Génericos: 93,8 milhões de medicamentos vendidos só no primeiro trimestre (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
São Paulo - Em apenas oito anos, a Hypermarcas saltou do anonimato para a liderança do mercado brasileiro de bens de consumo, deixando para trás a gigante anglo-holandesa Unilever. Algumas de suas 160 marcas têm hoje projeção nacional, como a lã de aço Assolan, os artigos de beleza da Monange e os temperos Etti. Agora, a companhia prepara-se para desafiar outro setor com rivais igualmente poderosos: o de medicamentos. A brecha encontrada por ela é aproveitar a safra de patentes que vão expirar nos próximos anos. "Teremos 90 lançamentos para este ano, sendo que 60 são genéricos", afirmou o presidente da Hypermarcas, Claudio Bergamo, em teleconferência com investidores na última semana.
Até 2012, 30 medicamentos perderão suas patentes no Brasil. Neste ano, por exemplo, vencerá um dos campeões de venda, o Viagra, para disfunção erétil. Em 2011, quem perde a patente é o Lipitor, que combate o colesterol. Ambos da americana Pfizer. Os esforços do laboratório para prorrogar, na Justiça, sua exclusividade são um sinal do precioso mercado em jogo. Só no primeiro trimestre, foram comercializados 93,8 milhões de medicamentos genéricos no Brasil - um crescimento de 76% sobre o mesmo período do ano passado. E altas vendas são importantes para os laboratórios, já que por lei os genéricos são 35% mais baratos. Entre os dez produtos mais receitados no país, oito são genéricos. "Apesar da crise, a indústria não sofreu tantos abalos, por se tratar de produtos de primeira necessidade", diz Marcello Albuquerque, diretor-geral da unidade brasileira da consultoria IMS Health.
Para conquistar uma fatia relevante deste mercado, a Hypermarcas deve atacar em duas frentes. A primeira são os investimentos próprios. Procurada, a empresa não comenta o assunto e informou, por meio de sua assessoria, que desde a aquisição do laboratório brasileiro Neo Química, em dezembro, prefere não detalhar seus planos para o setor. A empresa não dá detalhes dos projetos, mas confirma que construirá fábricas para complementar a única fábrica que a Neo Química possui em Anápolis (GO).
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Quem vai perder a patente | ||
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Até 2012, 30 medicamentos poderão ter genéricos. Veja alguns deles | ||
Medicamento | Indicação | Quando expira a patente |
Viagra (Pfizer) | disfunção erétil | 2010 |
Diovan (Novartis) | hipertensão | 2010 |
Atacand (Novartis) | hipertensão | 2010 |
Zyprexa (Eli Lilly) | esquizofrenia | 2010 |
Alvesco (Nicomed) | anti-inflamatório | 2010 |
Atacand (AZ) | hipertensão | 2010 |
Lipitor (Pfizer) | combate ao colesterol | 2011 |
Orencia (BMS) | reumatismo | 2011 |
Xolair (Novartis) | asma | 2011 |
Simdax (Abott) | insuficiência cardíaca | 2011 |
Tracleer (Actelion) | hipertensão | 2011 |
Orencia (BMS) | reumatismo | 2011 |
Maxalt (MSD) | enxaqueca | 2011 |
Anidulafungina | candidíase | 2012 |
Gleevec (imatinib mesylate) | leucemia | 2012 |
Fonte: IMS Brasl e PróGenéricos |
Atalho para o topo
A outra estratégia é encurtar o caminho com aquisições. Para uma empresa conhecida pela voracidade em comprar rivais, possíveis alvos não faltam no setor. O Brasil conta com 90 laboratórios de genéricos, sendo a maioria de pequeno porte. As aquisições são um atalho e tanto. Ingressar nessa indústria do zero não é fácil. É preciso cumprir uma série de exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como registro de produtos e testes. Todo o processo consome, pelo menos, quatro anos e alguns milhões de dólares. Como os negócios não podem esperar, é melhor ir às compras. "É exatamente isso que a Hypermarcas está fazendo", afirma Odnir Finotti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos).
