Para facilitar troca na Petrobras, Bendine pode renunciar
O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, pode renunciar ao cargo, caso se confirme a intenção do governo Temer de substituir a direção da estatal
Da Redação
Publicado em 19 de maio de 2016 às 10h12.
São Paulo - O presidente da Petrobras , Aldemir Bendine, pode renunciar ao cargo, caso se confirme a intenção do governo Michel Temer de substituir a direção da estatal.
Segundo uma fonte próxima à diretoria, seria um gesto de boa vontade de Bendine para facilitar e agilizar a troca de comando.
A intenção de Bendine sempre foi se colocar à disposição para acompanhar a transição com um eventual novo presidente da companhia, mas os trâmites na Petrobras são complexos e a renúncia começa a ser avaliada como um caminho mais tranquilo.
Dentro da estatal, no entanto, a troca do presidente é controversa.
A expectativa é que nos próximos dias seja feito o anúncio de que Bendine será substituído. O nome mais cotado tem sido o do ex-ministro Pedro Parente. Oficialmente, porém, a troca não pode ser simplesmente anunciada pelo governo, o principal acionista.
Pelas regras das companhias de capital aberto, a escolha do presidente deve ser feita pelo conselho de administração e o nome anunciado em comunicado ao mercado.
Um executivo da Petrobras lembra que esse rito foi atropelado na saída de Graça Foster da presidência, o que levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir um processo administrativo contra a estatal.
Segundo um executivo próximo ao conselho, o nome de Pedro Parente, um profissional experiente e bem-visto pelo mercado, foi bem recebido pelos conselheiros - diferentemente do nome anterior. "Inicialmente, ventilou-se que o substituto seria Moreira Franco, o que causou enorme mal-estar: ele foi governador e tem vinculação partidária, seria muito ruim para companhia ter um político na presidência, ainda mais neste momento."
A troca de comando, porém, causa controvérsias internamente. Para alguns, a mudança é precipitada, desnecessária e até arriscada.
"O governo não está considerando os riscos da alteração de comando neste momento: a Petrobras é uma empresa muito machucada, um paciente na UTI, que está tocando uma série de reformulações estratégicas. Mudar o presidente da companhia equivale a trocar o médico, que obrigatoriamente vai querer olhar toda planilha para avaliar se concorda com os medicamentos prescritos", diz um executivo.
A lista de modificações em curso na estatal é longa, lembra o executivo. Neste momento, a Petrobras negocia a venda de US$ 10 bilhões em ativos, como parte da decisão estratégica de conseguir caixa para pagar uma dívida, no curto prazo de R$ 126 bilhões, e evitar que tenha de ser socorrida pelo Tesouro.
Desafios
A estatal está se adaptando a novas regras de governança, que mudaram desde a estrutura de sistemas de tecnologia a modelos de assinatura para validação de contratos.
Também está revisando a carteira de empresas terceirizadas, voltadas à exploração de petróleo. Mantém em curso um programa de incentivo ao desligamento voluntário, que já recebeu quase 3,5 mil adesões, mas busca desligar 12 mil trabalhadores.
Na linha de frente jurídica, enfrenta quatro ações civis no mercado americano e um processo criminal, movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e do órgão que regula o mercado de capitais americano, a SEC (Securities and Exchange Commission).
"Se a Petrobras fosse uma empresa privada, não mudariam o comando num momento desses", diz um executivo da companhia.
Outro grupo, no entanto, acredita que os processos em curso foram "blindados", na definição de uma fonte próxima à estatal, e podem caminhar sozinhos, mesmo com a mudança de comando.
Um exemplo: a venda de ativos conta com acompanhamento de oito bancos, num trabalho articulado em conjunto com a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União. "O processo foi estruturado para evitar novos incidentes, uma nova Pasadena", diz a fonte numa referência ao negócio com refinaria nos Estados Unidos que deflagrou parte das investigações de corrupção na Petrobras.
