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Terceiro trimestre tem recordes de lucro e disparada de prejuízos

Dólar ajuda a inflar lucros de gigantes como Vale e a Petrobras, mas leva dezenas de empresas para o vermelho

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A safra de balanços do terceiro trimestre apresentou alguns resultados superlativos. Os 12,433 bilhões de reais que a Vale lucrou no período representam um salto de 172% sobre o que ganhou entre abril e junho. A Petrobras apresentou lucro de 10,852 bilhões, um incremento de 24%. De acordo com a consultoria Economática, as duas gigantes do capitalismo brasileiro só ficam atrás das petrolíferas americanas ExxonMobill e Chevron entre as companhias americanas e latinas que já apresentaram seus números trimestrais. A Petrobras também se destacou pelo acumulado do ano - 26,560 bilhões. Trata-se do maior lucro, para um período de nove meses, já registrado no Brasil. Em meio à crise financeira que sacode o mundo, outras três empresas - Vale, Bradesco e Itaú – também acumulam ganhos suficientes neste ano para figurar entre os 20 maiores lucros de companhias brasileiras para períodos acumulados em nove meses.

Das 443 empresas listadas na Bovespa, 192 divulgaram seus resultados até quinta-feira (13/11). No conjunto, essas companhias lucraram 40,365 bilhões de reais no trimestre. A cifra é 18% maior que os 34,268 bilhões que o grupo conseguiu entre abril e junho. É claro que o lucro reflete o esforço das companhias em gerar valor para seus acionistas, e, em plena crise, pode ser motivo de comemoração, quando se constata que mitos do capitalismo mundial, como a montadora americana GM, correm o risco real de falir, e bancos estrangeiros tidos como sólidos há alguns anos hoje lutam para se manter em pé. Estaria o Brasil escapando ileso do turbilhão global?

Infelizmente, não. Uma segunda olhada nos números divulgados até agora mostra que as brasileiras também foram atingidas. Ao lado dos recordes de algumas empresas, vê-se uma disparada dos prejuízos. Entre as 192 companhias analisadas, a quantidade das que fecharam no vermelho saltou de 20 para 42 do segundo para o terceiro trimestre. E as cifras envolvidas cresceram bem mais. De abril a junho, o prejuízo das desafortunadas foi de 1,696 bilhão de reais – uma média de 84,8 milhões por empresa. No terceiro trimestre, as perdas alcançaram 5,427 bilhões, ou 129,2 milhões por companhia.

Várias empresas que fecharam setembro no azul também não têm muitos motivos para comemorar. Das 150 companhias lucrativas no período, 72 registraram ganhos menores que os do segundo trimestre. Esse grupo obteve 14,3 bilhões de reais de abril a junho. Nos três meses seguintes, seus ganhos caíram 24%, para 10,9 bilhões. 

Quem mais ganhou nos últimos meses
Empresa2º trim* (R$ milhares)3º trim* (R$ milhares)Variação (%)
Vale4.572.98612.433.387172
Petrobras8.783.32610.851.88424
Eletrobras142.8482.113.7121380
Bradesco2.002.4311.910.235-5
Itaubanco2.040.6821.847.642-9
Gerdau1.863.596967.137-48
Ambev402.083949.036136
Itausa851.848919.1428
Usiminas860.775880.4512
Unibanco756.782703.536-7
*Lucro líquido
Fonte: Economática
Quem mais perdeu no trimestre  
Empresa 2º trim* (R$ milhares) 3º trim* (R$ milhares)
TAM S/A50.197-112.696
Hypermarcas26.682-113.568
Paranapanema90.029-121.499
Quattor Petr42.910-137.932
Klabin S/A174.972-253.142
Suzano Papel185.561-293.074
V C P134.372-585.465
Sadia S/A119.912-777.378
Braskem382.660-849.170
Aracruz263.655-1.657.663
* Lucro ou prejuízo líquido
Fonte: Economática

Fiel da balança

É claro que uma amostra tão diversificada de empresas esconde sazonalidades e outras peculiaridades de um ou outro setor e problemas pontuais de companhias. Mas, em linhas gerais, um fator é lembrado por todos os analistas como determinante dos resultados deste trimestre: a disparada do dólar. "O câmbio pesou sobre as empresas, para o bem e para o mal", afirma Eduardo Roche, gerente de análise do Modal Asset. "Mas o efeito foi muito menos devastador que em 1999, ano em que o câmbio passou a ser flutuante e muitas empresas estavam endividadas em dólar", diz Marco Aurélio Barbosa, chefe de análise da corretora Coinvalores. Entre o início de julho e o último dia de setembro, o dólar comercial para venda subiu 19%.

