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Presidente da Disney conta por que não comprou o Twitter em 2016

"Eles têm a capacidade de fazer muito bem em nosso mundo. Mas também têm a capacidade de fazer muito mal", disse Iger sobre o Twitter

Bob Iger, presidente da Disney: aos 68 anos, seu próximo grande desafio será emplacar o serviço de streaming Disney+ (Qilai Shen/Bloomberg)

Bob Iger, presidente da Disney: aos 68 anos, seu próximo grande desafio será emplacar o serviço de streaming Disney+ (Qilai Shen/Bloomberg)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 23 de setembro de 2019 às 13h49.

Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h19.

E se o Twitter fosse parte da Disney? A perspectiva pode soar estranha, mas, há cerca de três anos, a Disney de fato esteve perto de comprar a rede social de microposts. O negócio não aconteceu no último minuto, por desistência da Disney.

Em entrevista ao jornal americano The New York Times publicada no domingo 22, o presidente da Disney, Bob Iger, explicou que o assédio e o bullying na rede social foram o motivo pelo qual desistiu da aquisição. Iger é presidente da Disney desde 2005, e presidente do conselho de administração desde 2000.

Iger falou ao The New York Times para o lançamento de seu livro "The Ride of a Lifetime: Lessons Learned from 15 Years as CEO of the Walt Disney Company" (algo como "A corrida de uma vida: lições aprendidas após 15 anos como CEO da Walt Disney Company").

O plano da Disney era usar o Twitter para distribuir seu conteúdo para os usuários de formas diferentes. Iger conta em seu livro que acreditava que a aquisição poderia ajudar a Disney a modernizar sua distribuição -- pouco antes de as empresas de entretenimento aprofundarem a discussão sobre tecnologias como o streaming, em que a Disney vai entrar definitivamente ao lançar sua plataforma Disney+ em novembro deste ano.

"Os problemas eram maiores do que o que eu queria assumir, do que o que eu pensava que era responsável assumir", disse Iger ao The New York Times.

Iger afirma que a "maldade é extraordinária" no Twitter, se referindo aos casos de assédio e xingamentos na plataforma. "Eu gosto de olhar a minha timeline do Twitter porque quero seguir 15, 20 assuntos diferentes. De repente você se vira e olha para as notificações e se vê imediatamente dizendo, porque estou fazendo isso? Por que eu aguento essa dor?", conta Iger. "Como muitas dessas plataformas, eles [o Twitter] têm a capacidade de fazer muito bem em nosso mundo. Mas também têm a capacidade de fazer muito mal", disse.

As discussões sobre os chamados "trolls" -- usuários com comportamentos agressivos, como racismo ou outros tipos de preconceito -- já eram um problema no Twitter muito antes que o mundo passasse a questionar com mais força esse tipo de comportamento em outras redes. Em 2016, além da Disney, outra empresa, a Salesforce, também desistiu de comprar o Twitter alegando o mesmo motivo.

A saúde mental dos usuários virou prioridade no Twitter nos últimos anos. Entre as ações para “melhorar a saúde da conversa no Twitter”, a empresa reescreveu as políticas de uso com linguagem mais clara e incluiu regras para conteúdos relacionados a eleições, spam e discurso de ódio, “expandindo a proteção contra linguagem desumanizadora”.

Atualmente, além do assédio, redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram enfrentam desafios como inibir o compartilhamento de notícias falsas e os questionamentos diante do compartilhamento de dados privados dos usuários. No segundo trimestre de 2019, último com resultados divulgados, o Twitter ressaltou com orgulho em sua carta aos acionistas que o número de reclamações por atividade de spam ou comportamentos suspeitos na rede social caiu 18%. No ano passado, o Twitter diz ter removido 6.000 posts que disseminavam conteúdo falso ou desinformação sobre as eleições legislativas dos Estados Unidos.

O Twitter não divulga mais sua base de usuários completa, mas a eMarketer estima que, até o fim de 2019, a rede social terá 283,1 milhões de usuários ativos, alta de 3,5% na comparação com o ano passado.

O Twitter acabou não sendo comprado, mas em sua mais de uma década à frente da Disney, Iger fechou outros negócios bilionários. Foi sob seu comando que a empresa do Mickey comprou a Pixar, em 2006, por 7,4 bilhões de dólares, a Marvel, em 2009, por 4 bilhões de dólares, a Lucasfilm, em 2012, por 4,06 bilhões de dólares, e a 21st Century Fox, por 71,3 bilhões de dólares.

Sua gestão também foi marcada por uma grande internacionalização da Disney, com abertura de parques na Ásia, como em Hong Kong e Shanghai, na China, que são inclusive maiores que os parques da empresa nos Estados Unidos. Em pouco mais de 13 anos, o valor de mercado da Disney sob gestão de Iger passou de 48,4 bilhões de dólares para 328,7 bilhões de dólares.

Aos 68 anos, talvez seu último desafio à frente da empresa será emplacar o serviço de streaming Disney+. A plataforma tem data de lançamento marcada para 12 de novembro, e vai colocar em seu canal próprio títulos da companhia que outrora estavam em rivais, como a Netflix. Com décadas de conteúdo na bagagem e um serviço que será ainda mais barato que a Netflix e outras concorrentes, a Disney pode sair na frente em meio ao que se tornou uma "guerra do streaming", com nomes como Time Warner e HBO (com o HBOMax) e Apple (com o Apple TV+) também lançando serviços do tipo.

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