Exame logo 55 anos
Remy Sharp
Acompanhe:

A startup da vaquinha imobiliária

Gabriela Lara As vaquinhas virtuais deixaram de ser novidade há anos: financiam de livros a viagens para o sudeste asiático. Desde o final de 2015, a startup gaúcha Urbe.me levou a lógica de financiamento coletivo para o mercado imobiliário. Funciona assim: pequenos investidores ajudam a bancar a construção do imóvel pela internet, com aplicação mínima […]

Modo escuro

Continua após a publicidade
IMÓVEIS EM SP: a capital paulista é uma das três cidades em que a Urbe.me ajudou a financiar empreendimentos  / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

IMÓVEIS EM SP: a capital paulista é uma das três cidades em que a Urbe.me ajudou a financiar empreendimentos / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)

D
Da Redação

Publicado em 8 de março de 2017 às, 12h42.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às, 18h25.

Gabriela Lara

As vaquinhas virtuais deixaram de ser novidade há anos: financiam de livros a viagens para o sudeste asiático. Desde o final de 2015, a startup gaúcha Urbe.me levou a lógica de financiamento coletivo para o mercado imobiliário. Funciona assim: pequenos investidores ajudam a bancar a construção do imóvel pela internet, com aplicação mínima de 1.000 reais e, em troca, recebem um título com uma estimativa de rentabilidade. O desafio da turma por trás da plataforma online é tornar esta modalidade de investimento mais conhecida.

A primeira captação do Urbe.me terminou em janeiro do ano passado. A incorporadora Vitacon, de São Paulo, arrecadou 1,278 milhão de reais para bancar uma parte da construção de um prédio residencial no bairro Vila Olímpia. Na metade de 2016 foi a vez da RottaEly, de Porto Alegre, captar cerca de 1 milhão de reais para a obra de um edifício residencial na zona central da capital gaúcha. A mais recente empreitada terminou em 23 de fevereiro. A construtora Lotus, de Maringá, conseguiu 676.000 reais. No total, 165 pessoas, de 16 estados, participaram da captação paranaense.

O Urbe.me tenta encontrar o caminho para alçar voos maiores. “A gente acha que vai dar um salto assim que a economia brasileira melhorar”, diz o administrador Paulo Deitos, de 34 anos, um dos fundadores.

É claro que o ambiente econômico não é a única variável. Por isso, a plataforma está desenvolvendo parcerias com outras fintechs para atrair mais investidores. Uma delas envolve a Foxbit, corretora de bitcoin. Na captação de Maringá foi permitido usar a moeda virtual. A ideia é que seja uma porta de entrada para quem não está no Brasil, mas quer investir nos projetos do Urbe.me.

O Urbe.me foi fundado em 2015 por uma dupla de jovens empresários gaúchos. Paulo Deitos e Lucas Obino ficaram dois anos estudando a legislação e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para desenvolver a plataforma. Enquanto estruturavam a ideia, viam surgir nos EUA sites com propostas semelhantes.

Cada site norte-americano de financiamento coletivo para o setor imobiliário – são mais de 100 – tem seu próprio modelo de negócio. A essência, no entanto, é a mesma: dar a pequenos investidores a chance de aplicar dinheiro no mercado imobiliário, de um jeito simples, sem depender de corretoras ou bancos de investimento. O site Prodigy Network, que surgiu na época em que o Urbe.me era idealizado, já levantou 410 milhões de dólares com 6.500 investidores.

Um empurrão, aqui, depende da regulamentação da CVM. A autarquia permite a atividade de equity crowdfunding, mas não tem um regramento específico para essa operação. Para dar sinal verde a uma captação, a CVM se baseia na instrução 400, de 2003, que dispensa de registro ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários até um limite de R$ 2,4 milhões, desde que as empresas que vão captar atendam a certas condições. Na prática, o órgão regulador filtra as ofertas, mas não se responsabiliza por eventuais problemas que os investidores possam ter.

Esta dinâmica deve mudar em breve. A CVM trabalha em uma regulação para todas as captações de equity crowdfunding, não somente as do setor imobiliário. Aportes coletivos a startups, por exemplo, se enquadrarão nesta regra. Uma primeira minuta foi apresentada em agosto de 2016 e a expectativa é de a instrução definitiva venha ainda este ano.

Deitos espera que a CVM reveja algumas questões, mas considera a regulamentação uma conquista. “Traz mais credibilidade”, resume. Quando um órgão regulador começa a olhar para um novo instrumento financeiro, os investidores tendem a se sentir mais confortáveis para embarcar. Outra boa notícia diz respeito a um possível aumento no limite de captação dos projetos, hoje em 2,4 milhões de reais.

Funcionamento

Aqueles que investem pelo Urbe.me recebem um título que tem vencimento determinado e garante uma participação sobre o Valor Geral de Vendas do empreendimento em questão. Após o lançamento do imóvel na planta, a incorporadora apura a cada trimestre como foi a comercialização das unidades e, com base nesses números, distribui rendimentos aos investidores. Ou seja, a rentabilidade está associada ao valor e à velocidade de venda.