A Vale foi uma das que se beneficiaram com o salto da moeda americana. Além de atender a um mercado ainda aquecido – as siderúrgicas só começaram a cortar a produção em outubro -, a alta do dólar gerou um impacto positivo de 2,8 bilhões de reais sobre o lucro antes de Imposto de Renda. A Petrobras também se saiu bem. A desvalorização do real trouxe um efeito positivo de 3,5 bilhões de reais sobre os ganhos, e compensou a queda do lucro operacional. O aumento dos custos e o menor resultado operacional, aliás, foram os responsáveis pela surra que as ações da Petrobras tomaram na Bovespa no dia seguinte à divulgação dos números – uma queda de 13%, que empurrou o Ibovespa a fechar em baixa de 7,75%. Um sinal de que os investidores estão preocupados com a sustentabilidade dos negócios da empresa no longo prazo, em um cenário de queda do preço mundial do petróleo e de crescentes custos de exploração e extração.

Já a Sadia e a Aracruz tornaram-se os exemplos clássicos de como o câmbio gerou pesados prejuízos nos últimos meses. As empresas montaram posições em instrumentos de derivativos, com a aposta de que o real continuaria se valorizando. O acirramento da crise levou a uma fuga de capitais estrangeiros que pressionou o câmbio. Com a disparada, os contratos montados pelas duas tornaram-se uma dor-de-cabeça.

Mas há outras empresas que, mesmo sem se arriscar no movediço terreno dos derivativos, sentiram o golpe do câmbio. Uma delas é a operadora de telefonia GVT. De um lucro de 58 milhões no segundo trimestre, a companhia passou para um prejuízo de 9,6 milhões. Há tempos, os analistas mostram preocupação com o fato de a GVT não adotar medidas para proteger suas dívidas em dólar.

O setor elétrico também viveu os dois lados do câmbio neste trimestre. Das 20 empresas do setor que já divulgaram balanços, 12 registraram queda no lucro. Historicamente, as elétricas demandam muitos investimentos e possuem grandes dívidas em moeda estrangeira, o que as expõem em momentos como o atual. Já a Eletrobrás viu seu ganho saltar de 143 milhões para 2,1 bilhões de reais. A estatal possui recebíveis equivalentes a 7,2 bilhões de dólares atrelados ao câmbio. Por isso, o salto do dólar aportou um impacto positivo de 2,5 bilhões de reais nos números trimestrais. "A desvalorização rápida da moeda brasileira pesou nos resultados financeiros de muitas empresas", diz Gustav Penna Gorski, economista-chefe da corretora Geração Futuro.

A vez das receitas

O dólar seguirá pesando nos números das companhias no quarto trimestre. De 1º de outubro até a quinta-feira (13/11), a moeda americana já havia subido 21,34%. Mas os analistas estão mais preocupados com outra linha dos demonstrativos: a dos resultados operacionais.

A desaceleração econômica, que começou a ser sentida com mais intensidade a partir de outubro, já leva a medidas concretas de corte de produção em diversos setores. As filiais brasileiras de montadoras anteciparam as férias coletivas, por conta da queda de vendas de veículos novos. Siderúrgicas por todo o mundo anunciam diminuição de até 30% no volume de aço, e a própria Vale já afirmou que cortará a produção de minério de ferro neste trimestre. Construtoras e incorporadoras rebaixam suas previsões de lançamentos e vendas para este final de ano e para 2009. E assim por diante. Produzir menos significa faturar menos, e um número menor na primeira linha do balanço – o das receitas – é o que os analistas temem ver em muitas empresas.

"Os números do quarto trimestre já mostrarão a desaceleração da economia", diz Roche, do Modal. Já para Gorski, da Geração Futuro, os balanços virão "bagunçados". Isto é, haverá uma mescla de grandes exportadoras que ainda vão se favorecer da alta do dólar, com empresas voltadas para o mercado interno que refletirão a freada da economia. "Por isso, as perdas operacionais não devem ser generalizadas", diz. De qualquer modo, os próximos números serão uma oportunidade para avaliar não apenas a capacidade de as empresas driblarem a crise, mas também a força - e a direção - com que a ela está evoluindo.

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