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SABMiller se prepara para a dureza coorporativa da Ambev

A proposta de compra da SABMiller pela produtora da Bud Light, da Busch e da Rolling Rock criou um drástico choque de culturas corporativas


	SABMiller: a proposta de compra da SABMiller pela produtora da Bud Light, da Busch e da Rolling Rock criou um drástico choque de culturas corporativas
 (REUTERS/Mike Hutchings)

SABMiller: a proposta de compra da SABMiller pela produtora da Bud Light, da Busch e da Rolling Rock criou um drástico choque de culturas corporativas (REUTERS/Mike Hutchings)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2015 às 14h30.

A Anheuser-Busch InBev NV se orgulha de ser pão-dura. Não há escritórios privados para os chefes, nem festas luxuosas, nem hotéis de alto padrão como o Four Seasons. E adivinha onde os executivos da SABMiller Plc gostam de se hospedar quando viajam?

A proposta de compra da SABMiller pela produtora da Bud Light, da Busch e da Rolling Rock criou um drástico choque de culturas corporativas. A AB InBev tem um longo histórico de redução implacável de custos nas companhias que adquire e o CEO Carlos Brito já chegou a se gabar de não “gostar que os funcionários da empresa se divirtam”.

Em compensação, trabalhar na SABMiller -- que produz dezenas de marcas, como Kozel, Foster’s e Blue Moon -- parece ser gostoso.

Na sede da empresa no elegante bairro londrino de Mayfair, os funcionários recebem vales para almoçar em restaurantes locais. O Four Seasons, de cinco estrelas, é um hotel que está na lista, segundo uma fonte informada sobre as práticas da empresa. A cerveja é grátis no bar da empresa, com torneiras reluzentes que servem Peroni, Grolsch e Pilsner Urquell.

A AB InBev tem experiência em transformar culturas corporativas relativamente agradáveis -- Brito acabou com o benefício da cerveja grátis na Anheuser Busch --, mas há um profundo abismo em termos de atitudes entre a empresa e a SABMiller.

Se sua oferta de US$ 100 bilhões prosperar, poderá levar a um êxodo de executivos temerosos de trabalhar sob o olhar vigilante de Brito na cervejaria britânica, complicando os esforços de integração.

‘Cultura dura’

A aquisição poderia significar uma “situação semelhante àquela que vimos nos negócios da empresa no passado, nos quais eles realizaram enormes cortes de custos”, disse Robert Jan Vos, analista do ABN AMRO. “É uma cultura dura. É difícil e muito competitiva internamente”.

Na quarta-feira, a SABMiller rejeitou a oferta mais recente da AB InBev, desdenhando uma transação que criaria uma cervejaria global dominante. Na sexta-feira, a empresa duplicou sua meta de economia de custo e atualmente busca angariar o apoio dos acionistas à recusa.

Um porta-voz da SAB disse que benefícios como os almoços subsidiados e a cerveja grátis apoiam a meta da empresa de fomentar “a renovação e a sociabilidade”. Um porta-voz da InBev disse que as duas cervejarias compartilham muitos valores corporativos e que os funcionários do alto escalão da SAB desempenhariam “um papel significativo na empresa unificada”.

Brito com frequência exalta a virtude da frugalidade da empresa que ele construiu por meio de dezenas de aquisições. “Se o cara que compra a minha Stella Artois está pagando um adicional em relação à minha Budweiser, o que ele espera que eu faça com esse dinheiro?”, disse ele em uma palestra, em 2010, na Faculdade de Negócios da Universidade de Stanford.

“Se eu tenho escritórios luxuosos, jatos corporativos e almoço com cinco pratos quando me hospedo no Four Seasons, nosso consumidor ficaria orgulhoso se soubesse que gastamos o dinheiro dele dessa forma?”.

Recém-formados

Em outra oportunidade, Brito disse que está tudo bem se os rigores de trabalhar com ele distanciam alguns executivos.

Ele se diz feliz em substituí-los por famintos recém-formados dos programas de MBA. Em 2010, ele classificou as saídas posteriores ao acordo com a Anheuser-Busch como “ótimas, porque nós, então, promovíamos as pessoas e elas diziam ‘essa agora é a minha empresa’”.

Suas atitudes estão baseadas em práticas mais amplas de empresas adquiridas pela 3G Capital, um veículo de investimentos criado pelos investidores bilionários brasileiros que controlam a AB InBev.

Esse grupo, liderado por Jorge Paulo Lemann, também comprou as empresas Burger King, Heinz e Kraft Foods e a rede canadense de donuts Tim Hortons.

Todos esses negócios seguiram um modelo semelhante. Primeiro vem o chamado orçamento de base zero, um sistema de planejamento de despesas popularizado por Lemann no qual cada custo precisa ser justificado, começando com uma folha de papel em branco a cada trimestre. Um pequeno exército de consultores de gestão é contratado para supervisionar esses planos, analisando cada linha dos orçamentos.

Se Brito tiver sucesso no negócio, os altos executivos de Londres poderão sofrer um choque ainda maior do que serem forçados a justificar os pedidos de cartuchos para as impressoras.

Enquanto a sede da SAB está a cinco minutos de caminhada do restaurante Nobu e do luxuoso Dorchester Hotel, o escritório britânico da InBev é vizinho do aeroporto Luton, base da EasyJet. Convenientemente, o Luton tem um Burger King, mas os funcionários não devem esperar nenhum tipo de desconto em seus Whoppers.

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