Startup brasileira Decora é vendida por US$ 100 milhões
Criada em Florianópolis, empresa nunca havia recebido investimentos de fundos
Gian Kojikovski
Publicado em 15 de março de 2018 às 13h13.
Última atualização em 16 de março de 2018 às 11h36.
A startup brasileira Decora, especializada na criação de cenários de decoração em 3D, foi vendida para a americana CreativeDrive, companhia global de criação de conteúdo para moda e decoração, por 100 milhões de dólares, no segundo maior negócio com empresas de tecnologia do país no ano, depois da venda da 99 para a chinesa Didi Chuxing. Criada em Florianópolis, a Decora automatiza a criação de modelos de produtos e cenários 3D que são utilizados por e-commerces. Dessa forma, os clientes podem montar ambientes e editar, adicionar, remover e modificar as imagens de forma dinâmica, na própria plataforma.
Uma loja de móveis online, por exemplo, aumenta suas vendas se conseguir mostrar melhor o produto para seus clientes. Uma foto de uma cadeira num ambiente branco não é tão atrativa – nem tão vendável – como se ela estiver em um ambiente todo decorado. O problema é que montar esse ambiente não é tão fácil e prático. O que a Decora fez foi criar uma rede de colaboradores em todo o mundo para criar essas imagens em 3D e dar eficiência aos e-commerces que as utilizam, dando escala para um negócio que antes era lento. Se a loja online pedia para um estúdio criar uma sala com um tipo de cadeira, por exemplo, e depois quisesse colocar outro móvel, a mudança teria que ser feita manualmente.
A CreativeDrive comanda mais de 150 estúdios de criação ao redor do mundo, fazendo imagens de decoração e moda, e comprou a Decora justamente para automatizar o processo de produção dessas imagens e aproveitar a plataforma que é disponibilizada para os lojistas. A Decora tem clientes como os varejistas americanos como Bed Bath & Beyond, Target, Lowe’s, Jacuzzi, além de brasileiros como Portobello e Mobly.
Fundada em 2012 por Gustavo do Valle e Paulo Orione, dois estudantes de Administração de Florianópolis, Santa Catarina, a Decora tem uma história pouco usual para o setor, já que cresceu até a venda sem nunca ter recebido aporte de investidores externos. Além disso, eram pouco conhecidos e estavam abaixo do radar da mídia, de concorrentes e dos próprios investidores. Diferente de muitas startups, apostaram que focar no produto traria mais clientes do que aparecer e a estratégia deu certo.
A Decora mudou duas vezes o modelo de negócios antes de achar o atual nicho. Começou como uma espécie de marketplace para que pessoas interessadas em decoração contratassem profissionais que criar esses ambientes. O modelo não cresceu no ritmo esperado e os fundadores perceberam que seria melhor se aproximar de e-commerces que utilizassem esse tipo de material criado pelos designers e decoradores.
Por fim, notaram que era preciso dar escala à criação desse conteúdo, o que os estúdios com os quais concorriam não conseguiam fazer. Investiram em melhorar a tecnologia da plataforma e em captar profissionais freelancers de todo o mundo para ajudar a criar esse tipo de conteúdo. “O principal problema dos varejistas era ter a imagem dos produtos com boa qualidade e em um ambiente interessante. Percebemos que se pudéssemos escalar isso com uma comunidade de designers e se o cliente não precisasse fazer nada, apenas recebesse a cena, isso seria distuptivo. Hoje, a gente coleta os dados do site do cliente e entrega para ele quantas imagens ambientadas ele quiser dentro do site dele”, diz Gustavo do Valle, presidente da Decora.
Em 2017, a empresa escalou o volume de produção destas imagens com um crescimento de mais de 1000%, com o apoio de uma crescente comunidade de designers 3D espalhados por todo o mundo. Atualmente a Decora chega a ofertar por mês para seus clientes mais de 15 mil modelos de produtos 3D e mais de 7 mil ambientes digitais, para varejistas nos Estados Unidos e América Latina.
Ao longo do tempo, outros três sócios se juntaram aos fundadores, Rafael Assunção, Rodrigo Griesi e Daniel Smolenaars. Em 2015, com a ajuda do Sebrae-SC, a Decora começou a operar nos Estados Unidos, que se tornou o principal mercado da empresa, e chamou a atenção da CreativeDrive. “A CreativeDrive é o parceiro estratégico ideal para a Decora por trabalharem com marcas líderes e empresas os mais diferentes segmentos e indústrias. Têm reputação de alta qualidade e um alcance verdadeiramente global”, diz do Valle.