Sem parques e esportes, Disney se segura no Disney+
Apesar da aposta no streaming, o coronavírus atingiu segmentos de parques, experiência e canais de TV, mais de 60% do faturamento da gigante de mídia
Da Redação
Publicado em 5 de maio de 2020 às 06h11.
Última atualização em 5 de maio de 2020 às 10h09.
O futuro precisou chegar para a Disney na marra. Após lançar em novembro passado seu serviço de streaming, o Disney+, visando um futuro em que seria mais inteligente ter contato direto com o consumidor, a Disney agora olha para o streaming como um dos principais salva-vidas da empresa em meio à crise do coronavírus .
Com um catálogo que vai de “Star Wars” a “Hannah Montana” ou “Os Simpsons”, o Disney+ bateu no começo de abril mais de 50 milhões de assinantes. O serviço ainda não é global: só estreou em países como Estados Unidos no ano passado e chegou em boa parte da Europa somente em abril. No Brasil, deve chegar no fim do ano.
O streaming é a galinha dos ovos de ouro em tempos de pandemia. A rival Netflix, que chegou a 182 milhões de assinantes, ganhou 16 milhões de novos usuários só no primeiro trimestre, um recorde absoluto — favorecido pelo isolamento social que forçou mais de um terço da população mundial a ficar em casa. O crescimento fez a “novata” Netflix, nascida em 1998, chegar a 188 bilhões de dólares em valor de mercado e ultrapassar a quase centenária Disney, que vale 186 bilhões (a Disney completa 100 anos em 2023).
Em seus negócios mais representativos até agora, a Disney foi duramente afetada pelo fechamento de seus parques e hotéis temáticos, que responderam por 37% do faturamento no último ano fiscal. Outros 36% vêm de seus canais de mídia, como a emissora esportiva ESPN, que nunca engrenou no streaming e sofre com a paralisação dos esportes ao vivo. Os filmes e projetos de estúdio previstos para este ano (16% do faturamento) também terão de ser adiados ou lançados só na internet.
Analistas apontam que deve haver alguma alta em audiência de canais de entretenimento. Ainda assim, o coronavírus já fez a empresa demitir mais de 100.000 funcionários, sobretudo nos parques — recebendo críticas da herdeira Abigail Disney, que disse que os bônus pagos a altos executivos, como o ex-presidente Bob Iger, que deixou o cargo neste ano, poderiam cobrir os salários.
Apesar das baixas, a estimativa é que o faturamento da Disney tenha alta de 18% no trimestre, para 17,7 bilhões de dólares, sobretudo em meio à ajuda da 21st Century Fox, cuja compra foi concluída no ano passado. O lucro por ação, por sua vez, deve cair 45%, muito acima dos anos anteriores. A receita dos parques pode cair acima de 12%, mas quedas piores devem vir nos próximos trimestres.
Analistas reduziram o preço-alvo da ação da empresa nas últimas semanas, com temores de que os efeitos da covid-19 sigam afetando os negócios no longo prazo. Em Xangai, onde os parques estão fechados desde fevereiro, a Disney ensaia uma reabertura. Na Europa e nos EUA, seguem fechados. Projeções mais pessimistas apontam que os espaços podem continuar sem funcionar até 2021. A ação da Disney caiu mais de 20% nos últimos 12 meses, ante queda de 3% no S&P 500.