Petrobras: 5 fatores que favorecem a empresa mesmo com 2ª onda de covid-19
Embora a apreensão acerca de um novo movimento de lockdown no mundo venha impactando o setor, a petroleira estatal tem demonstrado boas perspectivas
Juliana Estigarribia
Publicado em 29 de outubro de 2020 às 13h47.
Última atualização em 29 de outubro de 2020 às 14h00.
Embora a Petrobras tenha registrado prejuízo de 1,54 bilhão de reais no terceiro trimestre, o ambiente continua favorável para a companhia, segundo analistas ouvidos pela EXAME. Diante de uma segunda onda de contaminação de covid-19 no mundo, o fôlego financeiro da petroleira se mostra fundamental não só para sua sobrevivência mas também para garantir longevidade dos negócios no longo prazo.
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Bruno Lima, analista de renda variável da EXAME Research , explica que o prejuízo da Petrobras no terceiro trimestre foi meramente contábil, decorrente principalmente de despesas financeiras inesperadas.
"Diante do cenário adverso na indústria de petróleo, o resultado da Petrobras veio muito bom, com um desempenho operacional excelente", diz o especialista.
Na última semana, agentes do mercado acompanharam com apreensão os anúncios de lockdown na Europa e fechamentos pontuais nos Estados Unidos, diante de uma segunda onda de contaminação da covid-19. Com isso, os preços do petróleo e o valor das ações da Petrobras foram atingidos em cheio. No entanto, o mercado continua otimista com o desempenho da estatal e alguns fatores tornam a Petrobras um destaque no setor de commodities para os investidores.
1. Queda de custos
Em teleconferência com analistas nesta quinta-feira, 29, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, afirmou que a companhia registrou a maior queda de custos de produção em dez anos.
Segundo o executivo, o lifting cost — valor após extração dopetróleo, pagamento de royalty e do custo operacional — total da companhia é de cerca de 4 dólares e, na camada do pré-sal, de pouco mais de 2 dólares. Uma das únicas empresas com um custo tão competitivo no mundo é a estatal saudita Saudi Aramco.
2. Produtividade
Entre outros feitos, a Petrobras registrou a maior produção mensal em um poço na história da indústria brasileira, no campo de Búzios. "O pré-sal continua aumentando sua participação na produção total da companhia. Somente o campo de Búzios representa quase 40% da produção em águas ultraprofundas", diz Carlos Alberto Pereira de Oliveira, diretor executivo de exploração e produção da companhia.
Com o aumento exponencial da produção, o custo fixo da companhia tende a cair cada vez mais, contribuindo para a sustentabilidade do negócio no longo prazo. "Se o preço do petróleo subir apenas um pouco mais, a Petrobras vai ser ainda mais vantajosa", diz Lima.
3. Redução da dívida
Ao final do terceiro trimestre, a companhia conseguiu reduzir a dívida bruta em 11,6 bilhões de dólares. Com esse resultado, o montante total ficou em 80 bilhões de dólares no período, abaixo da meta de 87 bilhões para 2020.
Castello Branco destacou na conversa com analistas que, embora a empresa tenha revisado a política de dividendos para pagar proventos mesmo com prejuízo contábil — algo que segundo ele está previsto na Lei das SAs — a administração continuará austera. "Não vamos nos endividar para pagar dividendos", garantiu o executivo.
4. Desinvestimentos
Castello Branco reforçou que alguns dos 47 ativos da companhia à venda já estão em fase avançada de negociações, o que deve contribuir para reduzir o endividamento e, consequentemente, dar mais fôlego financeiro.
"Não controlamos o ambiente externo, o dólar e o preço do barril. O que podemos e estamos fazendo é desalavancar a companhia e reduzir custos, em um esforço diário para superar essas variáveis que não controlamos", disse o executivo.
5. Aprendizado
Durante a primeira onda de contágio da covid-19, o mercado global passou por um verdadeiro pânico, com os contratos futuros do petróleo sendo negociados no terreno negativo pela primeira vez na história.
Para o analista da EXAME Research, é possível que o mercado se comporte de maneira mais "racional" dessa vez, com menos oscilações drásticas de oferta e demanda, o que trouxe quebras significativas nas cadeias globais, que até hoje estão longe de se recuperar.
Além disso, pontua Lima, hoje o número de poços de petróleo sendo perfurados no mundo — especialmente nos Estados Unidos, onde a indústria de shale gas foi devastada — é muito menor do que no início da pandemia.
"Se olharmos para os preços dos contratos futuros de petróleo na casa dos 44 dólares para 2022, a Petrobras está muito bem posicionada. O valuation atual da companhia não é justo, deveria ser maior", diz o analista.