Renault Kwid será o elétrico mais barato do Brasil (Renault/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 11 de novembro de 2021 às 17h50.
Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 20h45.
O futuro da Renault no mercado brasileiro foi decidido nos últimos dias por Luca de Meo, CEO global do fabricante, que veio ao país para analisar os resultados durante a pandemia. “Fizemos muitas mudanças, mas vejo a luz no fim do túnel e parece que o pior já passou”, afirmou o executivo durante a apresentação a jornalistas na fábrica de São José dos Pinhais (PR) nesta quinta-feira.
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Essa não é a primeira passagem do executivo por aqui: Luca de Meo chegou a morar no Brasil no fim da década de 1970, no Rio de Janeiro (RJ) – onde estudou durante a infância – e retornou outras vezes, quando trabalhou na Fiat e no Grupo Volkswagen. Talvez por isso reconheça particularidades da região, como a importância do etanol para os consumidores (inclusive nos híbridos).
“Nossas discussões com os executivos brasileiros fizeram entender o potencial de introduzir veículos híbridos no mercado. Eles estão chegando e se popularizando por aqui nos últimos anos. Nós ainda dependemos de volume para decidir se investiremos na adaptação da tecnologia para as condições locais com etanol. Mas não vale [investir] para vendermos 2 mil unidades ao ano”, diz.
Fato é que a estratégia da empresa deverá mudar completamente daqui para frente, com foco nos modelos eletrificados e nas categorias mais caras. De olho no que a concorrência fez – a exemplo dos últimos lançamentos de Stellantis e Volkswagen –, a Renault aumentará o nível de conteúdo dos carros e trará novas plataformas globais para alinhar o portfólio local com o europeu.
“Queremos voltar a crescer, mas com uma filosofia diferente de antes. Vamos buscar valor, em vez de volume. Claro que não queremos transformar em uma marca de nicho, porque somos uma marca popular por definição. Mas queremos focar em valor agregado e oferecer veículos de nível mais alto. Será uma gama muito focada em eletrificados e com o mesmo nível qualidade global”.
E a primeira mudança rumo à nova estratégia será o lançamento do Kwid elétrico em 2022. Segundo o próprio Luca de Meo, existe a possibilidade de o estreante chegar às lojas como opção mais barata do segmento – posto que, hoje, pertence ao JAC E-JS1, por 159.900 reais. Por outro lado, Logan e Sandero deverão encerrar o ciclo de vida nos próximos dois anos sem novas gerações.
“Nos concentramos muito em carros pequenos, com 70% do volume nas duas categorias de entrada, e isso não é equilibrado. Muitos dos nossos produtos internacionais estão em discussão para serem nacionalizados, porque a gama que estamos construindo mundialmente tem muito potencial para o Brasil. Também focaremos na localização das peças para evitar a volatilidade cambial”.
Além do investimento de 1,1 bilhão de reais já anunciado no início deste ano, Luca de Meo disse que novos aportes estão previstos para o mercado brasileiro – sem detalhar valores ou aplicações. Mas parte desse dinheiro que entrará no caixa deverá servir para trazer as novas plataformas para carros de categorias C e D (de porte médio) desenvolvida em parceria com a aliança da Nissan.
“Tem que cuidar dos custos para sermos competitivos, o que não é fácil na América Latina, que sofre com custos muito altos. Temos que nos adequar ao poder aquisitivo das pessoas, que está baixando. Mas a nossa plataforma global é uma das mais competitivas no mundo, porque permite fazer carros de diversos tamanhos. E, quando vejo o que as rivais fizeram, parece que o nível subiu”.
De olho no futuro, a Luca de Meo pretende reduzir os riscos da Renault com decisões que blindem a empresa das mudanças socioeconômicas – afinal, o executivo considera a América Latina uma das regiões mais voláteis para negócios em todo o mundo. Por isso, a meta será nacionalizar o máximo possível dos componentes e criar planos de longo prazo, já mirando na próxima década.
Ainda não há previsão de quando o mercado estará recuperado da falta de semicondutores – que já provocou a paralisação das linhas de montagem em todo o mundo e revisão da projeção de vendas. Para Luca de Meo, o próximo ano marcará o início da recuperação, mas ainda continuará abaixo do potencial – que, de acordo com o CEO do Grupo Renault, poderia crescer até dois dígitos.
“Não tínhamos a consciência do gargalo nessa parte de suply chain. Não sei como será no final, mas estimamos que vamos perder globalmente, considerando o potencial de demanda, cerca de 450 mil a 500 mil carros, apenas na Renault. Isso é muito. Mas precisamos lembrar que leva cerca de cinco anos para o setor de semicondutores montar fábricas e se adaptarem à nova demanda”.
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