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Os negócios de Muamar Kadafi na Itália

Ditador líbio utilizou dinheiro do petróleo para investir em bancos, montadoras e até no futebol italiano

Juventus: o clube de maior torcida da Itália tem um fundo da Líbia como acionista (Getty Images)

Juventus: o clube de maior torcida da Itália tem um fundo da Líbia como acionista (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2011 às 19h44.

Milão - Do UniCredit a Finmeccanica, passando pela ENI e a Juventus de Turim, o regime de Muamar Kadafi investiu os "petrodólares" nas empresas da Itália, que obteve em troca petróleo líbio e contratos valiosos no país do norte da África.

Os laços entre os dois países foram reforçados após a assinatura, em agosto de 2008, de um acordo histórico para indenizar as consequências do colonialismo italiano (1911-1942) com cinco bilhões de dólares em 25 anos.

O chamado "pacto de amizade" incluiu um pedido de desculpas solene da Itália pelo período da colonização, que matou 100.000 pessoas de uma população de 800.000 neste país rico em petróleo.

Graças ao acordo, a Líbia, que já investia em empresas italianas e chegou a possuir 10% da Fiat, que depois cedeu, reforçou a presença em grandes grupos italianos.

Segundo o jornal econômico Il Sole 24 Ore, o valor das ações que a Líbia possui na Itália alcança 3,6 bilhões de euros (4,9 bilhões de dólares).

Um sintoma da relação estreita é a preocupação que a violência na Líbia gera, com a queda de 3,9% da Bolsa de Milão na segunda-feira.

O maior investimento da Líbia na Itália é o UniCredit. No fim de 2008, em plena crise financeira mundial, o Banco Central líbio adquiriu 4% do maior banco italiano, que passava por problemas graves.

Com a entrada da Libyan Investment Authority (LIA) ano passado, a Líbia se tornou o maior acionista do UniCredit (com 7,582%), atualmente um dos maiores bancos da Europa.

A LIA controla desde janeiro 2,01% do grupo aeronáutico e de defesa Finmeccanica, controlado pelo Estado italiano.

A Líbia tem quase 0,5% da empresa de petróleo ENI. A autoridade que controla a Bolsa não foi informada sobre a participação porque é inferior a 2%.

O governo do coronel Kadafi informou em 2008 que estava interessado em adquirir de 5 a 10% da ENI, mas o negócio não foi concretizado.

Através do Libyan Arab Foreign Investment Company, Trípoli é proprietária de 7,5% do clube de futebol Juventus de Turim, um dos maiores da Itália.

A Líbia já anunciou interesse no grupo de energia Enel e na gigante das comunicações Telecom Italia, mas nenhum acordo foi concretizado.

Em troca de tudo isso, a Itália recebe um terço do petróleo da Líbia, onde a ENI é a maior produtora estrangeira.

Muitas empresas italianas assinaram contratos de valores altos para a construção de estradas, universidades, ferrovias e hotéis, o que tem beneficiado a Itália com uma chuva de "petrodólares".

A antiga potência colonial é o maior parceiro comercial da Líbia: em 2009 a Itália ocupava o primeiro lugar no destino das exportações líbias (20%) e era, ao mesmo tempo, o principal exportador para o país do Norte da África (17,5%).

Um total de 180 empresas italianas atuam na Líbia, onde moram 1.500 italianos.

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