São Paulo – As notícias de aporte de fundos estrangeiros em startups brasileiras são cada dia mais comuns. Com mais empreendedores preparados, estes investidores começam a ser sentir mais confortáveis para fazer aportes por aqui. Na maioria das vezes, as conversas duram alguns meses e o contato pode vir direto do fundo ou através de outros empreendedores ou investidores-anjo. As startups passam, então, por um processo de profissionalização, que costuma incluir a transformação da empresa em uma sociedade anônima e a formação de um conselho de administração. Nas próximas páginas, oito empresários contam como atrair os olhares – e dólares – de um sócio investidor estrangeiro.

O portal Minha Vida, especializado em informações de saúde e bem-estar, recebeu um aporte da Intel Capital e da Endeavor Catalyst. Daniel Wjuniski, sócio-fundador do site, conta que a aproximação aconteceu durante um evento, na Califórnia. “Nós não estávamos procurando investidores até aquele momento, mas, após essas conversas, decidimos começar um processo competitivo para identificarmos com quem mais gostaríamos de trabalhar”, diz. O conselho de Wjuniski é estar com o pitch na ponta da língua. “A dica é estruturar um bom pitch para o negócio e abrir um processo competitivo em busca do melhor sócio”, afirma.

O Peixe Urbano já recebeu aportes de vários investidores estrangeiros, como os americanos Morgan Stanley e T. Rowe Price Associates. Julio Vasconcellos, sócio-fundador e CEO da startup, conta que morar nos Estados Unidos fez toda a diferença. “Fiz um MBA em Stanford e trabalhei por um tempo no Facebook. A rede de contatos que foi construída nesta época foi essencial”, diz. Para ele, mostrar que tem uma equipe competente é importante. “Além de mostrar o potencial da sua ideia e da oportunidade do negócio, é fundamental mostrar a força da equipe que irá executá-la, assim como uma visão de longo prazo”, conta.

A startup Easy Taxi, que ajuda a localizar um taxi, recebeu recentemente 10 milhões de reais da Rocket Internet para fazer o negócio crescer. Tallis Gomes, CEO da empresa, conta que ficou em dúvida se este era o melhor caminho. “A gente nunca ficou pensando muito em fundo. Fiquei reticente em ter esse novo sócio, porque poderia vir algo que a gente não concordasse”, diz. Depois de várias conversas, Gomes mudou de ideia. “O importante foi colocar na balança o quanto queria crescer e em quanto tempo. Você precisa de investimento para crescer rápido. Equity de zero vale zero. O aporte vale a pena mesmo que você tenha que perder algo da empresa”, diz.

O Pagpop é um meio de transformar o celular em uma maquininha de cartão de crédito. O aporte da Intel Capital veio depois do empreendedor Márcio Campos passar por um processo de aceleração. “Isso gerou uma exposição maior da nossa empresa”, conta Campos. Para ele, as startups precisam provar que conseguem crescer na velocidade que o investimento vai demandar. “É ter a percepção que a companhia pode ser grande e prepará-la para escalar na velocidade que o mercado pedir”, diz.

A MadeiraMadeira, loja virtual de materiais de construção e acabamentos, foi criada em 2009 e, neste ano, recebeu investimento dos fundos Kaszek Ventures e Flybridge Capital Partners. “Eu acredito muito na entrada dos investidores, que trazem tanto crescimento para a empresa quanto para mim”, conta Daniel Scandian, CEO e cofundador do site. Para ele, quem precisa de capital para fazer o negócio crescer deve conversar com outras startups. “É bom conversar bastante com empreendedores, pedir indicações e saber como funciona na prática. Os empreendedores novos tem desvantagem de não saber a prática de buscar investidor. Existe uma coisa que os caras querem escutar”, conta.

Em junho deste ano, o site de venda de flores e presentes Flores Online vendeu parte da empresa para a americana 1-800-flowers.com, em uma transação que contou com a participação do fundo de private equity brasileiro BR Opportunities. Segundo Eduardo Casarini, diretor da Flores Online, a entrada de um sócio estrangeiro foi fundamental para acelerar o crescimento. “Ou a gente continuava crescendo organicamente ou só teria um crescimento mais acelerado tendo novos sócios”, conta. Para ele, quem quer atrair os olhares de um investidor estrangeiro precisa manter a empresa organizada. “É importante organizar a empresa de forma financeira e contábil para, quando for a hora, esses possíveis sócios encontrarem uma coisa organizada”, explica.

A eÓtica comercializa óculos e lentes de contato pela internet. Criada no final do ano passado, a empresa recebeu um aporte do fundo Kaszek Ventures, baseado na Argentina. Bruno Ballardie, CEO e cofundador, diz que a aproximação aconteceu por que um dos sócios da startup já estava familiarizado com alguns fundos. O aporte veio depois de quatro meses de conversa e muitos documentos assinados. Para chamar a atenção, é preciso ter algo concreto para apresentar. “Ser empreendedor para colocar o site no ar e mostrar que o que você está criando tem demanda e já está gerando vendas ou tem muito acesso”, diz.

A Bebê Store nasceu em 2009, com investimento de 200 mil reais. No próximo ano, espera chegar a 100 milhões de reais em faturamento. Leonardo Simão, cofundador, acredita que o investimento do fundo Atomico foi primordial para o crescimento. Em busca de um investidor, ele conta que recebeu um contato do gestor do fundo no Brasil e depois de três dias de conversas o aporte foi fechado. “Uma das coisas que chamou bastante atenção foi nossa gestão e metodologia de controle”, diz. Simão dá a dica para quem quer seguir o mesmo caminho: “Tenha um planejamento bem feito, apesar da startup não seguir um business plan à risca, tem que ter um guideline bem estruturado para navegar com foco e modelo bem definidos”, diz.