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Trem-bala impacta lucros de companhias aéreas da China

A ferrovia de alta velocidade tornou-se o maior competidor para as companhias aéreas dada a maior frequência de trens e a permissão a chamadas telefônicas


	Pessoas vendo o trem-bala na estação em Xangai: a linha transportou 40% mais passageiros em seu segundo ano de operação até junho
 (ChinaFotoPress/Getty Images)

Pessoas vendo o trem-bala na estação em Xangai: a linha transportou 40% mais passageiros em seu segundo ano de operação até junho (ChinaFotoPress/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de agosto de 2013 às 11h45.

Hong Kong – Durante duas décadas, Liu Yueping voou de primeira classe pela China Southern Airlines Co. entre Changsha e Shenzhen. Neste ano, ela tomou um trem-bala e gastou um quinto dos 2.000 yuans (US$ 327) que teria pagado para voar.

A troca não se deu pelo dinheiro. A viagem de três horas e meia pela linha de alta velocidade entre Changsha, na região central da China, e Shenzhen, no sul, nunca atrasa e permite chamadas telefônicas, ao contrário do avião, disse ela. “Agora que temos o trem-bala, quem irá pegar avião?”, disse Liu, 50, que é dona de uma empresa de investimento em propriedades e viaja de oito a dez vezes por ano entre essas cidades.

Passageiros frequentes como Liu migrando para o trem de alta velocidade são um obstáculo para os ganhos das companhias aéreas chinesas, já confrontadas por tarifas mais baixas e sobrecapacidade. Os viajantes da China, onde um quarto das decolagens atrasa, também estão escolhendo o trem-bala após a abertura de uma nova linha entre Pequim, no norte, e Guangzhou, no sul, que conecta 28 cidades pelo caminho.

“O que realmente está matando as companhias aéreas são os atrasos nos voos”, disse Andrew Orchard, analista do CIMB Group Holdings Bhd. em Hong Kong. A ferrovia de alta velocidade tornou-se o maior competidor para as companhias aéreas dada a maior frequência de trens, disse ele.

Oito horas

A linha Pequim-Guangzhou, a mais extensa do mundo, com 2.298 quilômetros, foi aberta em 26 de dezembro, reduzindo o tempo de viagem de trem entre as duas cidades para oito horas, quando antes demorava quase um dia. Está programada a extensão mais ao sul, a Hong Kong, até 2015.

A China Railway Corp., a operadora ferroviária estatal, impulsionou seu orçamento em ativos fixos em 10 bilhões de yuans, para 660 bilhões de yuans, e investirá mais de 50 bilhões de yuans na compra de locomotivas, trens-bala e material rodante, informou a agência oficial de notícias em 7 de agosto.


No final do ano passado, cerca de 10 por cento da rede ferroviária de 98.000 quilômetros da China era para trens de alta velocidade, segundo o site estatal China.com.cn.

Acidente fatal

Em julho de 2011, 40 pessoas morreram quando um trem-bala com problemas chocou-se com outra locomotiva.

Ainda assim, o número de passageiros nas estradas de ferro aumentou em 11 por cento no primeiro semestre de 2013, em comparação com os 4,8 por cento de todo o ano de 2012, segundo a China Railway.

A linha de trem de alta velocidade entre Pequim e Xangai -- a rota aérea mais movimentada -- transportou 40 por cento mais passageiros em seu segundo ano de operação até junho, segundo a Xinhua, a agência oficial de notícias.

As companhias aéreas chinesas aumentaram o total de passageiros em 9,2 por cento em cada um dos dois últimos anos, mostram dados do órgão regulador da aviação. Este é o crescimento mais lento desde 2006, ano em que o regulador começou a disponibilizar os dados, com exceção de 2008, durante a crise financeira global.

Queda no preço

O preço médio de uma passagem aérea na classe econômica na rota Changsha-Shenzhen vem caindo a cada mês em 2013 em relação ao ano anterior, mostram dados compilados pela Sabre Airline Solutions, com sede em Dallas. A tarifa caiu 5,8 por cento, para 1.172 yuans em julho.


A China Southern, a maior companhia aérea do país em receitas, caiu 0,3 por cento fechando a 3,03 dólares de Hong Kong nos negócios em Hong Kong. A Air China Ltd., a segunda maior, subiu 1,9 por cento, chegando a 5,35 dólares de Hong Kong, e a terceira colocada China Eastern Airlines Corp., avançou 3,6 por cento, a 2,60 dólares de Hong Kong. As ações das três empresas caíram mais de 16 por cento neste ano e tiveram desempenho pior que o Hang Seng Index, o índice da bolsa de Hong Kong.

Empresas e funcionários do governo estão atendendo um pedido do presidente chinês, Xi Jinping, para gastar menos, cortando orçamentos de viagem e reduzindo os ganhos das companhias aéreas.

Resultados mais fracos

O lucro do primeiro semestre da Air China, excluindo ganhos com câmbio estrangeiro, cairá 79 por cento, para 260 milhões de yuans, segundo o Credit Suisse. Sem os ganhos cambiários, a China Southern e a China Eastern podem registrar uma perda de 696 milhões de yuans e 1,3 bilhão de yuans respectivamente, uma virada diante dos lucros do ano anterior.

O risco de atrasos nos voos incentivará mais passageiros domésticos de longas distâncias a optar pelos trens, disse Orchard, do CIMB.

“Você não tem só que chegar cedo ao aeroporto. Você chega ao aeroporto cedo e espera uma ou duas horas para decolar”, disse Orchard. “Isso realmente tira competitividade das companhias aéreas.”

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