Maioria das empresas indianas é de gestão familiar e, muitas vezes, elas enfrentam a dificuldade não ter herdeiros para ampliar os negócios (Uriel Sinai/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de abril de 2011 às 18h45.
São Paulo – Nem sempre o que dá resultado positivo é aquilo que pode ser medido e calculado. E políticas modernas de gestão são um claro exemplo disso. É essa a conclusão tirada de um experimento feito por economistas da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e do Banco Mundial.
Por terem resultados muitas vezes difíceis de medir, as estratégias de gestão são vistas de forma cética por economistas e viciados em números, principalmente por causa de sua complexidade. Mas os estudiosos conseguiram mostrar que há, sim, efeitos positivos na maneira como a vida empresarial é padronizada.
Depois de perceberem que os países em desenvolvimento têm grandes defasagens no campo da gestão, se comparados com países da Europa ou os Estados Unidos, os estudiosos foram à Índia para ver se a melhoria no gerenciamento de algumas companhias poderia fazer alguma diferença numérica nos seus resultados.
Então, 20 grandes empresas do setor têxtil foram escolhidas aleatoriamente para receber orientação gratuita de uma grande firma de consultoria internacional. Após um mês de identificação dos problemas e outros quatro para implantação de melhores práticas usadas na Europa, Estados Unidos e Japão, as empresas foram comparadas com outro grupo similar que não recebeu a assessoria.
A diferença foi nítida. Nas companhias que mudaram sua gestão, os problemas de qualidade caíram 50%, os de inventário tiveram queda de 40%, a produtividade geral cresceu em torno de 10% e os lucros das empresas subiram cerca de 200.000 dólares, além de os donos passarem a ter mais habilidade para expandir os negócios.
Barreiras
Diante de resultados como esses, não seria óbvio que as companhias quisessem adotar uma gestão profissional para crescer ainda mais? Não necessariamente. Segundo os estudiosos, leva tempo até essas estratégias viajarem dos países desenvolvidos até aqueles que estão em desenvolvimento, incluindo os BRICs e, por isso, a defasagem ainda existe.
Além disso, no caso da Índia, a maioria das empresas não busca expandir seus horizontes por ser liderada por famílias e, ao não ter filhos homens aptos para fazer a companhia crescer, o empreendimento fica estagnado. Outro problema que as companhias indianas enfrentam é a falta de financiamento e as barreiras impostas pela alta tributação de importações.
Solução
Contra esses obstáculos, os pesquisadores sugerem três saídas, que podem valer tanto para a Índia, quanto para outros países em desenvolvimento, inclusive o Brasil. A primeira é a competição e os investimentos externos. Para eles, a existência de várias empresas em um mesmo ramo impulsiona a vontade de crescer, já que implantar melhorias na gestão significa garantir a sobrevivência dos negócios. Essa concorrência só funciona plenamente se empresas de outros países também puderem entrar no jogo, sem tributos excessivos.
Um sistema judiciário eficiente e que julgue corretamente os crimes cometidos por maus administradores também é uma ajuda para o crescimento das empresas, de acordo com os autores da pesquisa. Na Índia, boa parte do receio das famílias em empregar pessoas que não têm ligação com seus membros é a lentidão da justiça do país, que dificilmente agirá em caso de fraude. Com isso, as empresas preferem crescer pouco para continuar nas mãos dos mesmos donos.
Por fim, mais treinamentos em práticas de gestão são outra das soluções a que se pode recorrer para crescer e aumentar a produtividade das empresas. E isso não funciona apenas no setor têxtil, mas também na indústria como um todo e até no governo.