Felipe Calixto, CEO da Sankhya: “Hoje temos 700 pessoas em Uberlândia. Quero ter mais de mil na nova sede” (Sankhya/Divulgação)
Repórter
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 13h21.
Última atualização em 1 de dezembro de 2025 às 13h30.
Quando jovem, Felipe Calixto tinha dois planos de vida – e nenhum deles incluía se tornar CEO de uma empresa de tecnologia (a Sankhya). Primeiro, queria ser jogador de futebol. Depois, popstar de rock. Chegou a gravar um disco na BMG Ariola, uma das maiores gravadoras do Brasil nos anos 1990.
“O sonho foi embora, porque a gente viu que não basta ter uma música boa ou gravar um disco. Você precisa ter competência para colocar esse disco para tocar”, conta.
Décadas depois, a metáfora serviria como base para explicar seu negócio: no mercado de software, não basta ter um bom ERP – é preciso fazê-lo rodar na prática, em escala, nas empresas.
Em entrevista ao podcast De Frente com CEO, da EXAME, Calixto contou como transformou uma pequena operação criada em Uberlândia em 1989 em um grupo que deve fechar o ano com faturamento próximo de R$ 700 milhões, mais de 2,2 mil funcionários e planos ambiciosos para 2026: “rumo ao 1 bilhão” e crescer cinco vezes em cinco anos.
A história da Sankhya nasceu em um ambiente improvável: dois irmãos matemáticos, uma salinha emprestada dentro de uma imobiliária e computadores montados com peças trazidas do Paraguai.
“Na tecnologia, só tinha mato. Para ter computador, a gente montava peça por peça”, conta Calixto. Sem saber que o termo ERP já circulava no exterior, ele e o irmão Fábio Calixto começaram a desenvolver um sistema integrado de gestão para resolver um problema óbvio: as empresas eram fragmentadas e precisavam de integração entre áreas.
No começo, cada cliente ganhava uma solução sob medida. Logo veio o alerta: seria impossível escalar. A Sankhya decidiu consolidar tudo numa única plataforma parametrizável, capaz de atender empresas de setores e tamanhos distintos.
“Eu brinco que fomos co-inventores do ERP. Muita gente no mundo estava tentando resolver o mesmo problema, mas ninguém conversava entre si.”
O ponto de virada veio em 2008, quando Calixto assumiu como CEO. O faturamento anual, na época, era de R$ 7,7 milhões.
A oportunidade surgiu quando uma grande empresa de ERP foi adquirida e muitos profissionais ficaram insatisfeitos. Sem poder competir em salário, Calixto estruturou uma estratégia inédita: abrir filiais e trazer esses especialistas como sócios nas unidades.
“Não tínhamos dinheiro. A gente abriu oito ou nove unidades no peito e na raça. Algumas deram errado, mas a maioria deu muito certo”, diz.
A expansão tirou a Sankhya do eixo Minas–Goiás e a colocou no mapa nacional. Hoje, está presente em todos os estados brasileiros.
Enquanto cresce digitalmente, a empresa também expande fisicamente. Em São Paulo, o escritório recém-inaugurado na Rebouças, com rooftop, já ficou pequeno.
Em Uberlândia, onde ficam o desenvolvimento, a universidade corporativa e o coração da operação, a Sankhya está construindo o que Calixto chama de “sede dos sonhos” dentro do parque tecnológico da cidade.
A primeira etapa terá mais de 8 mil m², com conclusão prevista para janeiro de 2027, e o projeto completo ultrapassará 16 mil m². O investimento inicial: R$ 50 milhões.
“Hoje temos 700 pessoas em Uberlândia. Quero ter mais de mil na nova sede”, projeta o CEO.
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Desde a entrada do fundo soberano de Singapura GIC, em 2020, a Sankhya acelerou seu plano de M&A. Foram 10 aquisições desde então. Mas a empresa foge da lógica tradicional de comprar concorrentes apenas para engordar faturamento.
“Comprar o que você já faz não adiciona valor. Isso é sombreamento. O cliente não ganha nada”, diz.
O que a Sankhya procura se resume em três características:
Marca, sede e cultura são preservadas, segundo Calixto. “Eles ganham autonomia e ganham um aliado”.
O CEO reconhece: competir globalmente é difícil, mas no Brasil, apesar das barreiras, há muito espaço para crescer no setor de tecnologia.
“No Brasil, é uma corrida de obstáculos. Governo e sindicatos criam travas. Enquanto isso, empresas americanas estão 100% focadas em IA,” diz. “Temos que entrar no jogo de competir, não só como tecnologia, mas como nação. Em tudo, inclusive em outras áreas como carros elétricos.”
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No fim, o ex-roqueiro volta à essência que moveu sua vida inteira e traz um conselho para brasileiros que pensam em empreender no Brasil.
“Pense em uma necessidade genuína, de um grupo de pessoas. Desenvolva algo que resolva esse problema de forma real. Trabalhe com amor. Se for por dinheiro, aí é melhor arrumar um emprego,” afirma.
Aos 36 anos de Sankhya, rumo ao bilhão e às portas de uma expansão histórica, Calixto acredita que seu maior acerto foi simples: não desistir antes da música tocar.
“Teve vários momentos em que pensamos em desistir, mas acreditávamos que um sistema integrado, num momento em que isso não existia computador na casa de todos, poderia transformar a vida das empresas.”
E transformou. Agora, o próximo “disco” já está gravado - e a Sankhya quer que ele toque no Brasil inteiro, principalmente nas companhias das grandes capitais.