Na conversa com os analistas, na última semana, Bergamo não descartou possíveis compras. "A velocidade de nossas aquisições depende de encontrarmos oportunidades corretas e que não sejam arriscadas demais", disse o presidente da Hypermarcas.
O fato é que a companhia já mostrou seu poder de fogo na disputa pelo setor. No final do ano, ela mediu forças com ninguém menos que a Pfizer - e venceu. Ao desbancar o gigante americano, a empresa de Goiás arrematou, por 1,3 bilhão de reais, a Neo Química. Foi uma estreia em grande estilo no mercado de genéricos. Com a aquisição, a Hypermarcas passou a deter o terceiro maior laboratório de capital nacional, e o quarto maior em operação no país.
Fôlego no caixa
O namoro da empresa com o setor farmacêutico começou em junho de 2007 com a aquisição da DM Farmacêutica, focada em produtos que não necessitam de receita médica para vendas. Um ano depois, comprou a rede Farmasa e, em abril deste ano, adquiriu a Luper Farmacêutica, que será complementar ao portfólio da Neo Química. "Não vamos tirar o pé do acelerador", disse Bergamo, na teleconferência.
Aparentemente, dinheiro não é um problema para a Hypermarcas crescer em genéricos. A companhia fechou o primeiro trimestre com 642 milhões de reais disponíveis em caixa. A dívida líquida, em março, era de 1,8 bilhão de reais, o equivalente a 2,6 vezes o ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), segundo estimativas da Fator Corretora. Em relatório assinado pelo analista Iago Whately, a instituição lembra que o caixa da empresa, agora, deve estar mais forte. Isto porque os números ainda não refletem a oferta pública de ações concluída em abril. A operação levantou mais 1,2 bilhão de reais para a empresa.
Para a construção de uma fábrica de genéricos que produza apenas comprimidos, são necessários investimentos da ordem de 50 milhões de reais. Já para desenvolver um medicamento simples - como os utilizados para combater a gastrite, também um dos mais vendidos -, é preciso cerca de 1 milhão de reais, segundo especialistas ouvidos por EXAME.com. Isso significa que a Hypermarcas teria de desembolsar, no mínimo, 110 milhões de reais para ter condições de brigar de igual para igual no setor farmacêutico.
Tanto investimento é justificado pelos resultados que a empresa já obteve no mercado de fármacos. Esse foi o segmento mais cresceu no faturamento da Hypermarcas: 102% entre o primeiro trimestre de 2010 e o mesmo período do ano passado. A receita líquida da empresa no segmento foi 318,4 milhões de reais no primeiro trimestre - 105,2 milhões apenas da Neo Química. Assim, a venda de medicamentos respondeu por 48,5% do total da empresa entre janeiro e março. Um ano antes, a porcentagem era de 41%.
Mercado em expansão
Nos próximos anos, o crescimento da indústria farmacêutica virá sobretudo dos países emergentes. Nações como Brasil, China e Índia terão crescimento anual entre 14% e 17% até 2014, contra uma taxa de 3% a 6% nos países desenvolvidos, que já tem um mercado sólido. Cada um desses países vai contribuir com até 15 bilhões de dólares até 2013.
Além da força da economia desses países, outros fatores vão contribuir para aumentar a venda de medicamentos genéricos, como o envelhecimento da população. "A alta urbanização também é um fator importante. Um número crescente de pessoas desenvolve stress e obesidade, que são doenças associadas ao estilo de vida na cidade", diz Albuquerque, da IMS Health.
Em 2011, o Brasil será o oitavo maior mercado farmacêutico do mundo, ultrapassando o Reino Unido, segundo Albuquerque. Com sua experiência em setores de bens de consumo não-duráveis, como alimentos e limpeza, a Hypermarcas promete dar muita dor de cabeça aos laboratórios tradicionais - e, de quebra, fornecer os analgésicos que a aliviem.