Havaianas: A Alpargatas se volta ao exterior em meio à fraca recuperação econômica em seu país de origem (Germano Lüders/EXAME.com/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 13 de junho de 2018 às 11h34.
Alpargatas, a fabricante brasileira das sandálias Havaianas, aposta que a famosa cultura do surfe na Califórnia a ajudará a conquistar clientes na maior economia do mundo e a compensar a fraqueza em seu mercado doméstico.
A empresa está transferindo a sede de suas operações nos EUA para Los Angeles e mantendo um escritório em Nova York com a esperança de fortalecer a marca. “Na costa oeste tem um cluster na área de praia e esportes bem mais forte”, disse o CEO Márcio Utsch, em entrevista por telefone.
Como parte de sua expansão nos EUA, a Alpargatas recontratou Eno Polo, o executivo encarregado das operações europeias da empresa de 2008 a 2016. A companhia, dona das marcas esportivas Topper e Mizuno e da marca de roupas Osklen, além da Havaianas, também focará na Flórida -- outro estado americano conhecido pela cultura de praia.
“A nossa meta é crescer duplo dígito, ano após ano”, disse Utsch, em referência ao mercado americano. “EUA, Colômbia e Índia são nossa prioridade.”
A Alpargatas se volta ao exterior em meio à fraca recuperação econômica em seu país de origem. “A economia [do Brasil] está travada”, disse Utsch, citando o desemprego elevado, a confiança persistentemente baixa do consumidor e a volatilidade em virtude das eleições presidenciais do País. Os reflexos desse ambiente foram sentidos nas ações da empresa, que caíram 30% desde o começo do ano. O recuo contrasta com o declínio de 5,4% do Ibovespa -- e tem preocupado os investidores.
“Decidimos reduzir nossa exposição à empresa por virtude de um cenário desafiador nas economias argentina e brasileira”, disse Gustavo Gato, gerente de fundos da Explorador Capital Management. Ele citou também a “expansão muito gradual” da companhia em outros mercados.
A Alpargatas vendeu mais de 47 milhões de pares de sandálias Havaianas no Brasil no primeiro trimestre, em comparação a cerca de 7 milhões em outros mercados.
A empresa está se reorganizando após um acordo de R$ 3,5 bilhões, no ano passado, pelo qual um grupo de controladoras das bilionárias famílias Setúbal e Villela assumiu o controle da Alpargatas, antes administrada pela família Batista, assolada por escândalos de corrupção. Os investidores são a Itaúsa - Investimentos Itaú, a Cambuhy Investimentos e a Brasil Warrant.
A Alpargatas adotou medidas para melhorar sua governança corporativa, como indicar dois membros independentes para o conselho e mais que dobrar o número de reuniões do conselho, disse o presidente do conselho da Itaúsa, Alfredo Setúbal, em entrevista.
“Primeiro estamos conhecendo a companhia, arrumando a governança”, disse Setúbal. “Depois disso, vemos a possibilidade de mudanças operacionais, de melhorar a eficiência e ganhar market share.”