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Quiksilver Brasil surfa na onda de vendas online e franquias

Pedido de recuperação judicial feito pela matriz americana não interfere em nada nos negócios da empresa no Brasil, garante diretor geral

No Shopping Iguatemi, em São Paulo: roupas e acessórios corresponde a 70% do faturamento da rede no país (Luciana Prezia)

Tatiana Vaz

Publicado em 17 de setembro de 2015 às 16h29.

São Paulo - Kelly Slater, o maior surfista profissional do mundo, rompeu com o patrocínio de 23 anos com a Quiksilver no ano passado.

A decisão de apostar em uma marca própria foi comparada a de outros mitos como Michael Jordan, com a Nike, e David Beckham, com a Adidas. E nada tem a ver com o recente pedido de recuperação judicial da matriz da companhia, na Califórnia.

Da mesma forma, a subsidiária brasileira cresceu o suficiente para “andar com as próprias pernas”, sem depender da matriz.

Nos últimos cinco anos, a filial dobrou de tamanho no país em faturamento, um feito e tanto quando levado em conta que 70% das vendas são de roupas para um público específico: amantes do surfe.

“Na prática, o pedido de concordata nos Estados Unidos não interfere em nada nos nossos negócios”, garante Gustavo Belloc, diretor geral da rede no Brasil.

Em entrevista a EXAME.com, Belloc contou sobre os planos da marca para o país. Veja a seguir:

EXAME.com – Qual a estrutura da Quiksilver no Brasil hoje?

Gustavo Belloc- Somos líderes no segmento de vestuário para surfe e skate, com três marcas no portfólio, 1.800 pontos de vendas em lojas multimarcas e 4 lojas próprias.

Neste ano, também vamos iniciar nosso processo de expansão por meio de franquias. Esperamos ter quatro delas abertas até o final do ano e já temos até contratos pré-assinados para isso.

A fabricação é terceirizada, tanto a de roupas, que representa 70% do nosso faturamento, quanto a de calçados, que lançamos em 2013.

EXAME.com – A empresa tem sofrido com a crise no país?

Belloc- Nossas vendas cresceram no ano passado e, neste ano, elas também devem ser maiores, ainda que não tanto quanto no ritmo de anos anteriores.

Nos últimos cinco anos, tivemos um aumento de 114% em faturamento.

EXAME.com - Como estão se adequando ao cenário atual?

Belloc - Estamos aproveitando para investir no que acreditamos que nos fará crescer. Dos nossos 170 funcionários, 50 foram contratados neste ano, principalmente em decorrência do aumento da parte logística.

Hoje temos dois centros de distribuição, um em São Paulo, para roupas e acessórios, e outro em Alphaville, para os calçados. Eles foram ampliados por conta da estratégia que traçamos para vendas online.

EXAME.com – Quais são os planos de crescimento para este ano e próximo?

Belloc – Queremos expandir essa distribuição por meio de novos canais, uma decisão que estamos tomando com cautela para não entrar em conflito com os nossos parceiros.

Em novembro começamos com nossa loja virtual que funcionará a todo vapor a partir do início do ano que vem, com a venda de todos os nossos produtos.

Hoje, vendemos nossos 2.000 itens lançados por ano em 2.000 pontos de vendas, a maioria lojas multimarcas. Também temos lojas próprias, com um modelo já foi testado, maturado e que queremos replicar por meio de franquias.

EXAME.com – Quantas franquias da marca devem ser abertas e em quanto tempo?

Belloc - Nosso intuito é ter uma loja da marca nas principias capitais do país, mas preferimos não divulgar metas.

Os pontos terão diversos formatos para atrair níveis diferentes de franqueados. Os tamanhos de lojas devem variar de 40 a 120 metros quadrados e os investimentos de abertura, sem luvas, de R$ 350.000 até R$ 700.000.

EXAME.com – Como o pedido de recuperação judicial da matriz, na Califórnia, afeta os negócios no Brasil?

Belloc – Na prática, o pedido de concordata nos Estados Unidos não interfere em nada nos nossos negócios. Temos uma operação independente no Brasil, uma das subsidiárias mais rentáveis do mundo. Andamos com as próprias pernas.

A marca está no país há mais de 30 anos, mas só há 10 assumiu a operação por meio de um sócio local. No final de 2013, nos tornamos uma subsidiária, com administração própria.

EXAME – Se a empresa foi fundada na Austrália, por que a sede fica nos Estados Unidos?

Belloc - A marca foi fundada na Austrália, mas como a operação americana era a principal em vendas e a Califórnia a referência de surfe mundial, logo a matriz se mudou para lá.

Em 2005, no auge da companhia, eles compraram uma marca de esqui, que acabou não sendo muito rentável, até porque tinha pouco a ver com nosso negócio principal, de surfe.

A dívida que assumiram com a aquisição cresceu, desde então, agravada pela crise. Por isso eles fizeram esse acordo financeiro, que vale apenas para a operação de lá.

Foi uma manobra para não comprometer a empresa como um todo. Foi necessário passar por isso para operar de forma mais saudável daqui em diante.

EXAME.com – O que exatamente significa ser independente da matriz?

Belloc - Seguimos o direcionamento global em relação a produto, marketing, processos, mas temos independência na maneira de lidar com o negócio.

