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A fé que move bons negócios pelo Brasil

Forte religiosidade do brasileiro fomenta o empreendedorismo para todo tipo de crença e rende até rede de franquia

Rafael Jorge: o empreendedor trabalha como lojista desde 1998, mas foi em 2003 que começou a tocar seu negócio, a rede de franquias Origem da Fé (Ricardo Yoithi Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

Rafael Jorge: o empreendedor trabalha como lojista desde 1998, mas foi em 2003 que começou a tocar seu negócio, a rede de franquias Origem da Fé (Ricardo Yoithi Matsukawa/Jornal de Negócios do Sebrae/SP)

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Carolina Ingizza

Publicado em 3 de dezembro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 3 de dezembro de 2019 às 07h00.

Carlos Herbert começou a produzir artesanato católico em 2014 de forma tímida, como Microempreendedor Individual (MEI), apenas com uma máquina e um colaborador para auxiliá-lo em Potim, no Vale do Paraíba. Rafael Jorge, por sua vez, trabalha como lojista desde 1998 em São Paulo, mas foi em 2003 que começou a tocar o próprio comércio de artigos religiosos e místicos com o seu pai, experiência que o levou em 2016 a formatar sua rede de franquias.

Hoje, a fábrica de artigos religiosos Dom Divino, de Herbert, já se tornou microempresa (ME), tem três máquinas, dez funcionários e clientes em todo o Brasil. Já a Origem da Fé, de Jorge, possui oito lojas no modelo de franquia e almeja alcançar a marca de cem lojas até o início de 2022. Em comum, ambos os empreendedores têm o conhecimento técnico, a motivação, a persistência e, por que não, a fé presente em todo empreendedor, principalmente naqueles que trabalham com artigos religiosos.

O crescimento das duas empresas pode ser explicado por algumas características do brasileiro. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seu último Censo sobre religião apontam que a população brasileira é majoritariamente cristã (87%), sendo a sua maior parte católico-romana (64,4%).

Há também pessoas que professam sua fé por meio de movimentos protestantes, como adventistas, batistas, evangélicos, luteranos e metodistas, além de fiéis de outras denominações religiosas, como pentecostais, episcopais, testemunhas de Jeová, espíritas, kardecistas, algumas de origem africana, como candomblé e umbanda, tradições indígenas, e também minorias muçulmanas, budistas e judaicas.

Ainda de acordo com o IBGE, 8% dos brasileiros declaram-se sem religião, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas. Apesar da maioria católica, o número de evangélicos cresce de maneira impressionante no Brasil.

Nos últimos dez anos, ainda de acordo com o IBGE, eles foram o grupo que mais aumentou – elevação de 61% – e hoje representam 22,2% do total. Não por acaso, cada vez mais empreendimentos voltados para esse público ganham forma.

Em São Paulo, a Rua Conde de Sarzedas, no Centro, já é considerada como uma “25 de Março gospel” pelos fiéis. Nas dezenas de lojas e galerias localizadas naquele endereço, é possível encontrar desde bíblias e outros livros até púlpitos, itens da Santa Ceia, óleos de unção, envelopes para dízimo e caixas de promessas com mensagens motivadoras, passando por camisetas, DVDs, brindes e pacotes de viagem para Israel.

Vocações

O fato de estar em uma região majoritariamente católica levou a Dom Divino a apostar em produtos destinados aos fiéis católicos. Criado em Potim, município vizinho a Aparecida, o empreendimento nasceu da vontade de Carlos Herbert em ter o próprio negócio e o apoio de seu pai.

“Juntei dinheiro de um outro trabalho, além de um acerto, e abri a minha empresa. Meu pai me ajudou bastante financeiramente também, até que em 2017 me capacitei no Super MEI do Sebrae-SP, consegui R$ 20 mil de crédito no programa Juro Zero e investi em mais máquinas e funcionários”, conta.

Para a consultora do Sebrae-SP Sâmia Borges, o maior desafio da Dom Divino neste momento de crescimento é manter o parâmetro de qualidade e satisfação dos clientes. A especialista explica que, muitas vezes, o pequeno negócio tem uma venda menor, porém mais estratégica.

“Quando a empresa alcança um patamar maior acaba tendo dificuldades de gerir uma cartela maior de clientes. Para continuar se desenvolvendo, a empresa precisa se planejar, ter um plano de marketing, uma boa precificação e conhecer bem o cliente”, explica.

A Origem da Fé, por sua vez, trabalha com mais de 10 mil itens religiosos, dos mais variados tipos de denominações. Nas lojas, que variam de 84m² a 150m², é possível encontrar bíblias, terços, imagens de santos, deuses, orixás, guias, velas e até roupas e livros específicos de cada religião. O fato de não estar atrelada a uma crença específica, inclusive, é o ponto forte do empreendimento, que vem ganhando cada vez mais mercado.

“Hoje mesmo vendi duas novas lojas, sendo uma na Grande São Paulo e outra em Rio Claro. Poderíamos já estar ainda maiores, mas nosso modelo de negócio não permite aventureiro. É loja para dono mesmo, pois exige muita dedicação”, explica Jorge.

O empresário, que esteve presente na última edição da Feira do Empreendedor do Sebrae-SP, começa neste momento a colher os resultados do evento, além de colocar em prática diariamente as características empreendedoras que ele obteve ao fazer o Empretec, curso oferecido pelo Sebrae-SP. “Fiz o Empretec em 2013 e enxerguei muitas coisas que não via antes. Tinha gente na minha turma que havia quebrado três ou quatro vezes e isso me motivou a persistir no meu negócio. Está sendo um diferencial”, explica.

A pluralidade religiosa do Brasil é um dos fatores que fazem a Origem da Fé alcançar uma grande parte do mercado atualmente, mas também pode ser o seu maior desafio. A consultora Sâmia Borges aponta que, com essa pluralidade, o empreendimento precisa saber se posicionar no mercado.

“Quanto mais especializado, mais de nicho, for um negócio, mais fácil o mercado o encontra. Além disso, normalmente 80% do faturamento de uma loja vem de 20% do que é comercializado. Gerir mais de 10 mil itens é um grande desafio”, aponta.

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