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Odebrecht recorre a prazo de carência e não paga dívida de R$ 500 mi

A empresa afirmou que vai usar parte dos 30 dias de carência a que teria direito para concluir negociações de novo empréstimo, de até R$ 2,5 bilhões

Odebrecht: (Mario Tama/Getty Images)

Odebrecht: (Mario Tama/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de abril de 2018 às 11h05.

Última atualização em 25 de abril de 2018 às 11h09.

A Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) anunciou nessa terça-feira, 24, que não pagará no prazo a dívida de R$ 500 milhões que vence nesta quarta-feira, 25 com credores internacionais.

A empresa afirmou, em nota, que vai usar parte dos 30 dias de carência a que teria direito antes de ser considerada inadimplente para concluir negociações de novo empréstimo com bancos, de até R$ 2,5 bilhões.

O valor seria usado para pagar a dívida e honrar outros compromissos do grupo Odebrecht - que enfrenta grave crise desde que foi envolvido na Lava Jato.

Se não conseguir chegar a um acordo dentro do período de carência, a empresa entrará oficialmente em processo de default (calote).

Na prática, isso permitiria que outros credores solicitassem a antecipação do pagamento da dívida e a Odebrecht não teria como pagar a todos - a empreiteira deve quase R$ 11 bilhões na praça.

Segundo fontes, isso a levaria a buscar uma recuperação extrajudicial (e não judicial, como vem sendo aventado pelo mercado) para não quebrar.

Há interpretações, no entanto, que apontam que essa antecipação já poderia ocorrer agora, uma vez que o contrato não prevê período de cura (os 30 dias de carência).

Uma fonte ligada à Odebrecht diz que, por causa dessa incerteza, ao não honrar o pagamento de hoje, a empreiteira assumiu grande risco.

A Odebrecht conta com a dificuldade dos detentores dessa dívida de se articularem rapidamente - os títulos estão nas mãos de diversos investidores estrangeiros.

A aposta da empreiteira é fechar o acordo com os bancos nos próximos dias. Dos cerca de R$ 2,5 bilhões, R$ 500 milhões seriam usados para pagar a dívida vencida nesta quarta, outros cerca de R$ 500 milhões para reforçar o caixa da empreiteira e o restante ficará com a holding, que tem débitos em atraso e outros a vencer até o fim do ano. As negociações estão em andamento desde o início de 2018, mas emperraram por causa das garantias.

Itaú e Bradesco, que já são credores da Odebrecht, aceitam liberar novos empréstimos, desde que tenham prioridade nas garantias - ou seja, receberiam primeiro no caso de um default da empresa.

Do outro lado, no entanto, estão instituições, como Banco do Brasil, Caixa e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que não querem abrir mão desse benefício.

Até a noite dessa terça, as negociações tinham avançado. Fontes envolvidas nas discussões afirmaram que o BNDES estava prestes a fechar o acordo. Mas o Banco do Brasil, um dos mais arredios nas tratativas, ainda impõe empecilhos à operação.

O banco estatal não aceita ceder nas garantias, mas agora sinaliza com outros tipos de flexibilização. Uma fonte que participa das conversas afirma, contudo, que o desfecho ainda é imprevisível.

A Odebrecht conta com a chegada dos recursos para pagar os credores internacionais, mas ninguém espera que o dinheiro novo chegue ao caixa do grupo antes do fim da semana que vem. Se um impasse inviabilizar o empréstimo, o mais provável hoje é que a empresa parta para um processo de recuperação extrajudicial.

Na terça-feira, após divulgar o comunicado ao mercado de que não pagaria a dívida nesta quarta, a empresa fez uma série de reuniões com as agências de classificação de risco e com o principal credor (ou bondholder, no termo em inglês), detentor de cerca de metade do vencimento de hoje.

O objetivo era tentar tranquilizar o mercado. Para convencê-los, a empresa mostrou que a disponibilidade de caixa da construtora está na casa de US$ 700 milhões e que, se nenhum acordo for fechado, a holding honrará o compromisso.

Cenário

Mas a situação é complicada, dizem fontes. Desde que foi envolvida na Operação Lava Jato, a carteira de obras da construtora despencou para menos da metade, de R$ 33 bilhões para R$ 14 bilhões. Com a reputação machucada no Brasil e no exterior e sem obras de peso no mercado interno, a empresa não tem conseguido repor o seu portfólio - responsável por 21% das receitas do grupo.

No meio da turbulência, até a reunião do conselho de administração que marcaria a saída de Emílio Odebrecht da presidência foi adiada de terça para sexta-feira. Após essa data, o conselho terá novo comando e novos conselheiros.

Fontes afirmam que Newton de Souza será o presidente e Ruy Sampaio e Sergio Foguel conselheiros pelo lado da Odebrecht. Outros nomes do mercado serão indicados como conselheiros independentes, sendo duas mulheres. O Estado apurou que uma delas será Ieda Gomes, ex-presidente da Comgás e ex-vice-presidente da BP.

Procurados, Itaú, Bradesco e BNDES não comentaram. Ieda Gomes não respondeu os pedidos de entrevista.

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