Softbank pode tomar WeWork: é o fim da era do vale-tudo?
Fundo japonês já é dono de 30% da empresa de escritórios compartilhados que vive num turbilhão de crises após IPO frustrado
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 06h56.
Última atualização em 14 de outubro de 2019 às 10h18.
A empresa de escritórios compartilhados WeWork pode virar símbolo de uma nova etapa do capitalismo global nos próximos dias. Exemplo máximo da era de juros baixos, dinheiro fácil e promessas ambiciosas dos últimos anos, a companhia pode finalmente ser tutelada por "adultos". Seria a mostra de que os tempos de euforia e grandes prejuízos ficaram para trás.
A mudança de postura tem sido puxada pelo maior investidor da WeWork e também maior fundo de investimentos do planeta, o fundo japonês SoftBank . Depois de concordar com a saída do dia-a-dia do fundador da startup, Adam Neumann, na semana passada, agora ao SoftBank prepara um novo pacote de financiamento que garantiria uma sobrevida à empresa e ainda lhe permitiria tomar o controle do negócio. O Softbank é dono de cerca de 30% da WeWork, e a companhia precisaria de cerca de 3 bilhões de dólares para sobreviver ao próximo ano, segundo o Wall Street Journal.
Foi graças a um financiamento de 2 bilhões de dólares do Softbank, no início de 2019, que Neumann começou a organizar uma abertura de capital que selaria seu destino. O plano era levar a empresa à bolsa com um valor de mercado superior a 40 bilhões de dólares e próximo a outro símbolo desta era, o aplicativo de transportes Uber.
Com o passar do tempo, foi ficando claro que a WeWork reuniu uma combinação inigualável de defeitos. Perdeu 900 milhões de dólares no primeiro semestre, e não tinha planos concretos para reverter os prejuízos. Estava mergulhada em conflito de interesses, pagando aluguel em prédios de Neumann e até royalties pelo uso da marca “We” a seu fundador. E ainda tinha uma postura sonhática sem precedentes: sua missão, conforme o prospecto de abertura de capital, era “elevar a consciência do mundo”.
A frustrada ida à bolsa foi demais até para o SoftBank — que no Brasil investe em empresas como a Loggi e o serviço de fretes de ônibus Buser. Aqui, como no resto do mundo, o alvo são startups em franco crescimento, que usam tecnologia e inteligência de dados para resolver problemas do dia-a-dia, e que sejam ambiciosas.
Em entrevista recente a EXAME, Masayoshi Son, dono do SoftBAnk, afirmou que busca empreendedores motivados por propósito e que tenham paixão no uso de dados para redefinir a maneira como vivemos. A reportagem mostrou ainda como funciona, na prática, a máxima de Son: o que você faria se dinheiro não fosse problema. Agora, em entrevista à revista japonesa Nikkei Business, Son afirmou que tem dito aos empreendedores que “conheçam suas limitações”.
O recado talvez valha para ele mesmo. Depois do megafundo de 100 bilhões de dólares que turbinou empresas como a WeWork, o Softbank está em dificuldades de levantar um novo fundo. Ambição tem limite, até para Neumann, até para Son.