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Um 2018 de otimismo renovado para as montadoras

Oito montadoras comunicaram que vão investir quase 15 bilhões de reais até 2022. Mas a base de comparação é baixa: o setor está nos níveis de 10 anos atrás

Montadoras: mercado de automóveis deve se aproximar de 2,5 milhões de unidades vendidas em 2018 (Germano Lüders/Exame)
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Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2018 às 13h28.

Última atualização em 3 de janeiro de 2018 às 13h43.

Poucos dias antes do fim de 2017, a Ford, montadora americana de automóveis e caminhões, anunciou que aumentará a produção de veículos pesados em São Bernardo do Campo (SP) em 45% este ano.

Na mesma toada otimista, a Volkswagen anunciou investimento de 30 milhões de reais na área de ferramentaria para modernizar maquinário e elevar a produtividade.

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Esse movimento de retomada tem ecoado também nas outras fabricantes instaladas no Brasil.

Desde março do ano passado, ao menos oito montadoras comunicaram que vão investir quase 15 bilhões de reais no país até 2022.

Ainda que a indústria trabalhe com planejamento a longo prazo, já que o desenvolvimento de um novo modelo pode levar até três anos, os anúncios de investimentos representam uma reversão nos ânimos de um setor que sofreu um duro baque na crise.

A produção de veículos encolheu 42% nos últimos três anos, e as vendas seguiram pelo mesmo caminho. E há outro problema no radar: o setor automotivo terminará o ano sem ter as regras do jogo postas a mesa.

O esperado anúncio do Rota 2030, programa que regerá a indústria nos próximos anos, não foi feito na última semana do ano, como o esperado.

A divulgação do documento já foi protelada por dezenas de vezes nos últimos meses.

Segundo Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação que representa as fabricantes de veículos, o problema é político, uma vez que as demandas já foram exaustivamente discutidas.

“Há um problema entre os ministérios. Como o país tem sofrido uma sequência de cortes no orçamento, há divergências sobre possíveis incentivos à indústria e o documento não conseguiu ser encaminhado”, diz.

O fato é que o programa que rege a indústria neste momento, o Inovar-Auto (aprovado pelo Governo Dilma Rousseff e com foco em inovação e proteção a indústria nacional), só valia até o fim de 2017.

“Essa falta de previsibilidade incomoda e impede que as fabricantes tenham planos realistas”, afirma Megale.

Mesmo que o Rota 2030 seja anunciado em breve, a indústria já sabe que o pacote de estímulos fiscais ficará longe das concessões do passado.

Na lista de possíveis benefícios estão previstos incentivos em forma de créditos fiscais para empresas que comprovarem a intenção de fazer pesquisa e desenvolvimento de produtos no país.

Além disso, uma tributação diferenciada para veículos, de acordo com a emissão, também entraria na lista.

Ainda que dependa das regras estipuladas pelo governo para preparar as estratégias, a indústria tenta caminhar com as próprias pernas para ganhar tempo.

Para este ano, a previsão é de alta de 9,5% nas vendas de veículos — o primeiro avanço em quatro anos.

“A melhora no cenário econômico reflete em uma inflação menor, juros menores, redução do desemprego e aumento da confiança do consumidor, o que nos leva a esperar um crescimento de dois dígitos para o próximo ano”, afirma Megale.

“Buscamos investir em inovação para que ela seja cada vez mais estratégica no desenvolvimento de novos modelos no Brasil e também de projetos globais do Grupo Volkswagen”, diz o presidente e CEO da Volkswagen América do Sul e Brasil, Pablo Di Si.

Na Ford, a estratégia é tentar olhar para dentro de casa e se desvencilhar ao máximo do cenário macroeconômico pouco previsível.

“Desde outubro a indústria voltou ao patamar de vendas de 5.000 caminhões por mês e deve fechar o último trimestre com um crescimento de 35% comparado ao mesmo período do ano passado. Isso nos levou a redimensionar o programa de produção”, diz Carlos Gasquez, gerente nacional de Vendas da Ford Caminhões.

Segundo previsões da consultoria especializada em indústria automotiva Jato Dynamics, o mercado deve se aproximar de 2,5 milhões de unidades vendidas em 2018 — número próximo ao observado em 2008.

“O segmento de utilitários esportivos deve ser o destaque com alta de 2,8% na participação, mas os carros de entrada ainda dominarão com aproximadamente 40% do mercado”, avalia Milad Kalume Neto, gerente da Jato Dynimics.

As previsões, entretanto, continuam embasadas na expectativa de crescimento concentrada em dois dos três pilares de possíveis de alta: vendas diretas e exportações.

“As vendas para pessoas físicas ainda não terão uma alta expressiva, pois há um intervalo maior até que a percepção de melhora chegue ao consumidor final”, diz o consultor especializado em indústria automotiva Valdner Papa.

Empresas como Uber, Easy Taxi, 99 Taxi, Localiza e Movida passam a ter papel ainda mais relevante para ajudar a indústria a somar vendas — ainda que essa possa não ser a intenção original.

Afinal, o crescente movimento pelo uso e não necessariamente a posse de veículos culmina com o aumento das vendas diretas para pessoas jurídicas, que já respondem por mais de um terço do mercado total.

O movimento da mudança na mobilidade é tão claro que as ações da Localiza, por exemplo, subiram dobraram de valor em um ano, figurando como uma das melhores ações do Ibovespa.

As exportações compõem o outro pilar que deve garantir a em alta em 2018. A receita com vendas externas avançou 45,9% de janeiro a novembro, para 8 bilhões de dólares. As vendas a outros países já absorvem 37% da produção de caminhões no Brasil, por exemplo — um avanço de dez pontos percentuais em relação a uma década atrás. “Acordos comerciais e a exploração de novos mercados, na África e Ásia, por exemplo, ajudam nesse crescimento. A negociação da União Europeia com o Mercosul deve ganhar capítulos importantes em 2018 e ajudar a conquistar novos mercados nos próximos anos”, avalia o presidente da Anfavea.

Sobram incertezas para o setor. Mas o pessimismo ficou para trás em 2018.

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