Para se ter ideia, 70% da nossa coleção é feita no país para atender necessidades de consumidores brasileiros, tanto na parte de moda quanto na parte de modelagem – principalmente a destinada às brasileiras.

EXAME – Além do Brasil, todas as demais subsidiárias trabalham de forma independente?

Belloc – A Quiksilver está em 90 países, com vários modelos de negócios: subsidiárias, licenças e até operações diretas, como no Peru e Panamá.

EXAME.com - Como funciona a verba de marketing e investimentos de lá para cá? E daqui para lá?

Belloc- Não enviamos verba daqui para a matriz, com exceção dos dividendos que pagamos para eles, conforme nossa disponibilidade de caixa.

Também há no Brasil uma etapa do circuito mundial de surfe, cujo patrocínio é subsidiado por uma meta global, assim como acontece com outros 10 atletas.

A cada trimestre apresentamos para a matriz alguns planos de negócios, que incluem ações de marketing locais. Porém, a maior parte do lucro gerado acaba sendo reinvestido no próprio negócio brasileiro.

São Paulo – A lei de recuperação judicial é uma maneira de empresas em dificuldade financeira garantirem a continuidade do negócio – e pagarem suas dívidas. Com o mercado mais retraído e a deflagração da Operação Lava Jato muitas grandes empresas entraram com pedido desde janeiro. Confira algumas delas a seguir.
  • 2. Lupatech

    2 /10(Germano Lüders / EXAME)

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    No final de agosto, a fornecedora de equipamentos e serviços para o setor de óleo e gás Lupatech apresentou seu plano de recuperação judicial. As condições incluem venda de alguns ativos e reestruturação de dívidas da empresa e suas subsidiárias. A Lupatech era uma das principais fornecedoras da Petrobras para o pré-sal. Com o adiamento e cancelamento de projetos, seguido pelos escândalos da sua principal cliente, acabou tendo seu negócio prejudicado.
  • 3. Galvão

    3 /10(Divulgação/ Galvão Engenharia)

  • A Galvão Participações e sua subsidiária Galvão Engenharia tiveram o seu plano aprovado em assembleia de credores, em junho. De acordo com a versão final do plano, o valor mínimo a ser aceito na alienação da participação da Galpar no capital social da companhia será de 600 milhões de reais. As empresas entraram com pedido de recuperação judicial em março, em decorrência dos desafios financeiros enfrentados depois dela ter sido citada como alvo da Operação Lava Jato .
  • 4. Proema

    4 /10(Getty Images)

    Fabricante de autopeças da Fiat, GM, Honda e Mercedes-Benz, o Grupo Proema acabou tendo de rever seu negócio, depois da queda de pedidos em 65%, reflexo da retração do mercado automotivo no país. As dívidas acumuladas nos últimos cinco anos ultrapassam 1 bilhão de reais e seus credores vêm pedindo à Justiça o movimento falimentar da empresa desde 2013.
  • 5. Carvajal Informações

    5 /10(Stock.xchng)

    Dona do portal GuiaMais e das listas telefônicas Listel e Editel, a companhia entrou com pedido de recuperação judicial na última quarta, dia 9. Com fortes quedas nas vendas e dívidas superiores a 120 milhões de reais, a empresa não consegue mais arcar com seus compromissos financeiros. O projeto envolve a reavaliação da viabilidade econômica de seus modelos de negócio, além da revisão de processos e cortes de custo e pessoal.
  • 6. Schahin

    6 /10(Divulgação/Schahin)

    O Grupo Schahin entrou com pedido de recuperação para 28 de suas empresas, que operam nas áreas de engenharia e de óleo e gás. Também citada na Operação Lava Jato, a companhia reestrutura uma dívida de 6,5 bilhões de reais e já demitiu 2.500 pessoas.
  • 7. Amal

    7 /10(Ernesto Reghran / VOCÊ S/A)

    Dona de um estaleiro em Itajaí, Santa Catarina, a Amal Construções Metálicas entrou em recuperação judicial em março. A empresa de capital português foi atingida pelos problemas de seu principal cliente, a Integra Offshore, um consórcio formado pela OSX e a Mendes Júnior para construir as plataformas P-67 e P-70 da Petrobras.
  • 8. OAS

    8 /10(Dado Galdieri/Bloomberg)

    Outra também envolvida no escândalo da Lava Jato, a OAS entrou com pedido de recuperação de nove de suas empresas. Como seu foco passou, então, a ser apenas as operações em construção pesada, a companhia pode vender alguns de seus negócios e ativos para pagar suas dívidas.
  • 9. Alumini

    9 /10(Agência Petrobras)

    Em janeiro, a Alumini Engenharia (antiga Alusa) teve seu pedido de recuperação aceito pela Justiça. A empresa vinha tendo dificuldades para deixar as contas em dia desde que foi citada na Operação da Lava Jato, em novembro. Em dezembro, descumpriu decisão da Justiça do Trabalho de Permambuco para pagar R$ 96 milhões em salários atrasados de 4,8 mil trabalhadores que atuaram na Refinaria Abreu e Lima, principal obra investigada na operação.
  • 10. Veja também:

    10 /10(AFP/Getty Images)

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