Os motivos que levaram a Polishop a pedir recuperação judicial com dívidas de R$ 352 milhões
Pandemia, fechamento de lojas em shoppings, falta de produtos inovadores e mudança no varejo são algumas das razões
Publicado em 18 de maio de 2024 às 09h50.
Uma das varejistas mais conhecidas dos brasileiros, muito por causa de suas famosas publicidades e propagandas dos anos 1990, a Polishop entrou com um pedido de recuperação judicial na última quarta-feira, 15. A informação foi noticiada em primeira mão pela EXAME. As dívidas da empresa do conhecido empresário João Appolinário estão na casa dos 352,1 milhões de reais.
Atualmente, a Polishop possui 49 lojas físicas abertas em shoppings centers e conta com quase 500 funcionários, além da atuação no e-commerce e canal de televendas. Nos últimos dois anos, a empresa de 25 anos fechou cerca de 70% de suas lojas.
Procurada, a empresa disse que só irá se manifestar após a homologação do pedido. Ou seja, depois que a Justiça analisar e aprovar a reestruturação.
Quais foram os motivos da crise na Polishop
No seu pedido de recuperação judicial, a Polishop elencou uma série de motivos para a crise da qual as dívidas somam 352,1 milhões de reais. Muitos deles estão atrelados à pandemia.
A pandemia acertou em cheio o varejo brasileiro e muitas companhias, como Casas Bahia, Marisa e Petz,enfrentaram turbulências. Da moda à linha branca, poucos foram os negócios que passaram imunes à escalada da Selic de 2% para 13%. "Assim como todo o varejo, a Polishop sofreu com a pandemia e o cenário macroeconômico", disse em entrevista recente à EXAME João Appolinário.
No caso da Polishop, a queda de faturamento foi na casa de 70%, devido ao fechamento de lojas físicas. A empresa não conseguiu compensar essa perda apenas com as vendas online. Apesar disso, a empresa ainda tinha que arcar com altos custos fixos. Os shoppings centers, onde praticamente todas as lojas físicas da empresa estavam localizadas, não suspenderam a cobrança de custos operacionais.
Foram fechadas quase 300 lojas físicas em shoppings centers, o que resultou em uma perda significativa de pontos de venda e receita. Além das lojas físicas, a operação de e-commerce também enfrentou dificuldades, o que agravou ainda mais a situação do caixa.
"Entre 2019 e 2022, a correção do IGP-M foi acima de 64%, minhas vendas não acompanharam essa alta. A operação em shoppings centers se tornou inviável em alguns casos, por isso fechamos lojas", disse na entrevista recente.
O aumento na taxa de juros também encareceu o crédito, o que dificultou a vida da Polishop.
Para reduzir custos, a empresa demitiu cerca de 2.000 funcionários, passando de 2.532 antes da pandemia para aproximadamente 500 empregados. A redução também impactou a operação e a capacidade de recuperação do negócio, disse a empresa no pedido de recuperação. A companhia também afirmou que o fortalecimento de marketplaces concorrentes também enfraqueceu as operações físicas.
Dificuldade para lançar produtos e negociar com credores
Conhecida pelos produtos inovadores, como a frigideira e a Airfryer que dispensam o uso de óleo nos preparos, a Polishop sofreu para lançar produtos na pandemia por conta da falta de suprimentos e desenvolvimento de novas tecnologias na China. A empresa conta com um escritório no país para desenvolver produtos inéditos e buscar por fornecedores — o que ajuda ter exclusividade aqui no Brasil.
Além disso, alguns credores começaram a promover amortizações e retenções de valores devidos, o que prejudicou ainda mais o fluxo de caixa da empresa.
Houve o ajuizamento de ações de despejo contra a Polishop, refletindo a incapacidade da empresa de cumprir com seus compromissos financeiros de forma negociada.
Em 2023, a Polishop registrou um prejuízo superior a R$ 155 milhões,
Como a Polishop quer sair da crise
Apesar da crise, a empresa trabalha para se recuperar ainda em 2024. O lançamento de novos produtos ganhou ritmo novamente — neste ano já foram 14. Entre as principais apostas dos últimos meses está a Airfryer Vision Max, a primeira com inteligência artificial (IA) do mercado brasileiro.
"Nós nunca esquecemos que o nosso principal objetivo é desenvolver produtos inovadores que proporcionam benefícios reais para o dia a dia das pessoas", diz o executivo.
A Polishop também vai abrir pela primeira vez lojas de rua, deixando de operar apenas em shoppings centers. De acordo com o executivo, a estratégia só é possível graças ao modelo de franquias. "Com o franchising vamos conseguir abrir lojas de rua, distribuir produtos de forma mais rentável e ganhar capilaridade", diz.
Entre as empresas em seu portfólio, Appolinário tem atualmente quatro empresas que estão posicionadas no mercado de franquias, entre elas a indústria de tintas Decor Colors, que conta com mais de 450 unidades franqueadas e faturou R$ 300 milhões em 2023.
Saiba mais aqui: Aporte de R$ 50 mi, franquias e lojas de rua: o plano de João Appolinário para salvar a Polishop