O paradoxo da JBS: escândalos de um lado, bons resultados de outro
Maior produtora de carne bovina do mundo deve anunciar consistente melhora nos resultados um dia após a soltura de um de seus controladores
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2018 às 03h29.
Última atualização em 13 de novembro de 2018 às 17h38.
A JBS , maior produtora de carne bovina do mundo, deve divulgar hoje uma melhora nos seus resultados trimestrais. Mas a alegria dos investidores na companhia tende a ser limitada pela sombra de episódios de corrupção envolvendo seus controladores que paira sobre a JBS desde o ano passado e na semana passada voltou a incomodar.
Na sexta-feira, Joesley Batista , um dos donos da JBS e ex-presidente do conselho de administração da empresa, foi preso pela segunda vez em um desdobramento da Operação Lava-Jato da Polícia Federal. Foi solto ontem, mas a detenção funcionou, para o mercado financeiro, como um “saudável lembrete do passado da companhia e dos riscos associados à família Batista”, segundo escreveu em relatório a clientes Julie Murphy, analista do banco de investimentos americano J.P.Morgan.
Além de Joesley, seu irmão Wesley, ex-presidente executivo da JBS, e outros executivos da holding J&F assinaram acordo de delação premiada em 2017 admitindo o pagamento de propina a políticos que apoiaram seu ambicioso plano de expansão.
A confissão serviu de base para um acordo de leniência firmado pela própria J&F que está sendo renegociado com o Ministério Público Federal (MPF) depois que surgiram desconfianças de que os Batista omitiram detalhes das ilegalidades cometidas. Os eventos relacionados ao último capítulo da investigação, envolvendo um esquema de corrupção no Ministério da Agricultura entre 2014 e 2015, também parecem não ter sido incluídos nos depoimentos ao Ministério Público no ano passado.
Uma eventual renegociação dos termos dos acordos pode significar o aumento da multa de 10,3 bilhões de reais que a J&F concordou em pagar para ficar quites com a Justiça, com consequências para as finanças da JBS e de outras empresas do grupo, como a produtora de celulose Eldorado Brasil. Nos últimos quatro dias, a JBS perdeu 4,1% de valor de mercado, cotada agora em 27 bilhões de reais, enquanto o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, ficou praticamente estável.
Do lado operacional, a produtora de carne deve informar, após o fechamento do mercado hoje, um crescimento nas margens da sua operação nos EUA, levando a receita da JBS a crescer 22% no terceiro trimestre de 2018 ante igual período de 2017, para 50 bilhões de reais, conforme estimativas da corretora XP Investimentos.
O EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve ter crescido 79%, para 4,2 bilhões de reais. No segundo trimestre, a receita subiu 8,4% e o EBITDA avançou 12,8% na comparação anual. “O câmbio depreciado continuou sendo positivo para as exportações”, analistas da XP escreveram em relatório a clientes. Entre julho e setembro, o real perdeu 9,2% frente o dólar. Cerca de 78% das receitas da JBS vêm do exterior.
Se os números se confirmarem, será uma boa oportunidade para ver a reação dos investidores em relação a uma empresa que, apesar dos problemas, segue melhorando seus números de forma consistente.