Aceleradora foca em mães empreendedoras e encontra oceano azul
Há um ano no mercado, a aceleradora B2Mamy já atendeu 600 mulheres interessadas em empreender.
Mariana Desidério
Publicado em 14 de dezembro de 2017 às 14h22.
Última atualização em 14 de dezembro de 2017 às 17h19.
São Paulo – Na manhã de ontem, um grupo de 50 empreendedoras se reunia num espaço em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, para aprender como falar em público sobre o seu negócio, buscar contatos para networking e receber dicas de melhorias para o seu negócio. Além de empreendedoras, todas elas são mães.
O evento foi um dos vários promovidos pela B2Mamy ano longo de 2017. Focada em mães empreendedoras, a aceleradora tem apenas um ano de vida, mas já atendeu 600 mulheres interessadas em empreender. "No primeiro encontro separei cinco cadeiras e apareceram 80 pessoas. Vi que havia ali um oceano azul", conta a fundadora da B2Mamy, Dani Junco.
“Eu queria conectar o mundo da inovação com essas mulheres que tinham ideias ótimas, mas não se sentiam com força e com poder para estar em ambientes de inovação. Comecei tentando conectar essas mulheres com aceleradoras que já existiam, mas não encontrei muito espaço. Então decidi criar a minha própria aceleradora”, diz Junco.
Diferente de outras aceleradoras, que investem nas empresas com vistas a receber um retorno lá na frente, o modelo de negócio da B2Mamy não é baseado em investimento financeiro. “No nosso modelo elas pagam pelos encontros e pela aceleração”, explica.
Como estamos na época do Natal, uma das atividades do encontro de ontem foi um amigo secreto diferente, no qual empreendedoras com empresas similares trocaram indicações de parcerias e sugestões de melhorias para os negócios.
“Fiz a aceleração da B2Mamy. Entrei de uma forma e saí de outra. Mudei o nome da empresa, o logo e a forma de vender”, conta Tatiana Moura, dona da Coverage Cosmetics, e que participava do amigo secreto ontem.
Virar a chave
A decisão de criar a aceleradora surgiu quando a CEO se tornou mãe. “Eu estava grávida e me perguntava como iria conciliar minha vida profissional com o bebê, e o que eu estava fazendo para que meu filho vivesse num mundo melhor”, conta.
Junco vendeu um carro e investiu 40 mil reais para iniciar o negócio, que deve fechar 2017 com um faturamento de 480 mil reais.
Além de orientar as empreendedoras, a aceleradora é chamada para falar em empresas e discutir diversidade no ambiente de trabalho e apoio às profissionais mães.
“Sou muito chamada pra falar em empresas essencialmente masculinas para uma virada de chave. Por que a criança, quando crescer, ela não vai para Marte. Ela vai fazer parte da nossa sociedade. Então quem é você na criação dessa criança, quando a mãe diz que vai buscar o filho na escola e você torce o nariz? É um contrassenso o que fazemos com as mães no mundo ocidental. Queremos discutir isso também, não falamos só de negócios e tecnologia”, afirma a empreendedora.
Mas se trabalhar numa empresa com filhos é difícil, ser empreendedora não mais fácil, não, avisa Junco. “Acredito que conciliar negócio próprio com filhos seja mais difícil. A grande vantagem é a flexibilidade para montar os seus horários, o que não significa trabalhar menos”, diz Junco.
Luiza Agresete, dona da Colher de Casa, decidiu que queria mais flexibilidade depois que seu segundo filho nasceu. “É desafiador ser empreendedora e mãe. É mais fácil ter um trabalho das 9h às 18h, porque você consegue virar a chave e dizer agora estou trabalho e agora sou mãe. Como empreendedora é você quem precisa escolher”, afirma.
Empreender por necessidade
Na trilha empreendedora da B2Mamy, as mulheres participam inicialmente de um dia intensivo validação do negócio. E ela conta que 20% das mulheres que participam dessa atividade decidem não empreender. “São mulheres que não têm vocação para isso e optaram por ter um negócio por desespero.”
Isso porque boa parte das mães que optam por ter seu próprio negócio empreendem por necessidade, e não porque encontraram uma ideia de negócio com potencial.
Nesses casos, Junco é direta. “Vai dar errado. A cada dez empresas, sete fecham. Além da falta de gestão, elas morrem porque vendem uma coisa que o mercado não quer comprar. Para empreender, precisa de habilidade, comportamento e uma gana em fazer número. Empreender é vender todo dia”.
Quem sobrevive a esse primeiro dia, batizado de Start, depois pode fazer uma aceleração de quatro meses. Algumas ainda passam para outra fase, chamada de Growth e voltada para quem tem negócios com alto potencial de crescimento.
Dentre os negócios apoiados pela B2Mamy, metade são startups, ou seja usam tecnologia e têm potencial de escalar. O restante são empresas mais tradicionais, uma parte focada no universo infantil.
Para Junco essa é uma questão que merece atenção das mães empreendedoras. “Como ela esta embebida no universo das crianças, ela começa a ter ideias só nesse universo. Aí às vezes ela cai no mais do mesmo e fica difícil dela conseguir resultado”, diz.
Atualmente, a B2Mamy fica incubada na YelloHello, uma empresa de gestão de relacionamento. O plano da aceleradora para o ano que vem é buscar um espçao próprio e investir nas parcerias entre empresas consolidadas e empreendedoras aceleradas pela B2Mamy. “Isso traz inovação e diversidade para as empresas. E para as empreendedoras traz um a ajuda nos custos para conseguir tracionar no início do negócio”.