Negócios

Petrobras adia por 60 dias emissão de R$ 3 bi em debêntures

A decisão, um dia após a estatal rever os planos de abertura de capital da BR Distribuidora, atesta sua dificuldade para conseguir financiamento


	Petrobras: a decisão, um dia após a estatal rever os planos de abertura de capital da BR Distribuidora, atesta sua dificuldade para conseguir financiamento
 (Dado Galdieri/Bloomberg)

Petrobras: a decisão, um dia após a estatal rever os planos de abertura de capital da BR Distribuidora, atesta sua dificuldade para conseguir financiamento (Dado Galdieri/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2015 às 07h37.

São Paulo e Rio - Com pouca demanda e sob risco de não conseguir arrecadar o montante necessário, a Petrobras adiou por 60 dias a emissão de R$ 3 bilhões em debêntures.

A decisão, um dia após a estatal rever os planos de abertura de capital da BR Distribuidora, atesta sua dificuldade para conseguir financiamento.

Os investidores, principalmente aqueles ligados a grandes fundos e bancos, consideraram as condições pouco atrativas diante da desconfiança com a capacidade de a estatal arcar com as altas dívidas.

As desconfianças com as "fracas" garantias de crédito e a "vulnerabilidade" da companhia frente os preços internacionais, levaram a agência Fitch a colocar a nota da estatal em perspectiva negativa.

Na avaliação da agência, a Petrobras ainda segue com grau de investimento, com nota BBB-, o último nível antes do grau especulativo. A percepção da agência é que, apesar da "importância estratégica" e liderança no mercado doméstico, a estatal está fragilizada com a ingerência política, o endividamento e a variação de preços internacionais.

Nesta quinta-feira, 15, a cotação do óleo Brent voltou a ficar abaixo de US$ 50. As ações da estatal oscilaram ao longo do dia, mas fecharam com alta média de 1%.

"As métricas de crédito da Petrobras devem permanecer fracas ao longo dos próximos dois ou três anos, devido a seus altos níveis de endividamento e aos preços globais deprimidos do petróleo", diz a Fitch.

A agência estima uma redução de 16% na geração de caixa em função da depreciação cambial, e considera "insustentável" a defasagem de preços de combustíveis em relação ao mercado externo. A nota da estatal também é pressionada pela crise brasileira. "A perspectiva negativa reflete o rating soberano."

A pouca credibilidade sobre o endividamento da companhia também pesou para os investidores, que não demonstraram interesse em novos títulos da Petrobras.

Fontes próximas à operação de emissão de debêntures avalia que a demanda teria ficado próximo a R$ 2 bilhões. A estatal queria levantar R$ 3 bilhões, que seriam usados para obras do Comperj e para a produção de campos do pré-sal e da Cessão Onerosa.

A percepção é que o retorno proposto pela estatal estava aquém do risco oferecido pelos títulos, e seria menor que os bônus de dívida emitidos no exterior.

O cenário adverso do mercado de capitais foi a justificativa da estatal para o adiamento da emissão por 60 dias. Para mudar as condições da oferta, consideradas pouco atrativas, a estatal teria que esperar a apresentação do balanço trimestral e aprovar as novas condições no conselho de administração, conforme regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Pelo cronograma original, as reservas de títulos seriam realizadas a partir desta sexta-feira, 16. "Se a oferta for retomada, será aberto novo prazo para apresentação dos pedidos", informou a companhia.

O mercado brasileiro de ações está muito ruim, as ações perderam muito valor inclusive as da Petrobras. Com o quadro atual, os investidores pedem juros astronômicos, e a emissão de debêntures deixa de ser interessante.

Com a divida muito cara que a Petrobras já tem, ela precisa levantar dinheiro no mais baixo custo possível", avalia o consultor John Forman, também ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP). "Ao invés de resolver um problema, ela criaria outro", pontua.

Com a alternativa de buscar novas dívidas limitada, e com crescente necessidade de caixa para fazer frente aos compromissos com vencimento no curto prazo e seu alto plano de investimento, a opção encontrada pela companhia foi buscar sócios em projetos estratégicos - como anunciado na quarta-feira para a BR Distribuidora.

"As condições de financiamento para a Petrobras são cada vez mais difíceis. A formação de parceria é opção mais segura", avalia Flávio Conde, da consultoria WhatsCall.

Conde ressalta que o negócio de distribuição de combustíveis possui rentabilidade previsível e, por isso, a estatal não teria dificuldade para encontrar interessados, tanto entre empresas do setor, quanto entre bancos ou fundos de financiamento. Fontes indicam que empresários chineses da área petroquímica estariam em negociação com a estatal.

Já Forman concorda com a atratividade do negócio, mas avalia que o cenário não será tão fácil para a Petrobras.

"O interesse também é limitado na medida em que você vai investir numa economia desaquecida. Só atrai negócios de longo prazo e para quem tem muito dinheiro. Com um parceiro estratégico, pode convencer de que o negócio é bom de fato e obter um preço melhor", avalia.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasCombustíveisCVMDebênturesEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasIndústria do petróleoMercado financeiroPetrobrasPetróleo

Mais de Negócios

Empreendedorismo feminino cresce com a digitalização no Brasil

Quanto aumentou a fortuna dos 10 homens mais ricos do mundo desde 2000?

Esta marca brasileira faturou R$ 40 milhões com produtos para fumantes

Esse bilionário limpava carpetes e ganhava 3 dólares por dia – hoje sua empresa vale US$ 2,7bi