Qualcomm: empresa disse que recompraria 30 bi de dólares em ações se o negócio fracassasse, conforme promessa de tranquilizar investidores (Mike Blake/Reuters/Reuters)
Reuters
Publicado em 26 de julho de 2018 às 15h26.
Última atualização em 26 de julho de 2018 às 15h27.
Pequim/São Francisco - A Qualcomm desistiu de um acordo de 44 bilhões de dólares para comprar a NXP Semiconductors, depois de não conseguir a aprovação regulatória chinesa, tornando-se uma vítima importante das amargas disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China.
A maior fabricante de chips de smartphones do mundo e a NXP, com sede na Holanda, confirmaram em declarações separadas na quinta-feira que o acordo, que teria sido a maior aquisição de semicondutores globalmente, foi encerrado.
O colapso do acordo deve agravar as tensões entre Washington e Pequim, prejudicar a imagem da China como reguladora antitruste e desencorajar acordos que precisem de aprovação chinesa, segundo fontes.
"Estou muito desapontado por eles não terem obtido aprovação regulatória", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, à CNBC em uma entrevista. "Infelizmente, acho que este é outro exemplo ...o acordo foi aprovado em todos os outros territórios. Estamos apenas buscando que as empresas dos EUA sejam tratadas de forma justa."
A Qualcomm havia dito na quarta-feira que desistiria da oferta pela NXP, a não ser que houvesse uma mudança de última hora na posição da China. Não houve notícias da Administração Estatal de Regulação do Mercado da China, a agência reguladora antitruste que está revisando o acordo, depois que o prazo para a transação expirou.
"Obviamente, nos envolvemos em algo que estava acima de nós", disse o presidente-executivo da Qualcomm, Steve Mollenkopf, em entrevista após o anúncio na quarta-feira.
O acordo foi anunciado em outubro de 2016, poucos dias antes da eleição do presidente dos EUA, Donald Trump, e aguardava a aprovação chinesa, enquanto a disputa comercial das duas maiores economias do mundo se intensificou e os dois países entraram em confronto em questões como propriedade de tecnologia e patentes.
A administração Trump desempenhou um papel descomunal no destino da Qualcomm e havia expectativas de que a suspensão da proibição dos fabricantes de chips norte-americanos que fazem negócios com a chinesa ZTE Corp abriria caminho para o acordo com a NXP.
O senador norte-americano Marco Rubio, republicano que criticava a ZTE, em um post no Twitter criticou a ação da China contra a Qualcomm, dizendo: "Devemos reimpor a proibição contra a ZTE".
A Qualcomm precisava de aprovação da China porque o país respondeu por quase dois terços de sua receita no ano passado.
O Ministério do Comércio da China recusou-se nesta quinta-feira a comentar se o acordo foi aprovado.
"De acordo com o meu entendimento, o caso era uma questão antimonopolista, e não relacionada ao atrito comercial entre a China e os EUA", disse o porta-voz do ministério, Gao Feng , em entrevista coletiva.
Ele disse que a China não quer uma guerra comercial, mas não tem medo de uma.
Embora o colapso do acordo tire uma grande incerteza em relação as ações da Qualcomm, ele deixa em aberto a busca por novas maneiras para turbinar o crescimento, à medida que as vendas globais de celulares diminuírem.
A companhia informou na quarta-feira que espera que a Apple use apenas modems de um rival - provavelmente a Intel Corp - em meio a uma disputa amarga entre as duas companhias pelos preços e custos de licenciamento.
Mas citou o progresso em um dos dois maiores conflitos de royalties de patentes, supostamente com a fabricante de celulares chinesa Huawei Technologies Co Ltd. Dos 700 milhões de dólares devidos à Qualcomm como parte de um acordo provisório, 500 milhões de dólares foram pagos neste trimestre.
A Intel e Apple se recusaram a comentar. Um porta-voz da Huawei disse que a empresa não comentaria a especulação.
"Nós acreditamos que seguir em frente, reduzindo a quantidade de incerteza nos negócios e aumentando o foco é a coisa certa a fazer com a empresa", disse Mollenkopf.
A Qualcomm disse que recompraria 30 bilhões de dólares em ações se o negócio fracassasse, conforme promessa de tranquilizar investidores. A fabricante de chips de San Diego divulgou na quarta-feira resultados surpreendentemente fortes no terceiro trimestre fiscal e uma perspectiva otimista para a chamada tecnologia 5G, a próxima geração de redes de dados sem fio.
As ações da Qualcomm subiam cerca de 4 por cento nesta quinta-feira, enquanto os papéis da NXP caíam 6 por cento.
A Qualcomm pagará nesta quinta-feira à NXP 2 bilhões de dólares em taxa de rescisão, conforme combinado.
"Acreditamos que acabar com a incerteza de comprar a NXP é positivo para as ações da Qualcomm", disse Michael Walkley, analista da Canaccord Genuity, em nota aos clientes.
Ele disse que espera um forte crescimento dos lucros nos próximos anos, graças à recompra de ações, à probabilidade de que as disputas com a Apple e a Huawei sejam resolvidas no próximo ano e que a tecnologia 5G impulsione os ganhos de participação de mercado.
(Reportagem adicional de Sonam Rai em Bengaluru, Se Young Lee, Ben Blanchard e Elias Glenn em Pequim, Adam Jourdan em Xangai, Sijia Jiang em Hong Kong, Greg Roumeliotis em Nova York; e Susan Heavey em Washington)