A troca de comando, mesmo de caráter político, também não afetaria a imagem da estatal. "A Petrobras preenche um formulário para investidores, o F-20, informando que é controlada pelo governo e pode sofrer interferências: não é um dado novo", diz a fonte.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
São Paulo - O presidente da Petrobras , Aldemir Bendine, pode renunciar ao cargo, caso se confirme a intenção do governo Michel Temer de substituir a direção da estatal.
Segundo uma fonte próxima à diretoria, seria um gesto de boa vontade de Bendine para facilitar e agilizar a troca de comando.
A intenção de Bendine sempre foi se colocar à disposição para acompanhar a transição com um eventual novo presidente da companhia, mas os trâmites na Petrobras são complexos e a renúncia começa a ser avaliada como um caminho mais tranquilo.
Dentro da estatal, no entanto, a troca do presidente é controversa.
A expectativa é que nos próximos dias seja feito o anúncio de que Bendine será substituído. O nome mais cotado tem sido o do ex-ministro Pedro Parente. Oficialmente, porém, a troca não pode ser simplesmente anunciada pelo governo, o principal acionista.
Pelas regras das companhias de capital aberto, a escolha do presidente deve ser feita pelo conselho de administração e o nome anunciado em comunicado ao mercado.
Um executivo da Petrobras lembra que esse rito foi atropelado na saída de Graça Foster da presidência, o que levou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a abrir um processo administrativo contra a estatal.
Segundo um executivo próximo ao conselho, o nome de Pedro Parente, um profissional experiente e bem-visto pelo mercado, foi bem recebido pelos conselheiros - diferentemente do nome anterior. "Inicialmente, ventilou-se que o substituto seria Moreira Franco, o que causou enorme mal-estar: ele foi governador e tem vinculação partidária, seria muito ruim para companhia ter um político na presidência, ainda mais neste momento."
A troca de comando, porém, causa controvérsias internamente. Para alguns, a mudança é precipitada, desnecessária e até arriscada.
"O governo não está considerando os riscos da alteração de comando neste momento: a Petrobras é uma empresa muito machucada, um paciente na UTI, que está tocando uma série de reformulações estratégicas. Mudar o presidente da companhia equivale a trocar o médico, que obrigatoriamente vai querer olhar toda planilha para avaliar se concorda com os medicamentos prescritos", diz um executivo.
A lista de modificações em curso na estatal é longa, lembra o executivo. Neste momento, a Petrobras negocia a venda de US$ 10 bilhões em ativos, como parte da decisão estratégica de conseguir caixa para pagar uma dívida, no curto prazo de R$ 126 bilhões, e evitar que tenha de ser socorrida pelo Tesouro.
Desafios
A estatal está se adaptando a novas regras de governança, que mudaram desde a estrutura de sistemas de tecnologia a modelos de assinatura para validação de contratos.
Também está revisando a carteira de empresas terceirizadas, voltadas à exploração de petróleo. Mantém em curso um programa de incentivo ao desligamento voluntário, que já recebeu quase 3,5 mil adesões, mas busca desligar 12 mil trabalhadores.
Na linha de frente jurídica, enfrenta quatro ações civis no mercado americano e um processo criminal, movido pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e do órgão que regula o mercado de capitais americano, a SEC (Securities and Exchange Commission).
"Se a Petrobras fosse uma empresa privada, não mudariam o comando num momento desses", diz um executivo da companhia.
Outro grupo, no entanto, acredita que os processos em curso foram "blindados", na definição de uma fonte próxima à estatal, e podem caminhar sozinhos, mesmo com a mudança de comando.
Um exemplo: a venda de ativos conta com acompanhamento de oito bancos, num trabalho articulado em conjunto com a Controladoria Geral da União e o Tribunal de Contas da União. "O processo foi estruturado para evitar novos incidentes, uma nova Pasadena", diz a fonte numa referência ao negócio com refinaria nos Estados Unidos que deflagrou parte das investigações de corrupção na Petrobras.
A troca de comando, mesmo de caráter político, também não afetaria a imagem da estatal. "A Petrobras preenche um formulário para investidores, o F-20, informando que é controlada pelo governo e pode sofrer interferências: não é um dado novo", diz a fonte.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.