Uísque: a criação de uísques com sabores cada vez mais obscuros segue os passos da vodca, mas compradores se cansaram dos aromas (Veja)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 21h00.
Londres - Para as destilarias de vodca que tentaram conquistar consumidores com sabores como marshmallow e cupcake, o tiro saiu pela culatra, pois os compradores se cansaram dos aromas.
Isso não impediu que os produtores de uísque tentassem o mesmo truque.
Depois do sucesso do Jack Daniel’s Tennessee Honey, com aroma de mel, a criação de uísques com sabores cada vez mais obscuros — como o Piehole, da Diageo Plc, com gosto de torta — segue os passos da vodca, em um caminho onde variedades incomuns como o aroma a grama recém-cortada geraram uma resposta negativa dos consumidores e contribuíram para a desaceleração da categoria.
“A extensão desse tipo de linha desenfreada foi o que minou a categoria da vodca nos EUA”, disse Martin Deboo, analista da Jefferies em Londres.
Ao contrário da vodca, em que os sabores ofereceram o principal impulso para o crescimento em mais de duas décadas, o uísque não se presta a tais extensões tão amplas.
Embora a maioria dos uísques aromatizados exista há poucos anos, o presidente da Diageo na América do Norte, Larry Schwartz, falou no mês passado que a “fadiga do sabor” que prejudicou as vendas de vodca está fazendo o mesmo com o uísque, colocando em perigo um dos segmentos que mais rapidamente cresceu no setor de US$ 453 bilhões dos destilados.
A mais recente safra de uísques aromatizados está em busca de um “atrativo populista transitório, que poderia ser tão evanescente quanto destrutivo para o valor da marca”, disse Deboo.
A Absolut, que pertence à Pernod Ricard SA desde 2008, começou a lançar vodcas aromatizadas em 1986 com a Absolut Peppar – utilizada como base para o Bloody Mary – e agregou Citron dois anos depois. Ao longo da última década, as vodcas aromatizadas impulsionaram em 13 por cento o volume nos EUA, em média, em comparação com 4 por cento para as vodcas tradicionais.
Só no ano passado, mais de 200 vodcas novas foram lançadas, e as aromatizadas equivaleram a cerca de um quinto do mercado de vodca dos EUA.
Rosquinha com glacê
Essa conta recuou cerca de 2 pontos porcentuais à medida que os consumidores se voltaram a novas opções sem aroma, como Tito’s Handmade Vodka.
Novas variedades aromatizadas – Violeta, Cupcake e Rosquinha com glacê – também surgiram de surpresa. A variante Fluffed Marshmallow da Smirnoff, da Diageo, emanava “um aroma etéreo e a sutil doçura de sua fabricação”, de acordo com um comunicado de imprensa de 2011.
As coisas ficaram ainda mais esquisitas no ano seguinte, quando a Pernod lançou a vodca Oddka, com sabores como eletricidade, torta de maçã e grama recém-cortada. “O sabor é exatamente o que está descrito na garrafa”, disse um comentarista sobre a variante de grama na Amazon.com. “Se isso é bom ou ruim, é subjetivo”. A Oddka obteve um “sucesso relativo” e já não está disponível em todos os EUA, disse Pierre Pringuet, o extrovertido CEO da Pernod em setembro.
"Insanidade"
Os aromas estão conduzindo cerca de dois terços do crescimento dos uísques norte-americanos, de acordo com a Diageo, que deve informar amanhã seus lucros do primeiro semestre. Em grande parte, isso se deve ao Jack Daniel’s Tennessee Honey, que agora equivale a mais de 10 por cento do volume da principal marca da Brown-Forman Corp. e ao Jim Beam’s Red Stag, da Beam Suntory Inc.
Os uísques aromatizados foram responsáveis por apenas 3,3 por cento do volume de uísque nos EUA em 2013, de acordo com a empresa de acompanhamento de dados IWSR, embora tenham crescido cerca de 87 por cento por ano, em média, desde 2008.
Os aromas “ampliaram incomensuravelmente” o atrativo do uísque, escreveu o analista da IWSR Daniel Mettyear na mais recente perspectiva do setor publicada pela empresa. “Muitos consideram que que isso seja só o começo”.
E aí está o problema. Por exemplo, pense em Piehole: a bebida mistura maçã, noz-pecã e bebidas com aroma de cereja ao uísque canadense para criar “sabores adoráveis” que “seu comedor de tortas com certeza vai adorar”, disse a Diageo em um comunicado de imprensa de novembro. A revista Food Wine considerou que o produto é “um novo patamar de insanidade”.