JBS: A Operação Bullish, da Polícia Federal, apura provas que corroborem conexões entre a JBS, o BNDES e o ex-ministro Antonio Palocci (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de maio de 2017 às 09h56.
Última atualização em 13 de maio de 2017 às 18h52.
Brasília e São Paulo - A Operação Bullish, da Polícia Federal, realizada ontem, teve como um dos objetivos buscar provas que corroborem conexões entre a JBS, o BNDES e o ex-ministro Antonio Palocci, segundo apurou o "Estado". A PF suspeita que o ex-ministro tenha sido um dos mentores e organizador, por meio de sua empresa de consultoria, da transformação da JBS na maior empresa de carnes do mundo.
Nas perguntas feitas a alguns dos integrantes do BNDES levados a depor, a PF se concentrou na participação de Palocci no banco e na JBS. A investida da PF levou o ex-ministro da Fazenda a contratar, ontem mesmo, o advogado Adriano Bretas, especialista em delações, para tentar fechar um acordo com o Ministério Público. Teria, com isso, começado uma espécie de corrida com o empresário Joesley Batista.
O Estado apurou que Joesley, sócio da JBS, está em contato com um advogado especialista no assunto, Luciano Feldens, que assessorou Marcelo Odebrecht em sua delação. A assessoria da JBS, no entanto, nega qualquer mobilização nesse sentido. A imagem da empresa tem sido arranhada por sucessivas investigações. A Bullish foi a quarta operação da PF envolvendo o grupo J&F, holding controladora da JBS, em menos de um ano. Ontem, as ações da JBS fecharam em queda de 2,92%.
Do lado dos investigadores, em especial da 1.ª Instância em Brasília, a movimentação do empresário causa receio. Qualquer negociação só será possível se começar pelo detalhamento da relação entre Joesley e suas empresas com o operador financeiro Lúcio Funaro, elo com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Segundo o Estado apurou, os investigadores acreditam que Cunha foi uma espécie de substituto de Palocci para o grupo continuar tendo facilidade em empréstimos com bancos públicos.
Depoimentos
Na operação de ontem foram cumpridos 37 mandados de condução coercitiva e 20 mandados de busca e apreensão. Do total, 47 mandados envolviam técnicos, executivos ou ex-executivos do BNDES. Alguns nunca haviam acompanhado negócios para a JBS e responderam a perguntas sobre outras empresas investigadas em operações ligadas à Lava Jato.
Entre os que tinham trabalhado em operações da JBS, parte das perguntas dos investigadores tratou exclusivamente sobre Palocci e suas possíveis relações com a JBS e o BNDES. Trechos dos depoimentos foram narrados para os colegas da instituição quando todos se reuniram num ato de solidariedade no auditório da sede, no Rio de Janeiro (leia mais abaixo).
Internacionalização. A investigação da PF vai mostrar que uma empresa de consultoria de Palocci, a Projetos, foi contratada pela JBS em 1.º de julho de 2009, pelo prazo de 180 dias, para atuar na internacionalização das operações do grupo frigorífico. Caberia a ela fazer a avaliação de ativos e de passivos da empresa-alvo, assessorar nas negociações e fixar valores de honorários.
Chamou atenção dos investigadores o fato de, justamente quando a empresa de Palocci entrou em cena, a JBS tenha fechado dois negócios cruciais para transformá-la na maior empresa de carnes do mundo - com apoio financeiro do BNDESPar. Palocci entrou em julho. No dia 16 de setembro daquele mesmo ano, a empresa anunciou a fusão com a brasileira Bertin e a compra da americana Pilgrim' por US$ 2,8 bilhões.
Segundo fontes próximas do grupo, o contato com Palocci foi herdado da família dona do grupo Bertin. O sócio Natalino Bertin é que teria feito as apresentações, quando Palocci ainda era ministro da Fazenda. Natalino também foi alvo da operação de ontem. A Justiça determinou busca e apreensão de documentos em sua residência.
O empresário Joesley Batista sempre teve um perfil arrojado em seus negócios, mas foi após o início desse convívio com Antônio Palocci que a JBS acelerou a expansão. Eram vistos juntos frequentando lugares públicos. Fontes próximas a ambos dizem que o ex-ministro chegou a visitar a ilha de Joesley, em Angra dos Reis, e era frequentador assíduo de sua residência.
Alvo
Para a família Batista, o sinal vermelho teria acendido quando a PF realizou a segunda fase da operação Greenfield, que investiga irregularidades em investimentos de fundos de pensão estatais, e prendeu o empresário Mario Celso Lopes, ex-sócio dos Batista na Eldorado Celulose. Os empresários, segundo o Estado apurou, teriam então procurado o criminalista Luciano Feldens. O advogado não foi encontrado para comentar.
Ex-procurador da República, Feldens é apontado pelos integrantes da Lava Jato como negociador preparado. O advogado teria conseguido "desatar nós" ao longo da delação de Marcelo Odebrecht. O jurídico da empresa também já teria iniciado as primeiras sondagens com o Ministério Público Federal.