Gado em pasto: o modelo de integração no mesmo terreno de cultivos agrícolas, criação de gado e preservação de florestas (iLPF) intensifica o uso do solo (REUTERS/Paulo Whitaker)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2014 às 06h35.
Ipameri - Um inovador sistema agropecuário desenvolvido por instituições públicas e privadas que combina a produção de grãos, leite, carne e madeira está revolucionando o campo brasileiro e se destacando como o melhor caminho para o desenvolvimento sustentável, segundo fontes do setor.
O modelo de integração no mesmo terreno de cultivos agrícolas, criação de gado e preservação de florestas (iLPF, na sigla em português) intensifica o uso do solo com a combinação de culturas agrícolas.
Após dezenas de testes realizados por engenheiros para que várias culturas cresçam ao mesmo tempo sem perda de nutrientes no solo, os pesquisadores concluíram que o produtor pode plantar milho e soja na mesma área tomada por pasto, que depois servirá de alimento para cabeças de gado.
"A intenção é fazer com que o produtor não tenha que comprar mais terras, mas possa intensificar a produção nos hectares férteis que já tem", explicou à Agência Efe Paulo Herrmann, presidente da companhia americana de equipamentos agrícolas John Deere no Brasil, que patrocina o sistema.
Herrmann participou neste mês, junto com produtores e políticos, da 8ª edição do Dia de Campo iLPF, evento organizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e pela John Deere, entre outros, e realizado na fazenda Santa Brígida, pioneira do sistema iLPF no estado de Goiás.
"Estamos às portas da segunda grande revolução agropecuária do Brasil, com um modelo de agricultura tropical baseada em fatos científicos no qual transformamos grandes extensões de solos pobres e as tornamos férteis", declarou à Efe o presidente da Embrapa, Mauricio Lopes.
Para Lopes, o "grande desafio" do campo brasileiro é adaptar a agricultura a um "contexto de mudança climática" e às limitações do novo código ambiental, "que não permite abrir novas zonas de cultivo".
Além disso, ele considera que a mão-de-obra no campo "se tornou cada vez mais difícil" devido ao processo de urbanização, e por isso, afirmou, é preciso "dar mais ênfase" ao desenvolvimento de máquinas e equipamentos "para que o trabalho no campo seja menos penoso".
Para Herrman, o iLPF é "a grande resposta que está sendo dada ao mundo de como se pode aumentar a produção sem degradar o meio ambiente".
Apesar da má fama do eucalipto, Herrman defende seu papel no sistema de integração e explica que esta árvore originária da Austrália, muito utilizada para o reflorestamento, absorve o gás metano produzido pelo gado e oferece sombra para que este possa comer longe do sol, evitando assim uma grande perda de gordura.
Herrman lembra que o começo do iLPF não foi simples porque, segundo contou, existe "certa resistência a qualquer coisa que não seja convencional". Ele acrescentou que a dona da fazenda Santa Brígida, Marize Porto, "se atreveu quando o resto era ainda cético".
Marize, por sua vez, lembra que em 2006, quando implantou o iLPF, a fazenda estava "muito destruída"; o pasto "quase não existia" e "as contas não fechavam para a reparação do solo". Mas com o sistema de integração, acrescentou, "a primeira colheita já deu lucro".
"Tínhamos quatro trabalhadores, e agora são 17. O método não é fácil porque são três atividades ao mesmo tempo, o colaborador tem que saber lidar com todas e não há operários formados no mercado", declarou Marize, que pediu que o sistema seja introduzido nos planos de estudo oficiais.