EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.
Cercada por grandes empresas, como Acesita, Belgo Mineira e Usiminas, que faturam mais de 1 bilhão de reais cada uma e investem parte desses recursos em ações sociais geridas por imponentes institutos ou fundações, a ATF Estruturas Metálicas, uma pequena companhia localizada na cidade de Timóteo, no Vale do Aço mineiro, poderia se sentir intimidada a realizar qualquer ação social na comunidade na qual está inserida. Mas, com um faturamento de pouco mais de 1 milhão de reais no ano passado, ela tem encontrado maneiras eficientes de influenciar na melhoria da qualidade de vida de seus 101 funcionários e de crianças, adolescentes e adultos que residem nas suas proximidades. São pequenas ações internas e externas que, juntas, modelam um perfil de responsabilidade social.
Desde o início do ano passado, com doações mensais de 500 reais, a ATF contribui para manter vivo o Ajudou, um projeto que oferece aulas de judô para cerca 300 crianças carentes. Se elas não estivessem aqui, certamente estariam na rua fazendo qualquer coisa menos produtiva , diz o mineiro Anízio Tavares Filho, presidente e controlador da ATF, dentro de um galpão onde cerca de 20 meninos e meninas, vestidos com quimonos brancos, praticam golpes e se engalfinham num tatame.
Tavares Filho monitora pessoalmente os resultados dos projetos apoiados pela ATF. A empresa não é a única a colaborar, mas é uma das poucas que está sempre por perto acompanhando o que estamos fazendo , diz Júlio César Jacques, coordenador do Ajudou. No meio deste ano, entretanto, Tavares Filho decidiu que a ATF poderia fazer mais do que subsidiar a compra de quimonos e o pagamento de professores de judô. Senti que era hora de criarmos o nosso próprio projeto , diz ele.
Nasceu então o Plantar, um programa que oferece aulas de circo para crianças carentes de bairros próximos à empresa. Como não havia um professor especializado nas artes do picadeiro em Timóteo, cidade de 71 mil habitantes, a ATF contratou um professor de capoeira e subsidiou sua capacitação numa temporada de dois meses de cursos em Belo Horizonte. A partir de janeiro do próximo ano, cerca de 25 crianças selecionadas na comunidade começarão a se aventurar em trapézios e camas elásticas dispostas num ginásio construído pela empresa. Até lá, elas se mantêm ocupadas com aulas de capoeira, embaladas pelo som de berimbaus.
A operação do Plantar custará à ATF cerca de 12 mil reais por ano. Queremos ampliar o projeto para que ele possa beneficiar mais crianças , diz Tavares Filho. A empresa também se envolve com outras ações na comunidade de Timóteo. Ao saber que há anos os moradores dos sete bairros que cercam a empresa demandavam sem sucesso a implantação de um posto policial na região, os funcionários resolveram reforçar a campanha. Funcionou. Até o fim de dezembro, num lote comprado pela própria ATF, um posto policial, que contará com uma viatura e dez policiais, passará a oferecer segurança para cerca de 30 mil moradores. O projeto estava adormecido, até a empresa abraçar a causa , diz Marcinele Faria, comandante responsável pelo policiamento na cidade de Timóteo. Sem essas parcerias, nada sai do papel , afirma Sebastião Ferreira de Souza, presidente da associação de moradores do bairro Alphavile.
Os funcionários da ATF mostram orgulho em relação ao impacto dessas ações na comunidade local. Mas o que eles gostam mesmo de falar é que a vocação da empresa para ajudar pode ser vista com mais força dentro dela própria. Por meio do programa Mutirão, por exemplo, eles se reúnem nos fins de semana para construir a casa de colegas de trabalho ainda sem teto. Uma vaquinha entre as pessoas que passarão os dois dias de descanso na labuta garante metade dos tijolos e sacos de cimento. O resto é bancado pela empresa.
A mesma regra vale para as festas mensais que a empresa realiza para comemorar o aniversário dos colaboradores. Elas costumam durar horas, embora sejam regados somente a refrigerante. Nada de bebidas alcoólicas? Não , responde Tavares Filho. A empresa mantém uma parceria com a Clirec, uma clínica de recuperação para dependentes químicos. Temos o compromisso de contratar ex-dependentes para ajudá-los a se reintegrar à sociedade , diz ele. Atualmente, a ATF possui dois funcionários que passaram por programas de reabilitação. A regra faz sentido agora? , pergunta Tavares Filho.