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Petrobras se volta ao mercado local de títulos por Lava Jato

Sem poder tomar empréstimos no mercado internacional devido a Operação Lava Jato, a estatal recruta o governo para vender títulos de dívida no mercado local


	Sede da Petrobras: custos da dívida da Petrobras no exterior estão aumentando
 (Sergio Moraes/Reuters)

Sede da Petrobras: custos da dívida da Petrobras no exterior estão aumentando (Sergio Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2014 às 19h49.

Nova York - Impossibilitada de tomar empréstimos no mercado internacional devido à investigação sobre corrupção e lavagem de dinheiro, a Petrobras está recrutando o governo para realizar uma venda de títulos de dívida no mercado local.

A empresa petroleira planeja vender dívida lastreada pelo Tesouro e pela também estatal Centrais Elétricas Brasileiras SA antes do fim do ano, disse ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A transação será garantida pelo montante que a Eletrobras deve à Petrobras pela compra de combustível para suas usinas de energia. O Tesouro e a Eletrobras devem um total combinado de R$ 9 bilhões (US$ 3,4 bilhões) à Petrobras, disse Lobão.

Os custos da dívida da Petrobras no exterior estão aumentando devido à ampliação da investigação sobre construtoras que teriam formado um cartel para ganhar contratos, incluindo R$ 59 bilhões em acordos com a produtora de petróleo. Os yields de suas notas tidas como referência no mercado deram um salto de 1,1 ponto porcentual no último mês, três vezes a média dos mercados emergentes.

A investigação está impedindo a Petrobras, que precisa financiar o maior plano de investimento em petróleo do mundo, de divulgar resultados financeiros auditados, o que o Banco do Brasil SA disse que pode ser necessário para atrair compradores de bonds no exterior.

“Uma emissão de bonds no exterior seria impossível para eles agora”, disse Marcelo Barbosa Lima, gerente comercial de renda fixa na corretora INTL FCStone Securities em Miami, por telefone. “É melhor recorrer ao mercado local, se eles acreditam que existe uma janela aberta para isso, do que esperar que o mercado externo reabra para eles”.

Maior emissor

A Petrobras tem dito que é vítima na investigação. A assessoria de imprensa da companhia não respondeu a um e-mail em busca de comentário sobre a venda de bonds e a capacidade da empresa petroleira de vender dívidas no exterior.

A Eletrobras informou em um comunicado ao mercado hoje que o conselho da empresa aprovou um acordo de repactuação de dívida com a Petrobras de R$ 8.5 bilhões, e que a dívida com a petroleira será paga em 120 meses a partir de fevereiro de 2015

A Petrobras, que tem sede no Rio de Janeiro, tem insistido em receber o pagamento do dinheiro que lhe é devido pela Eletrobras e pelo Tesouro, disse Lobão. A empresa “encontrará uma forma” de vender os títulos, de acordo com o ministro.

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse no dia 17 de novembro que a empresa poderia financiar operações por pelo menos seis meses sem ter que emitir dívidas. A produtora de petróleo, a maior emissora de bonds no exterior entre os países emergentes desde 2011, disse em fevereiro que planejava adicionar uma média de US$ 12,1 bilhões em dívidas ao ano entre 2014 e 2018.

A Petrobras vendeu US$ 13,6 bilhões em bonds no exterior neste ano, maior total desde 2006 pelo menos, para ajudar a financiar seu plano de investimento de cinco anos de US$ 220 bilhões.

"Precisam de dinheiro"

Em 6,44 por cento, os yields dos US$ 3,5 bilhões de notas com vencimento em 2023 da Petrobras são os mais altos desde que a empresa emitiu a dívida, em maio de 2013. Isso empurrou seus custos de financiamento para um recorde em relação ao governo federal.

“Eles precisam de dinheiro constantemente”, disse Fábio Oliveira, diretor de investimentos da GPS Investimentos Financeiros, que gerencia US$ 6,8 bilhões, de São Paulo. “O apoio do Tesouro é claramente uma tentativa do governo de baixar os custos”.

O Ministério Público acusou mais de 30 pessoas de corrupção e lavagem de dinheiro na investigação da Petrobras, conhecida como Lava Jato, disseram promotores, entre eles Deltan Dallagnol, ontem em Curitiba em uma coletiva de imprensa televisionada.

O caso está longe do fim, disse o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na coletiva.

“Eu não acho que as condições vão mudar em seis meses”, disse Carlos Legaspy, gestor que ajuda a supervisionar US$ 350 milhões em títulos de mercados emergentes, incluindo bonds da Petrobras, na InSight Securities, com sede em Riverwoods, Illinois, EUA, por telefone. “Isso levará mais tempo para ser resolvido. Por isso, se o mercado local está aberto, aproveite a oportunidade”.

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