 1998, a empresa havia se tornado inchada e improdutiva, fazendo produtos medíocres destinados principalmente à ex-União Soviética. A maior difculdade foi mudar a mentalidade dos funcionários, que se acostumaram a bater metas de produção sem se preocupar com a qualidade.

"Era difícil para alguns deles entender que os clientes mais exigentes não comprariam um produto com falhas, e que a empresa havia perdido sua identidade", disse Jan. Ao lado da flha, Jan deu início a um processo de reestruturação, que incluiu demissões em massa e a venda das fábricas que haviam sido anexadas pelo governo.

A Petrof foi fundada pelo checo Antonín Petrof, flho de carpinteiro. Na adolescência, Antonín sonhava com algo maior do que assumir a ofcina de marcenaria do pai. Viajou para a vizinha Viena, na Áustria, e lá tornou-se aprendiz de fabricantes de piano. Apesar das ofertas de emprego recebidas, decidiu voltar para a República Tcheca com a intenção de abrir o próprio negócio.

Meio século depois, a empresa estava fornecendo pianos para as salas de estar de famílias reais da Europa inteira. O piano de número 30.000 foi entregue ao arquiduque Franz Ferdinand, herdeiro do império austro-húngaro, duas semanas antes de seu assassinato. 

Em 2014, a empresa comemorará 150 anos de existência (Zuzana assumiu a presidência em 2004 e Jan virou uma espécie de embaixador da marca). A fábrica original continua em funcionamento, no mesmo endereço. O prédio foi recentemente restaurado pelo governo da República Tcheca e considerado patrimônio histórico do país.

Em homenagem ao fundador, no dia do aniversário da empresa, Zuzana planeja apresentar ao mercado um piano batizado de Antonín Petrof, avaliado em cerca de 130.000 euros. "Fazer pianos é uma tradição de nossa família", diz Zuzana. "É verdade que tivemos muitos altos e baixos, mas sempre conseguimos superar os obstáculos. Não vamos desistir."

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