Senado pode votar lei que permite fusão da Warner (e compra da Oi)
AT&T é dona da Sky no Brasil e, ao assumir Warner, poderia precisar vender operadora para evitar concentração do mercado
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2019 às 06h13.
Última atualização em 18 de setembro de 2019 às 09h31.
São Paulo — O Brasil é o único país que ainda não aprovou a compra do conglomerado de mídia Warner pela gigante de telecomunicações americana AT&T, anunciada em junho do ano passado. A pauta está parada na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), mas o Senado pode se antecipar nesta quarta-feira 18 e mudar as regras que proibiriam o processo.
Em vigor desde 2011, a chamada Lei do Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) ou Lei da TV Paga (12.485/2011) impede que operadoras de TV por assinatura (como NET, SKY, Oi e Vivo) tenham mais de 30% do capital votante em empresas distribuidoras (donas dos canais de televisão ), de modo a evitar a concentração de propriedade. A regra impediria que a AT&T, que é dona da SKY, fosse também dona dos canais da Warner, como HBO, TNT ou Cartoon Network.
A Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado vem discutindo há semanas o projeto de lei n° 3832/2019, de autoria do Senador Vanderlan Cardoso (PP-GO), que passaria a autorizar essa chamada “propriedade cruzada”. O projeto tem parecer favorável do relator, senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ).
Defensores da Lei do SeAC afirmam que a propriedade cruzada pode fazer com que operadoras estabeleçam condições diferenciadas para seus canais e que conglomerados estrangeiros prejudiquem empresas nacionais — de milhares de produtoras independentes à Globosat, dona dos canais da Globo.
“A Lei da SeAC incentivou a produção de conteúdo nacional nos últimos anos”, diz Marcos Urupá, pesquisador da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). A lei atual exige ainda que haja uma cota de conteúdo nacional em canais da TV paga, embora este ponto não seja alterado pela nova lei.
A votação da fusão de Warner e A&T, que desencadeou a discussão das mudanças, precisaria ser aprovada pela Anatel, mas o tema só deve voltar a ser analisado em quatro meses, após o fim do pedido de vista de um conselheiro. Alguns conselheiros da Anatel já se manifestaram de forma favorável à aprovação mesmo sem mudar a lei. Eles afirmam que a AT&T se comprometeu a, entre outras coisas, “manter a separação estrutural” entre a SKY e os canais da Warner.
Uma mudança na lei é um pedido feito à família Bolsonaro pelo presidente americano, Donald Trump. Após voltar de viagem aos Estados Unidos no mês passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro pressionou a Anatel a aprovar a compra. Se passar na Comissão do Senado hoje, o projeto da nova lei vai diretamente para a Câmara.
Além de agilizar uma fusão há 15 meses parada, a nova lei abriria caminho para um negócio que ainda não aconteceu. A AT&T demonstrou interesse de, no futuro, comprar a brasileira Oi, que tem uma operadora de TV paga. A espanhola Telefônica também está no páreo por unidades da Oi. Investidores acompanharão com atenção a decisão dos senadores.