Postos Ale temem compra pelo Grupo Ultra e podem deixar bandeira
Empresários que têm postos da Ale ameaçam deixar bandeira devido aos riscos da compra da rede pelo grupo Ultra
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de janeiro de 2017 às 14h19.
São Paulo - O Grupo Ultra, detentor da rede de postos de combustíveis Ipiranga, corre o risco de perder pontos da revenda da Alesat , quarta maior distribuidora do País, cuja aquisição em 2016 ainda está pendente de aprovação pelo Cade.
O ato de concentração foi declarado complexo pela autarquia no mês passado, o que significa que o desfecho do processo pode demorar mais para acontecer.
Na análise, o Cade tem ouvido donos de postos de bandeiras diversas, concorrentes e empresas que são grandes consumidoras de combustíveis.
Entre os mais resistentes ao negócio estão os empresários que possuem postos da bandeira Ale e ameaçam abandonar o grupo após o fim do contrato.
Eles enxergam na ainda concorrente Ipiranga uma companhia que toma decisões de forma arbitrária, inclusive referentes a preços, e impõe contratos frequentemente desfavoráveis à revenda.
"Para a Ipiranga conseguir manter a revenda Ale, conforme os vencimentos de contratos firmados com os postos, vai ter que oferecer boas condições e praticar preços menores. Pelo que sei, os revendedores Ale não estariam dispostos a aceitar pagar os preços da Ipiranga", disse um empresário que tem um posto da bandeira Ale e outro da Ipiranga.
Outro revendedor da Alesat avalia que a aquisição pelo Grupo Ultra, se for concretizada, será extremamente nociva aos interesses do revendedor e pode afetar também os consumidores.
"Os postos embandeirados ficarão reféns das três (as três maiores empresas do setor - BR, Ipiranga e Shell, que pertence à Raízen), que ditarão as regras do mercado no que se refere a preços e condições", afirma. "Temos atualmente a Ale como principal alternativa para mudar de bandeira e ainda ostentar uma marca."
Esse empresário esteve em contato com o conselho de revendedores da Ale, que conta com donos de postos espalhados por todo o País, e concluiu que a aquisição não será bem-vinda pela revenda.
"Enquanto a relação entre revendedores com a Alesat é espetacular, o relacionamento da Ipiranga com a sua revenda é, em alguns casos, ruim", relata.
Em sua avaliação, a Ale se diferencia pelo bom relacionamento com a revenda, uma vez que tomadores de decisão da empresa são acessíveis no dia-a-dia, e pelos preços.
"A depender do contrato, a Ipiranga tem um custo elevadíssimo para o revendedor", diz. Uma saída para o impasse seria o Grupo Ultra garantir aos fornecedores a possibilidade de deixar a bandeira Ale sem penalidades, disse este revendedor. "É algo que depende do contrato", explica.
O advogado Arthur Villamil, do escritório Neves & Villamil Advogados Associados e que representa a Fecombustíveis, entidade que reúne mais de 40 mil postos de todas as bandeiras e também aqueles sem bandeira, diz que a federação não se opõe à concretização do negócio, mas acredita que alguns remédios devem ser adotados pelo Cade em prol da livre concorrência.
"A Ale é uma empresa jovem do segmento e tem as propostas de ser mais próxima do revendedor e oferecer modelos de contratação flexíveis. Isso significa multas menores para ruptura de contratos e contratos mais abertos, na comparação com os de BR, Shell e Ipiranga", explica Villamil.
Diferenças
Um dos pontos centrais da questão é que o modelo de negócio da rede Ipiranga é bastante diferente do da Ale.
Enquanto a primeira se esforça para oferecer postos completos, que além de combustíveis garante serviços de troca de óleo e conveniência, o que pode embutir custos maiores ao revendedor, a segunda chegou a ser classificada como uma espécie de empresa maverick, em estudo da LCA Consultores realizado a pedido da Fecombustíveis, que representa mais de quarenta mil postos de todas as bandeiras e também aqueles sem bandeira.
As empresas maverick têm como características o baixo custo de produção ou práticas e condutas que as diferenciam dos demais concorrentes no segmento em que atuam, afetando companhias com maior participação de mercado.
O parecer diz que, com base em dados analisados, a Ale tem características de maverick, quando se considera a atuação diferenciada junto aos revendedores de menor porte, no que se refere à política de precificação; ao compartilhamento de bases; à rede de serviços complementares; à flexibilidade de contratação e à atuação junto a postos de bandeira branca, explica Villamil, o advogado da Fecombustíveis.