A presença do crowdfunding imobiliário no Brasil simboliza uma tendência de aproximar o investidor comum de instrumentos e mercados tradicionalmente sofisticados. O Urbe.me quer levar a experiência de investir em imóveis para o dia a dia de qualquer um. Papel semelhante tem sido desempenhado por corretoras de valores voltadas à pessoa física, que se propõem a apresentar diferentes modalidades financeiras a investidores leigos.

“Esta pulverização é positiva. Estamos em um ciclo de redução de juros na economia que fará investimentos tradicionais de renda fixa renderem menos, portanto ter alternativas é importante”, avalia Edoardo Dalla Fina, gerente de Capital Market e Investimentos da consultoria imobiliária Colliers. “Muitos instrumentos financeiros são exclusivos para investidores qualificados justamente”.

Nos três projetos imobiliários que tiveram captação via Urbe.me, a rentabilidade estimada aos investidores é a mesma: de 13% a 17% ao ano, mais a variação do Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Como todos os investimentos ainda estão vigentes – os contratos são de no mínimo 36 meses –, ainda não é possível saber a rentabilidade final de nenhum deles.

O prédio de Porto Alegre teve boa parte das unidades vendidas no lançamento. Consequentemente, começou a distribuir rendimentos cedo. Conforme o Urbe.me, o retorno ao investidor está dentro da previsão. O prédio de São Paulo, pelo contrário, sentiu os efeitos da crise e apresenta um ritmo de vendas lento.

O próprio site do Urbe.me informa que os investimentos possuem alto risco e retorno variável. Deitos pondera que, no vencimento do título, a rentabilidade paga ao investidor sobre as unidades não vendidas será proporcional à taxa de juros da economia, a Selic. Se a incorporadora suspender a obra ela é obrigada, por contrato, a devolver os recursos aplicados, corrigidos pela poupança.

Embora a carência de funding imobiliário no Brasil afete incorporadoras de médio e pequeno porte, o dinheiro não é o principal interesse das empresas que firmam parceria com o Urbe.me. A “vaquinha virtual” se tornou estratégia de marketing. Ricardo Ruy, diretor-executivo da incorporadora Lotus, conta que foi ele quem procurou o Urbe.me. O valor que foi arrecadado pela plataforma online representa somente 5% do custo total do empreendimento em Maringá. O principal ganho, diz o empresário paranaense, está na visibilidade conferida à incorporadora. “Mesmo quem não investiu vai ver que a inovação está no nosso DNA”, diz.

O Urbe.me vem ocupando praticamente sozinho o mercado de crowdfunding imobiliário no Brasil. Mas aos poucos plataformas estrangeiras começam a se interessar pelo investidor brasileiro. É o caso do site britânico Bricksave, especializado em imóveis de luxo localizados nos Estados Unidos e na Argentina. Neste caso, quem investe não financia a construção, mas compra uma fatia de unidades já finalizadas. Os investidores recebem primeiro um rendimento pelo aluguel e, depois, pela venda do imóvel. O tíquete mínimo é de 2.500 dólares.

O site brasileiro ganha dinheiro recebendo das incorporadoras um porcentual não revelado sobre os valores captados. A operação, garantem os sócios, dá lucro para os sócios desde o ano passado. O próximo projeto da Urbe.me deverá ser em Florianópolis.

Últimas Notícias

Ver mais
Empreendedor Individual deve enviar declaração até dia 30 de junho; veja como fazer

seloPME

Empreendedor Individual deve enviar declaração até dia 30 de junho; veja como fazer

Há um ano

Além das salas de aula: 4 maneiras de aprender mais sobre empreendedorismo

seloPME

Além das salas de aula: 4 maneiras de aprender mais sobre empreendedorismo

Há um ano

Bolsonaro sanciona Pronampe; estimativa de crédito para MPEs é de R$ 50 bi

seloPME

Bolsonaro sanciona Pronampe; estimativa de crédito para MPEs é de R$ 50 bi

Há um ano

3 cases de inovação aberta - o que podemos aprender com eles?

seloPME

3 cases de inovação aberta - o que podemos aprender com eles?

Há um ano

Continua após a publicidade
icon

Branded contents

Ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Oracle realiza evento gratuito sobre o poder da IA para transformar os negócios

Oracle realiza evento gratuito sobre o poder da IA para transformar os negócios

Lead Energy quer reduzir R$ 1 bi na conta de luz dos brasileiros até 2027

Lead Energy quer reduzir R$ 1 bi na conta de luz dos brasileiros até 2027

Ceará deve se tornar um dos maiores produtores do combustível do futuro

Ceará deve se tornar um dos maiores produtores do combustível do futuro

“O número de ciberataques tem crescido 20% ao ano”, diz a Huawei

“O número de ciberataques tem crescido 20% ao ano”, diz a Huawei

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

Leia mais