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O espumante de R$ 800 made in Brazil

Jardel Sebba Que o Brasil produz ótimos espumantes na Serra Gaúcha, você provavelmente já sabe. Mas, caso suas comemorações deste fim de ano se rendam aos rótulos nacionais, o que será uma escolha bastante acertada, quanto você toparia gastar com alguns dos melhores representantes do espumante brasileiro? O preço de um bom champagne? E o […]

CAVE GEISSE: a empresa gaúcha foi eleita, em 2015, a vinícola do ano no novo mundo  / Divulgação

CAVE GEISSE: a empresa gaúcha foi eleita, em 2015, a vinícola do ano no novo mundo / Divulgação

DR

Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2016 às 06h43.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.

Jardel Sebba

Que o Brasil produz ótimos espumantes na Serra Gaúcha, você provavelmente já sabe. Mas, caso suas comemorações deste fim de ano se rendam aos rótulos nacionais, o que será uma escolha bastante acertada, quanto você toparia gastar com alguns dos melhores representantes do espumante brasileiro? O preço de um bom champagne? E o preço de um excelente champagne, algo em torno de 800 reais a garrafa? É esse o preço do Cave Geisse Brut 2002, excepcional espumante de uma das vinícolas brasileiras mais premiadas nos últimos tempos, um rótulo que permaneceu em guarda nos últimos 14 anos, fruto de uma excelente safra e de um trabalho cuidadoso. Ou o melhor espumante brasileiro à venda neste Natal.

“Ele é um espumante muito emblemático, representa o alto nível de qualidade e complexidade que o terroir de Pinto Bandeira pode oferecer. Além de valorizar o começo de um ano, harmoniza perfeitamente com uma bela paella”, explica e sugere o produtor Daniel Geisse, responsável pelos departamentos comercial e de marketing da vinícola gaúcha.

Em anos anteriores, o Cave Geisse Brut 2002 foi posto à prova em diferentes estágios de guarda. “E vale lembrar que ele sempre surpreendeu, principalmente pelo alto grau de complexidade e por conservar excelente frescor para um espumante com tanto tempo de guarda”, conta Geisse.

Não é conversa de produtor: quem o provou não esquece. “Eu o degustei três vezes em anos distintos, e o vinho sempre mostrou uma personalidade diferenciada, com estrutura capaz de resistir e, melhor, ganhar com o tempo”, revela o editor da revista Adega e co-editor do Guia Descorchados Christian Burgos. “É um espumante complexo e, ao mesmo tempo, vibrante. Direto e, ao mesmo tempo, cheio de camadas, delicioso para degustar sozinho e também perfeitamente capaz de acompanhar grandes pratos”, completa. Para o editor, o preço não deveria assustar. “Falar de preço nos grandes vinhos é pouco efetivo. Quanto vale degustar uma das limitadas garrafas de um dos melhores espumantes que o Brasil já produziu?”

Burgos não está sozinho. “Provei ano passado e ele é muito complexo, com notas como fermento, brioche, tostados. E ainda está jovem, pode viver mais alguns anos”, conta o editor do Anuário Vinhos do Brasil e presidente do júri da Grande Prova Vinhos do Brasil Marcelo Copello, que ressalta a importância daquele ano para a produção nacional. “Vale lembrar que 2002 foi uma safra histórica, uma das melhores da história do Brasil para espumantes”, destaca. Dizer que o rótulo vale cada um dos muitos centavos que custa, além de ser um clichê, é uma tarefa arriscada, já que esse é um conceito bastante subjetivo. Mas podemos afirmar sem medo de errar que o Cave Geisse Brut 2002 é um dos melhores espumantes brasileiros que você vai ter a oportunidade de experimentar na vida.

Conhece o Mário?

Daniel Geisse tem 39 anos e divide o comando da vinícola com os irmãos Ignacio, de 35, que cuida da parte financeira, e Rodrigo, de 31, responsável pelo departamento comercial. O idealizador do projeto da vinícola e pioneiro no longo trabalho desenvolvido no terroir de Pinto Bandeira, que culminou em espumantes de excelência, como o Brut 2002, é também a razão de existir dos três diretores. Literalmente.

O chileno Mário Geisse, fundador da vinícola e pai de seus diretores, cresceu em uma região produtora de uvas para pisco, a 400 quilômetros ao norte da capital Santiago. Já era um enólogo razoavelmente experiente quando, em 1976, foi contratado para assumir a operação da Chandon no Brasil, que dava seus primeiros passos no Rio Grande do Sul. Uma vez por aqui, se surpreendeu com as descobertas que fez nas terras locais. Passou cerca de um ano buscando na vizinhança uma região alta e com grande exposição ao sol, e que também apresentasse boa capacidade de drenagem, uma vez que a chuva era uma das maiores barreiras à produção. No fim de 1978, Mário Geisse comprou 36 hectares a 800 metros de altura em Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha. Além de capital brasileira do pêssego, a cidade mostrou-se uma aposta acertada como terroir para alguns dos melhores espumantes da região.

