Roberto Barral, vice-presidente das operações comerciais da Scania no Brasil: foco em veículos a gás (Scania/Divulgação)
Juliana Estigarribia
Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 10h34.
O discurso da eletrificação está amplamente disseminado entre as montadoras, mas os desafios para atingir vendas expressivas de veículos elétricos -- especialmente pesados -- ainda são monumentais. Neste cenário, a Scania quer liderar a transição desse rentável mercado, com foco no caminhão movido a gás.
Desde o final de 2018, a montadora vem trabalhando com a nova linha de caminhões a gás no país. De lá para cá, foram 70 unidades vendidas em contratos customizados com grandes empresas. O primeiro caminhão do gênero na mineração será usado pela Gerdau; no setor de cana-de-açúcar, pelo grupo São Martinho; e na coleta e compactação de lixo pela empresa TB Green, o primeiro na história com essa função e utilizando biometano, combustível à base de matéria orgânica.
De forma geral, os caminhões atendem diferentes indústrias, de cosméticos a alimentos, como L'Oréal, PepsiCo, Unilever e Carrefour.
"Nenhum contrato na área foi cancelado por causa da pandemia. Isso demonstra que estamos no caminho certo, neste ano consolidamos uma jornada que começou há alguns anos no sentido da sustentabilidade", afirma Roberto Barral, vice-presidente das operações comerciais da Scania no Brasil, em entrevista à EXAME.
Segundo o executivo, várias tecnologias estão surgindo na indústria automotiva e os veículos elétricos têm ganhado cada vez mais destaque. Porém, além dos desafios de infraestrutura para recarga, em um país com dimensões continentais, os modelos com bateria são muito mais caros -- o item chega a custar o preço de um caminhão inteiro --, o que acaba muitas vezes inviabilizando o investimento por parte do transportador.
"A sustentabilidade tem os pilares social, ambiental, mas também econômico. Tem que valer a pena comprar um caminhão elétrico."
Para Barral, a eletrificação no mercado automotivo não vai acontecer do dia para noite, principalmente em pesados. Isso deve demandar opções para a transição. Os modelos da Scania podem ser abastecidos com gás natural, gás natural liquefeito (GNL) e gás biometano: a autonomia pode superar 1.000 quilômetros no caso do GNL. "Será uma jornada até chegarmos à eletrificação, mas não podemos esperar até lá."
Além de insumos de aterros, o biometano também pode ser produzido à base de resíduos orgânicos do agronegócio. Os empresários da área já estão chamando a oportunidade de "pré-sal caipira".
"Em um país como o Brasil, onde o agronegócio é tão importante, faz todo sentido investir em biometano", diz Barral.
Ele reforça que os contratos de venda destes modelos precisam ser customizados, pois os veículos a gás precisam de infraestrutura de abastecimento. "Quando fazemos negócios, são muito bem desenhados."
A perspectiva da Scania para curto e médio prazo é de crescimento das vendas de veículos a gás. "Para 2021, devemos ter um ano ainda melhor do que foi 2020."
Ainda em setembro, a montadora apresentou na Europa sua primeira linha de caminhões totalmente elétricos, voltados para o transporte urbano, o que amplia o alcance da estratégia rumo a um portfólio mais verde. "Vemos uma retomada do mercado muito mais 'verde'. A procura por soluções mais sustentáveis está crescendo."
A montadora está trabalhando com uma projeção de crescimento do produto interno bruto de 3% a 3,5% no Brasil para o ano que vem, com possibilidade de ligeiro aumento da taxa básica de juros (Selic). Segundo Barral, a confiança está avançando no país, com forte atividade em setores importantes como agronegócio, mineração e indústria química.
Neste cenário, o mercado brasileiro continuará primordial para a matriz, garante o executivo. "O maior mercado para a Scania no mundo continua sendo o Brasil."
Após o choque inicial da pandemia, a montadora precisou se adaptar ao novo ambiente de negócios da indústria automotiva: forte valorização do dólar e estoques reduzidos na cadeia produtiva, o que resultou em aumento expressivo dos custos. "Tivemos que fazer ajustes de preços, mas aquém do que precisávamos", relata Barral.
Apesar disso, a montadora está trabalhando com pedidos até maio, quando o normal são 6 a 8 semanas. "A crise assustou todo mundo, mas em nenhum momento da pandemia deixamos de estar próximos dos clientes e da rede, isso fez a diferença", garante o executivo.