Tchau, Zoom! As viagens de negócios voltaram e as cias. aéreas agradecem
Dados de quatro das principais empresas de viagens corporativas mostram que os assentos da classe premium estão sendo preenchidos novamente
Bloomberg
Publicado em 15 de maio de 2022 às 09h00.
Por Angus Whitley e Danny Lee, da Bloomberg Businessweek
Desde janeiro, Jen Coleman abandonou seu hábito de videoconferência, voando de sua casa em Londres, primeiro para Miami e depois para Melbourne, para visitar clientes pessoalmente — e com isso renovar contratos para sua empresa. “Passei dois anos no Zoom”, diz Coleman, 33 anos, que assessora a empresa de telefonia australiana Optus a gerenciar seu relacionamento com o piloto de Fórmula 1 Daniel Ricciardo. “Não é a mesma coisa.”
A experiência de Coleman é apenas uma pequena evidência que aponta para uma recuperação nas viagens de negócios. Os primeiros temores das companhias aéreas de que aplicativos de videoconferência como Zoom, Teams e Skype pudessem manter permanentemente os lucrativos viajantes de negócios em casa estão diminuindo à medida que os governos flexibilizam as restrições nas fronteiras e executivos redescobrem o valor comercial do contato humano.
Dados obtidos de quatro das principais empresas que gerenciam viagens corporativas mostram que dois anos após a covid-19 levar a aviação ao limite, os assentos da classe premium estão sendo preenchidos novamente. Os pessimistas “estavam errados”, diz Andrew Crawley, diretor comercial da American Express Global Business Travel, líder do setor. “Os viajantes de negócios estão voltando”.
Recuperação rápida
Isso será fundamental para reativar as companhias aéreas. Clientes corporativos normalmente oferecem retornos maiores do que aqueles que se espremem na classe econômica, tendo gastado mais de 1 trilhão de dólares em viagens em 2019, de acordo com o World Travel & Tourism Council.
Os negócios da Amex GBT recuperaram 61% do nível pré- pandemia. No auge do surto da variante ômicron, na virada do ano, esse patamar estava em apenas 25%.
A CWT, empresa de viagens de negócios que presta serviços a um terço dos membros do S&P 500, diz que as reservas hoje ultrapassam a metade dos níveis normais, contra apenas 20% no início deste ano. Os setores de tecnologia, varejo, governo e defesa estão liderando a recuperação, diz a CWT, e os bancos também estão se recuperando.
A FCM Travel, que está presente em quase 100 países, diz que os negócios estão em 80% do ritmo de 2019 e, em alguns lugares, superaram os níveis pré-pandemia. “Está voltando muito mais forte do que qualquer um esperava”, diz Bertrand Saillet, diretor administrativo das operações asiáticas da empresa.
Valorização na Bolsa
Embora ainda não se saiba se a recuperação conseguirá se sustentar — executivos podem fazer menos viagens de negócios do que antes quando passar a euforia inicial de um retorno às viagens —, o ritmo da recuperação está reforçando a confiança das companhias aéreas à medida que implantam frotas e mapeiam suas redes pós-pandemia.
O Índice Bloomberg World Airlines subiu cerca de 50% em relação à baixa de maio de 2020. A Delta Air Lines diz que as reservas domésticas de negócios atingiram 70% do nível de 2019, e quase todos seus clientes corporativos esperam viajar mais no trimestre atual.
A United Airlines diz que as viagens de negócios que cruzam o Atlântico já superam as que realizaram em 2019. “Acho que neste trimestre seremos capazes de resolver toda a questão: 'Estão voltando as viagens de negócios?'” disse o CEO da United, Scott Kirby, à Bloomberg Television. “O fato de as viagens de negócios estarem se recuperando tão rapidamente nos faz sentir muito, muito confiantes”.
China é exceção
A perspectiva não é uniforme. A recuperação está anêmica na China, que ainda está bloqueando cidades inteiras em uma tentativa de acabar com a covid-19, e em Hong Kong, onde visitantes estrangeiros precisam ficar em quarentena na chegada.
Muitos dos que ocupam os assentos mais caros são viajantes de lazer que chegaram a esse status através de pontos de fidelidade e assim, conseguem se distanciar dos outros passageiros — ou talvez apenas um pouco de mimo depois de serem impedidos de viajar por conta das restrições pandêmicas.
Não está claro se isso continuará assim que se estabelecerem as rotinas normais de viagem. “As pessoas estão preparadas para obter agora mais espaço”, disse Tony Douglas, CEO da Etihad Airways, à Bloomberg TV, observando que 90% de seus assentos de classe executiva estão ocupados por viajantes de lazer. “É o turismo da revanche”.
Viagens 'marginais' deixadas de lado
Alguns no setor dizem que deve haver um certo grau de contenção após dois anos de relativo sucesso com encontros virtuais. No mínimo, executivos se tornarão mais seletivos, deixando de lado as viagens marginais que lhes permitam ver colegas por pouco tempo, sem recompensa imediata e quantificável, diz Keith Tan, CEO do Conselho de Turismo de Singapura: “As pessoas preferem não ter que viajar horas e horas e passar pelo jet lag para reuniões, que agora sabemos que podemos fazer isso efetivamente pelo Zoom”.
Embora o serviço de reservas online da empresa Hotel Planner preveja que levará mais dois anos até que as viagens de negócios se recuperem totalmente, muitos executivos estão recuperando o tempo perdido.
Algo especial em encontros presenciais
A maioria das empresas que respondeu a uma pesquisa de abril da Global Business Travel Association dizem que estão colocando executivos de volta nos aviões à medida que os funcionários retornam ao escritório, e as viagens estão sendo canceladas com menos frequência.
O AustralianSuper, o maior fundo de pensão do país, está enviando gerentes ao mundo inteiro para supervisionar seus investimentos e conhecer as equipes. Em março, o CEO, Paul Schroder, voou para Londres, sua primeira viagem ao exterior desde a pandemia.
E, em julho, o comitê de investimentos do fundo irá ao Reino Unido em sua primeira viagem ao exterior pós-covid. “Não temos alternativa a não ser investir adequadamente para aproximar as pessoas”, diz Schroder. “Há algo de especial em se encontrar pessoalmente”. — Com Keira Wright e Kyunghee Park, da Bloomberg Businessweek
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.
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