Mas tudo era relativamente novo na produção de vinho no Brasil da segunda metade dos anos 1970, e engana-se quem pensa que foi um começo fácil. “A maior dificuldade na época foi, sem dúvida, a falta de mão de obra qualificada para desenvolver algo novo na região, que era trabalhar preocupado com a qualidade máxima das uvas”, relembra Mário

Geisse, por e-mail, do Chile. “Na época, todos os produtores ao redor estavam focados em atingir grandes volumes de produção, não qualidade. Iniciei com vinhedos de espaldeira de Chardonnay, que não existiam por aqui, e fiz tudo pessoalmente, para poder ensinar e, ao mesmo tempo, aprender a lidar com a terra e os diferenciais desta região”, completa. Depois de enfrentados todos os problemas que vieram com o pioneirismo, Mário Geisse conseguiu produzir espumantes de qualidade superior e passou a ter seu trabalho reconhecido não só na América do Sul. “A característica mais peculiar do trabalho do Mário foi ter iniciado seu projeto focando no máximo de qualidade, na produção pelo método tradicional e em longos períodos de repouso das garrafas antes da finalização para ir ao mercado”, ressalta Christian Burgos. “O Mário foi um pioneiro, praticamente descobriu o terroir de Pinto Bandeira, que hoje é a única IP (Indicação de Procedência) para espumantes do Hemisfério Sul”, sublinha Marcelo Copello. Ele viu de perto como a produção da Cave Geisse é respeitada no continente europeu. “Estive mês passado em Roma para uma prova super especial, só para dezesseis dos melhores produtores do mundo, levei uma garrafa da Cave Geisse para

dar de presente a um deles e o cara já tinha. Produtores da Rússia, da Polônia, do Reino Unido, todos já conheciam o trabalho dele.

O reconhecimento vem de todos os lados. A edição do Guia Descorchados 2016, do jornalista chileno Patricio Tapia, fez pelo segundo ano consecutivo uma eleição dos melhores espumantes brasileiros, e entre os rótulos do ano a família Geisse garantiu o segundo e o terceiro lugar (com um ponto à frente, o topo do ranking ficou com o Pizzato Vertigo Nature 2013). Em 2015, a Cave Geisse foi nomeada Vinícola do Ano do Novo Mundo pela revista norte-americana Wine Enthusiast. “Um prêmio como este, para o qual eles levam em consideração aspectos como a qualidade através dos tempos, os conceitos de sustentabilidade e as pontuações por parte dos principais críticos do mundo, seria inimaginável alguns anos atrás”, comemora Daniel Geisse.

Um brinde ao business

Vinho, além de um prazer, é um negócio sério na Serra Gaúcha, baseado em tradição e no constante investimento em estrutura. E os problemas que afetam o desenvolvimento do mercado local também são sentidos em Pinto Bandeira. Um dos principais é o excesso de

impostos cobrados do vinho nacional. “Os espumantes nacionais só conseguem superar o excesso de impostos, que incidem tanto na produção quanto na comercialização de vinhos, porque os champagnes, principais concorrentes, trabalham com um alto valor agregado”, diz Daniel Geisse, que comemora o fato de mais de 80% do consumo no país ser de rótulos nacionais.

Empresa familiar nos moldes clássicos, a Cave Geisse já sofreu assédio de investidores, mas por enquanto faz parte da estratégia de crescimento manter-se como está. “Não temos interesse em outros investidores, pois somos uma empresa sólida e com objetivos de médio e longo prazos bem estabelecidos, dentro de possibilidades que nos permitem evoluir mantendo o alto padrão de qualidade”, garante Daniel. “A vinícola reinveste todo ano cerca de R$ 9,5 milhões, e temos há algum tempo um faturamento bastante previsível, o que nos permite organizar com boa antecedência todos os nossos investimentos”, completa.

Quem ouve Daniel falando dos negócios com tal desenvoltura pode pensar que Mário deixou a empresa para os filhos e hoje vive (só) de aproveitar os bons vinhos que faz. Não é bem assim. O fundador da vinícola ainda está muito presente, e nas épocas fundamentais da produção faz questão de acompanhar de perto

todos os processos. Mário também não dispensa estar sempre atualizado a respeito das estratégias que seus meninos estão desenvolvendo em todas as áreas, mas se revela particularmente tranquilo em relação ao futuro da vinícola. “Hoje tenho tranquilidade para dizer que estamos bem preparados tecnicamente para manter os padrões de qualidade e de filosofia estabelecidos, que vão consolidar a marca no mundo do vinho”, garante, e aproveita para resumir o que espera das próximas gerações dos Geisse. “A família tem que ser capaz de passar a filosofia e a preocupação com a qualidade de uma geração à outra e, ao mesmo tempo, manter o entusiasmo e amor pelo que faz. Esta geração, hoje à frente do negócio, está muito bem encaminhada, torço para que as coisas se mantenham assim nas próximas que virão.”

Depois de tanto trabalho duro, hoje reconhecido por todos os lados, quando olha para trás, quais são os rótulos que Mário Geisse vê como os melhores que foram lançados por sua vinícola? “Eu acreditava desde o início que poderia elaborar bons espumantes, muito melhores do que aqueles que poderiam ser feitos no Chile ou na Argentina, mas só o tempo foi capaz de me mostrar o alto padrão possível a cada safra. É difícil para mim apontar especificamente a

melhor, mas dentro das linhas que oferecemos, posso destacar o Cave Geisse Terroir Nature, que se tornou uma das principais referências de qualidade de espumantes do Novo Mundo”, indica. Segundo ele, o rótulo foi motivo de orgulho ao representar solitariamente o vinho brasileiro nos guias 1001 Vinhos para se Beber Antes de Morrer e Atlas do Vinho, da respeitada escritora de vinhos Jancis Robinson. Para quem ainda eventualmente continua um pouco assustado com o preço do Brut 2002, a dica do Mário pode ser uma ótima alternativa: o Terroir Nature está à venda no site da Cave Geisse por módicos 165 reais.

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