Sem mãos na máquina: empresa de SC vai investir R$ 1 bilhão para automatizar a "costura" no mundo
Audaces, que faz tecnologia para automatizar produção têxtil, está trocando comando após 30 anos
Repórter de Negócios
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 18h08.
Três décadas depois de ser fundada pelos estudantes de ciências da computação Claudio Grando e Ricardo Cunha, a Audaces, empresa catarinense que fornece tecnologias para indústrias do setor têxtil fazerem suas roupas, vai investir 1 bilhão de reais em expansão nos próximos seis anos.
O aporte passa pelas áreas de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, marketing, recursos humanos e na expansão de market share.
A Audaces fornece maquinário para a produção de roupas, como máquinas de cortes automáticos, e softwares que ajudam na automatização da confecção. Uma dessas plataformas, por exemplo, digitaliza a modelagem das roupas e todo o processo de criação de uma roupa, reduzindo custos e desperdícios de matérias-primas.
São clientes da empresa de Santa Catarina:
- Grupo Soma
- Renner
- C&A
- Mormaii
- Morena Rosa
O plano de investimento vem junto de uma mudança de cadeiras no topo da empresa. Grando, que foi CEO por três décadas, irá agora para a presidência do conselho. No seu lugar, assume a direção da companhia o executivo Matheus Fagundes, que já tem cerca de 20 anos de experiência em moda, principalmente na gestão da 2Rios Lingerie, de Joinville.
Qual a história da Audaces
A Audaces começou como quase como uma startup há 32 anos -- época em que pouco se falava sobre startups.
Os estudantes Claudio Grando e Ricardo Cunha ainda eram estudantes de ciências da computação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) quando pensaram em aplicar o que aprendiam na faculdade num negócio.
O primeiro passo foi criar do zero um software para otimizar corte de chapas de madeira voltado à indústria moveleira, setor muito forte em Santa Catarina. Foi quando perceberam que a tecnologia tinha semelhanças com o setor têxtil. E os catarinenses são os maiores fabricantes de vestuário do Brasil, com 26% da produção nacional. Há por ali empresas como Marisol, Malwee, Altenburg e Buddemeyer.
A evolução e demanda dos produtos e serviços da Audaces fez com que, mesmo sem investimentos externos, a empresa iniciasse sua internacionalização a partir de 1996. Em 2017, instalou uma sede internacional, em Rovereto, na Itália.
“Mais de 60.000 profissionais têxteis e da moda utilizam nossas soluções diariamente”, diz o novo CEO, Matheus Fagundes.
Qual a estrutura da Audaces hoje
A Audaces não divulga o seu faturamento, mas o número de clientes ativos ajuda a mensurar o tamanho da empresa. São 20.000 clientes ativos em 70 países. Além disso, a empresa já domina 70% do market share de tecnologias para o mercado da moda na América Latina.
“Quando a Audaces chegou no setor, quase tudo ainda era feito à mão”, diz Fagundes. “Eu mesmo fiquei 18 anos numa empresa de confecção e vi muitas transformações industriais. A costura ainda é um pouco artesanal, mas as tecnologias ajudam a acelerar o processo, ser mais assertivo. A moldura digital evita cortes errados, desperdício de tecido, tudo isso é relevante quando uma empresa ganha escala”.
E falando em ganhar escala, a empresa está com planos globais.
Até 2030, será investido 1 bilhão de reais para a empresa conquistar 70% do market share global no setor de tecnologias para a indústria têxtil.
Quais os planos de investimentos da Audaces
O bilhão de reais será aplicado em diversas frentes que, somadas, ajudarão a empresa a duplicar de tamanho anualmente até 2030.
Uma delas é na reforma da sede. A ideia, com o novo espaço, é fomentar a criatividade dos funcionários. Além disso, o espaço fabril na Itália também deverá se expandir.
A expansão também acontecerá nos recursos humanos. Novos programadores e funcionários nas equipes de desenvolvimento e pesquisa serão contratados.
No marketing, o objetivo é ganhar escala em mercados estrangeiros. “Queremos ser ativos em cada um dos mercados em que atuamos”, diz Fagundes.
A Audaces também quer colocar cada vez mais inteligência artificial e sistemas imersivos de realidade virtual nos softwares, o que requer novos investimentos. “Também queremos capacitar as pessoas, porque precisaremos de pessoas criativas para trabalharem junto com a inteligência artificial”, afirma o executivo. “Se não tiver alguém fazendo as perguntas certas, a inteligência artificial não dará uma boa resposta”.
Quem é o novo CEO da Audaces
Matheus Fagundes, que assume a gestão da Audaces agora, está inserido no universo têxtil há tempos. Seu pai, um empreendedor, trabalhava com confecção. Já Fagundes ensaiou uma vida esportiva profissional, mas logo focou nos estudos e no mercado de trabalho “tradicional”.
Fez carreira na 2Rios Lingerie, de Joinville. Por lá, foi escalando até virar presidente da empresa. Ficou na companhia por 18 anos. Depois, assumiu a liderança de marketing da Audaces, onde estava até então.
A ideia da nova composição na gestão da empresa, porém, não é de hoje. Ela começou a ser estruturada há cinco anos, quando os sócios entenderam que deveriam fortalecer as gestões do conselho e da empresa para a manutenção da companhia.