Repórter de Negócios
Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 10h29.
Luiz Calainho é um verdadeiro showman — mesmo quando não está no palco.
Empresário, produtor cultural e ex-jurado do programa de calouros Ídolos, ele construiu uma carreira que mistura visibilidade, influência e uma habilidade rara: transformar arte em negócio.
À frente da L21 Corp — holding que completa 25 anos em 2025 — Calainho comanda um ecossistema de 17 empresas que reúnem teatro musical, rádio, gravadora, portais de conteúdo, festivais e experiências ao vivo.
Juntas, essas frentes movimentam cerca de 280 milhões de reais por ano e alcançam 48 milhões de pessoas — entre espectadores, ouvintes, leitores e participantes de projetos com marcas.
Com faturamento recorde e expansão para novos mercados, a L21 prepara agora movimentos estratégicos para seguir crescendo: neste ano, lançou um novo teatro em São Paulo com naming rights do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME) — no espaço que abrigava o antigo Teatro Alfa, na zona sul da cidade e acaba de abrir o Teatro Youtube no novo complexo da Magazine Luiza na Avenida Paulista.
Também começa a apresentar espetáculos da Companhia de Ballet Dalal Achcar e ensaia a exportação do seu modelo de negócio para regiões como Londres e Miami.
Muito antes dos prêmios, dos palcos lotados e dos contratos com multinacionais, Luiz Calainho era apenas um menino curioso na zona sul do Rio.
Filho de um piloto da SwissAir e de uma psicóloga apaixonada por cinema e teatro, cresceu entre livros, discos e viagens internacionais. “A arte sempre esteve presente, mas o que me formou foi o repertório. Viajei desde cedo, vi o mundo ainda muito jovem, e isso moldou minha visão”, afirma.
Na virada dos anos 1970, uma coincidência geográfica e afetiva ampliou ainda mais esse repertório: Calainho passou a frequentar a casa de Roberto Menescal, um dos nomes centrais da bossa nova. O motivo era simples: estudava com o filho do músico.
A consequência foi duradoura. “Ele se tornou uma figura paterna. Eu tinha 10, 11 anos, e todas as sextas-feiras a gente ouvia os lançamentos que chegavam das gravadoras — 30, 40 discos por semana. Era um mergulho semanal no que havia de melhor na música brasileira”, diz.
Nessa época, montou sua primeira equipe de som para festas escolares. A dupla de trabalho era o filho do Menescal. O empresário? O próprio Menescal.
“Ele cuidava do repertório, das datas, do transporte. Era um aprendizado informal, mas de altíssimo nível. Eu só fui perceber isso anos depois.”
Aos 12 anos, já produzia peças de teatro com amigos em Petrópolis. “A gente montava espetáculos no porão da casa. Vendíamos ingressos para os pais e amigos. Era improvisado, mas havia método. O que era diversão também já tinha gestão.”
Depois de se formar em Comunicação na PUC-Rio, passou pela agência Ogilvy e, em seguida, pela Brahma.
Em 1990, recusou uma proposta milionária de trabalho para assumir o marketing da Sony Music. Aos 27 anos, virou vice-presidente da gravadora.
Em uma década, lançou ou participou da trajetória de artistas como Daniela Mercury, Skank, Zezé Di Camargo & Luciano, Planet Hemp, Shakira e Mariah Carey.
“Foram 11 anos intensos, de shows em todos os continentes, negociações complexas e contato direto com o que havia de mais sofisticado na indústria fonográfica.”
Em 2000, decidiu fundar a L21. O primeiro projeto foi o portal Vírgula. A partir dali, os negócios se multiplicaram — com o mesmo princípio: unir cultura e inteligência de negócios em projetos financeiramente sustentáveis.
Nos bastidores, Calainho mantém uma rotina rígida.
Dorme entre 21h30 e 22h, acorda às 6h, lê, medita, toma banho frio e bebe água. “É o que eu chamo de orgulho da forma como você cuida de si mesmo", diz. "Sem energia, não se lidera nada.”
Além da disciplina pessoal, a estrutura societária é outro pilar. Hoje, a L21 tem 22 sócios. “Sociedade, para mim, é absolutamente fundamental. Cérebros diversos pensam melhor do que um. O segredo é sintonia fina: alinhamento de valores e diversidade de visões.”
A tecnologia também tem papel central. O empresário mantém os dias divididos em blocos — rádio, gravadora, teatro — mas deixa espaço para o improviso criativo. “Eu começo a pensar numa ideia para o musical e, logo em seguida, penso num novo programa para a Paradiso. As ideias surgem nos lugares mais improváveis, e a tecnologia permite que eu execute com velocidade.”
A L21 se apresenta como um dos principais hubs de economia criativa do país. E os números sustentam a ambição. Segundo dados do Governo Federal, o setor movimenta 230 bilhões de reais por ano e emprega 7,8 milhões de pessoas no Brasil. Calainho acredita que o país vive seu melhor momento. “Hoje o Brasil é ponta de lança na economia criativa. Em volume, profissionalismo e relação com marcas, temos uma liderança global que pouca gente conhece.”