Retomada da Samarco em meados de 2017 é possível, diz regulador
A companhia está buscando uma nova licença operacional para depositar rejeitos em uma cava inutilizada em vez de construir uma nova barragem
Luísa Granato
Publicado em 23 de novembro de 2016 às 18h11.
Rio de Janeiro - A requisição da Samarco para obter licenças e retomar as operações de minério de ferro no Brasil está progredindo apesar das multas ambientais e de uma ordem judicial e o reinício em meados de 2017 ainda é possível, informou a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, a Semad.
A companhia pertencente à BHP Billiton e à Vale , que suspendeu os trabalhos há um ano, após o rompimento de uma barragem de rejeitos, está buscando uma nova licença operacional e permissões adicionais para depositar rejeitos em uma cava inutilizada chamada Alegria Sul em vez de construir uma nova barragem.
A Semad vê mérito em optar pela Alegria Sul, que segundo a companhia lhe permitiria voltar a operar em capacidade parcial por cerca de dois anos.
“O benefício é muito grande e o balanço ambiental, muito positivo”, disse Anderson Silva Aguilar, analista da Semad que avalia os pedidos de licenciamento, em resposta a perguntas enviadas por e-mail.
“Para o meio ambiente, é muito melhor do que depositar em uma área que não foi preparada ou que teria que ser preparada para este tipo de fim."
A Semad recebeu toda a documentação solicitada à Samarco e está analisando o plano de usar a cava inutilizada enquanto formula uma série de diretrizes para a licença do complexo de mineração.
A decisão do órgão regulador de analisar o novo licenciamento do complexo principal da mina sob um único "licenciamento corretivo” em vez de exigir dezenas de licenças individuais simplificará o processo, segundo a assessoria de imprensa da Semad.
Disputas jurídicas
A Samarco Mineração, como a companhia é formalmente conhecida, era a segunda maior produtora de pellets de minério de ferro do mundo antes do rompimento das barragens, que liberou bilhões de litros de rejeitos no vale do Rio Doce.
O incidente matou 19 pessoas, contaminou rios de dois estados, deixou milhares de pessoas sem trabalho e ameaça os pagamentos de mais de US$ 3 bilhões em dívidas.
Em busca de novas licenças, a mina enfrenta outras disputas regulatórias e jurídicas que ameaçam ampliar os custos.
No início do mês, o Ibama informou que a Samarco ainda não conteve totalmente o vazamento da barragem que se rompeu há mais de um ano e impôs uma multa de R$ 500.000 (US$ 149.000) por dia até que a empresa prove o contrário.
Em separado, um juiz federal de Minas Gerais decidiu que a Samarco não havia conseguido provar que conteve o vazamento em definitivo.
O juiz deu à companhia 90 dias para apresentação de provas de que a situação foi retificada e 30 dias para entregar uma garantia de R$ 1,2 bilhão.
Embora a Samarco também precise provar à Semad que conteve o vazamento de rejeitos de mineração antes de garantir licenças, a questão não está atrasando o trabalho da pasta, segundo a assessoria de imprensa da Semad.
Voto final
A Samarco afirmou, em comunicado enviado por escrito, que está concentrada em aumentar a capacidade de um dique e em construir outro e que espera que as obras atendam as exigências de contenção.
A construção está programada para ser realizada até o início do ano que vem.
Embora o processo regulatório seja uma notícia bem-vinda para a mineradora e seus acionistas e credores, a palavra final sobre as duas licenças não será da Semad.
Serão realizadas duas audiências separadas com um grupo de políticos, engenheiros, cientistas, executivos da mineração e ONGs, que votarão para aprovar ou negar as licenças à Samarco.