Fernando Boscolo, CEO da Privalia no Brasil: "Conhecemos bem o perfil dos clientes, agora o desafio é oferecer mais coisas para ampliar a recorrência de vendas" (Leandro Fonseca/Exame)
Leo Branco
Publicado em 25 de maio de 2022 às 09h10.
Última atualização em 26 de maio de 2022 às 15h03.
Um dos principais outlets online de marcas de luxo no Brasil, a Privalia prepara-se para entrar no mercado de turismo, um setor baqueado pela pandemia e à espera de novos modelos de negócios para a retomada.
O projeto da Privalia é vender diárias com desconto em períodos de ociosidade alta — fins de semana em hotéis dedicados ao turismo de negócios ou dias de semana na baixa temporada em resorts, por exemplo. O novo negócio no setor de viagens deve entrar no ar até o segundo semestre.
O principal ativo da Privalia está no público de 17 milhões de pessoas com compras recorrentes na plataforma do e-commerce só no Brasil.
É um dos principais mercados para a francesa veepee, holding de comércio eletrônico dona da Privalia e com negócios semelhantes em outros 12 países da Europa.
Por dia, o site da Privalia no Brasil recebe 500.000 visitas. Cada cliente faz, em média, quatro compras na plataforma.
"Conhecemos bem o perfil dos clientes, agora o desafio é oferecer mais coisas para ampliar a recorrência de vendas", diz Fernando Boscolo, CEO da operação da Privalia no Brasil.
Atualmente, a Privalia vende produtos em dez categorias. O carro-chefe está nas flash sales — descontos agressivos, entre 50% a 80%, e com prazo de validade de poucos dias — em itens como roupas e acessórios prestes a sair de linha em marcas de luxo, como a italiana Ferragamo, ou acessíveis, como a brasileira Hering.
Na pandemia, o mix mudou bastante por ali. "As categorias food and beverages e home decor explodiram de vendas", diz Boscolo, destacando o fato de a Privalia ter ingressado com mais peso nesses setores no meio da quarentena e como resposta às mudanças vertiginosas nas demandas de consumo por causa do isolamento social. "Agora, categorias tradicionais como moda e calçados estão retomando o ímpeto."
Em outra frente, a Privalia aposta numa presença física para ampliar o canhão de vendas. Desde 2019, a empresa vem abrindo lojas temporárias — pop-up stores, no jargão do setor.
Chamado de Casa Privalia, o modelo chegou à terceira edição neste mês. Em seis dias, 10.000 pessoas compareceram a um espaço de eventos na zona oeste da capital paulista para ver ofertas de mais de 500 marcas. No período, 53.000 itens foram vendidos, um recorde.
No segundo semestre, o plano é abrir mais uma Casa desse tipo em Belo Horizonte, diz Boscolo.
As apostas vêm num momento de demanda em alta por descontos. A inflação rodando nos dois dígitos empurrou consumidores de classes abastadas para todo tipo de varejista capaz de entregar produtos com preços mais baixos — vide o sucesso de atacarejos dedicados a uma experiência mais premium, como é o caso do Assaí.
A inflação é, hoje, uma das principais dores de cabeça de Boscolo, que tem mantido uma força-tarefa na Privalia para controlar a pressão de custos “na unha”, diz ele. Para isso, a empresa tem investido em compras em volumes maiores junto a fornecedores, na tentativa de formar um estoque à prova do vaivém dos custos.
Por outro lado, a pressão dos preços tem trazido novos clientes. “As pessoas querem a Privalia para poder manter o poder de compra em marcas de luxo”, diz.
Em 2021, a Privalia teve receita líquida de 966 milhões de reais no Brasil, alta de 4,4% na comparação com o ano anterior. Nos últimos cinco anos, a receita líquida da companhia praticamente dobrou no Brasil.
Em 2020, a varejista online cogitou a abertura de capital da operação no Brasil, uma operação abortada em março de 2021.
Até encontrar uma janela, a aposta por ali seguirá a de expansão com recursos próprios, como a idealizada agora para o setor de viagens.
"Nossa estratégia não mudou. Continuamos parceiros de 1.500 marcas em dez categorias e estamos expandindo esses números", diz.
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