Eduardo L’Hotellier, presidente e fundador do GetNinjas: plataforma conecta usuários com profissionais da sua região, como professores, pedreiros, advogados e adestradores de cães (GetNinjas/Divulgação)
Carolina Ingizza
Publicado em 10 de outubro de 2020 às 06h00.
“Empreender é o que ajuda a sair da crise”, declarou Eduardo L’Hotellier, CEO do GetNinjas, em palestra no Fórum Estadão Caminhos e Carreiras.
A plateia, formada por jovens estudantes, bombardeava o WhatsApp disponibilizado com questões sobre os desafios da escolha que para o líder do site de classificados online havia sido tão acertada.
“Empreender é resolver o problema de alguém. Na crise, mais problema, mais oportunidade”, completou o engenheiro de computação.
Com pouco mais de 30 anos, quando lançou o GetNinjas, há sete, era ainda bem jovem. Ele não descarta que a idade traz sabedoria que influencia positivamente o ato de empreender, mas pontua que os riscos são menores da outra forma. “Se você é jovem, custa menos”, explica.
No começo, a plataforma de contratação de serviços diversos – chefe particular a fotógrafo e pedreiro – era chamada de “Cidade dos Bicos”. Só depois do primeiro aporte (de 6 milhões de reais) mudou para “GetNinjas”.
Hoje, com um bom escritório em bairro nobre de São Paulo, um time de 110 funcionários e depois do segundo investimento (de 40 milhões de reais), Eduardo tem muito a contar sobre sua trajetória. Confira oito lições de empreendedorismo do CEO do GetNinjas.
Com passagem na McKinsey e na Angra Partners, o jovem CEO vê que parte do aprendizado necessário – como resolução de problemas, contratação, conexões – desenvolveu nas companhias onde atuou. Quando perguntado se ele considera que é melhor empreender depois da faculdade ou procurar colocação em uma grande empresa, respondeu: “uma boa experiência faz toda a diferença”.
Eduardo já tinha as linhas gerais da sua ideia de negócio, mas sem verba e tempo, não se empenhou em executá-la. Após comentar suas dificuldades, um amigo lhe sugeriu uma ferramenta que viria a ser o passo inicial da plataforma “Cidade dos Bicos”: um recurso de site pronto, com preço acessível. Para o CEO, o GetNinjas não existiria não fosse a recomendação do amigo, ou seja, não existiria se ele não tivesse conversado sobre. “Uma ideia brilhante não executada é uma conversa de bar”, brincou.
Outra das lições de empreendedorismo do CEO do GetNinjas veio em forma de uma metáfora. Segundo Eduardo, empreender parece ainda mais complicado quando nos preocupamos em entregar um carro, de primeira. Um carro tem muitas peças e a fabricação de cada uma demora – ao mesmo tempo, sem elas, o veículo não cumpre sua função. Por sua vez, o skate é um meio de transporte completo e mais simples de ser construído. Moral: no começo, é melhor entregar um produto que cumpra as funções, mas simplificado, do que focar em cada peça da versão ideal de sua criação e demorar a entregar a solução proposta. Assim, você tem o que mostrar para potenciais investidores, clientes e até prestadores de serviço.
Sem dinheiro e com três pessoas na equipe – uma delas um estagiário apelidado de “estagiequity” por ser pago com ações – não era possível contratar uma assessoria de imprensa. Então, o time decidiu entrar em contato com diversas assessorias pedindo um favor: que ajudassem na divulgação em troca de portfólio – tarefa que ficou para o estagiequity. “Muitos não responderam e quase ninguém topou porque portfólio não paga as contas”, relembra Eduardo. Por fim, uma empresa topou e conseguiu emplacar uma matéria. Por meio dessa publicação, uma firma de investimentos entrou em contato e fez o primeiro aporte na “Cidade dos Bicos”.
A premissa do GetNinjas é contratar, com facilidade, serviços como de reforma, limpeza, manutenção e aulas particulares. Partindo desse princípio, Eduardo conta que o intuito inicial era que os orçamentos (e negociações) fossem feitos online, antes de qualquer visita. Os pedreiros cadastrados na plataforma avisaram a ele que para dar um preço precisariam visitar e avaliar as condições, mas o time não repensou mudar o formato. Até que precisaram de um serviço de construção no primeiro escritório do GetNinjas. Fecharam com o prestador online, mas foi só quando ele os visitou para o trabalho que descobriu que dois canos inviabilizariam totalmente a reforma. O engano fez a equipe reconsiderar e mudar as políticas de negociação.
Quando começou a se dedicar full time a seu negócio, Eduardo teve de largar um emprego em que ganhava cinco vezes mais, tinha estabilidade e estrutura. Ele explica que no primeiro momento a decisão de empreender requer muitas adaptações e pode parecer um retrocesso, e que isso é comum. “Empreender é sacrifício”, resume. No entanto, isso não quer dizer que não deva ser feito ou que não vai dar certo.
Assim que começou a se dedicar com mais afinco ao empreendimento, seu sócio passou em um concurso público e trocou a insegurança do “Cidade dos Bicos” pela oportunidade. Na hora de dividir a sociedade, não houve problema porque os dois acordaram os melhores termos para ambos os lados. No entanto, sem qualquer registro oficial das conversas e negociações (sem ser alguns e-mails), se fosse outra pessoa, poderia tentar se beneficiar posteriormente. Por isso, o CEO recomenda agregar pessoas de confiança e manter documentos oficiais com as principais decisões. A questão “equipe” ainda é o maior desafio para Eduardo. “Ninguém empreende sozinho”, diz. Outro ponto que menciona é o possível abalo que a saída de algum membro possa causar no início, quando “os investidores estão apostando em você, não na sua marca”.
De acordo com Eduardo, o empreendedor deve dar ouvidos aos que criticam, principalmente no início da trajetória. No início, a maior parte das pessoas vão elogiar e apreciar seu esforço, e vai ser raro alguém com coragem para se manifestar sinceramente, inclusive sendo negativo, mas talvez seja exatamente o que você precisa ouvir – ou por estar errado, ou para melhorar em algum aspecto.
*Este artigo foi originalmente publicado pelo Na Prática, portal da Fundação Estudar.